Lula: caso envolvendo o sítio representa a terceira denúncia contra ex-presidente no âmbito da Operação Lava Jato (Victor Moriyama/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de maio de 2018 às 18h19.
Última atualização em 9 de maio de 2018 às 18h19.
São Paulo - O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho afirmou, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que o empresário Fernando Bittar emprestou o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2011, após o mandato, para que o petista pudesse armazenar bens do acervo presidencial após deixar o mandato.
Ele negou ter conhecimento das reformas realizadas no imóvel. Carvalho prestou depoimento como testemunha de defesa de Marcelo Odebrecht.
Carvalho afirmou que a relação entre Lula e Jaco Bittar, ex-prefeito de Campinas e pai do proprietário do sítio, era "fraterna" e de longa data, em razão da proximidade das famílias. "Não havia visita que a família fazia a Brasília que não vinha alguém da família Bittar". Ambos foram fundadores do PT.
O ex-ministro diz ter ouvido pela primeira vez falar no sítio em 2011, quando foi chamado para "rezar o terço" em uma festa junina no imóvel, quando haveria uma "homenagem a Dona Marisa (Marisa Letícia, ex-primeira dama, falecida em fevereiro de 20170)".
No dia seguinte, ele alega ter tido uma conversa com Lula. "Ele me relatou naquele momento que, no dia 15 de janeiro, ele estava no Guarujá de férias, a Marisa chamou a ele dizendo que tinha uma surpresa pra ele que era o Fernando oferecendo uma chácara para eles usarem se ele quisesse".
"Aí, ele depois de mostrar falou: 'eu to com uma dúvida, porque a Marisa gosta muito daqui e Fernando tá até disposto a vender para a gente, mas eu não sei se é o caso porque essa chácara é muito longe, eu prefiro alguma mais perto lá da Billings, que é onde tem uma pequena chácara'", afirmou.
Carvalho afirmou que, "para ele", a "chácara era do Fernando, que ofereceu" a Lula. O ex-ministro justifica que o ex-presidente precisava de um local para armazenar os bens que acumulou enquanto presidente da República.
Ele afirma ter sugerido a Lula que fizesse uma reunião com empresários, "assim como fez Fernando Henrique Cardoso, em relação ao Instituto FHC", para arrecadar recursos. No entanto, Lula teria dito que não iria "se preocupar com isso".
"A mesma preocupação tinha a Marisa, preocupação com as coisas deles, que não tinha pra onde levar. De tudo que eu sei, eles acabaram falando com o Fernando e ele emprestou aquela chácara", concluiu.
Ele negou saber de reformas tocadas pelo ex-assessor de Lula, Rogério Aurélio Pimentel. As obras são objeto de acusação do Ministério Público Federal. Para a força-tarefa da Lava Jato, elas configuram suposta propina de R$ 1 milhão da Odebrecht, OAS e Schahin ao ex-presidente.
O caso envolvendo o sítio representa a terceira denúncia contra Lula no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo a acusação, a Odebrecht, a OAS e também a empreiteira Schahin, com o pecuarista José Carlos Bumlai, gastaram R$ 1,02 milhão em obras de melhorias no sítio em troca de contratos com a Petrobras. A denúncia inclui ao todo 13 acusados, entre eles executivos da empreiteira e aliados do ex-presidente, até seu compadre, o advogado Roberto Teixeira.
O imóvel foi comprado no final de 2010, quando Lula deixava a Presidência, e está registrado em nome de dois sócios dos filhos do ex-presidente, Fernando Bittar - filho do amigo e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar - e Jonas Suassuna. A Lava Jato sustenta que o sítio é de Lula, que nega.