Itamaraty: o diplomata Rubens Barbosa considerou que o órgão está marginalizado (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2014 às 17h06.
Ribeirão Preto - O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, afirmou, nesta terça-feira, 30, que a política externa brasileira foi marcada pela "partidarização" e pelo "interesse ideológico" nos últimos anos e citou o Mercosul como um exemplo de equívoco do governo da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT).
"O Mercosul se tornou um fórum de política social e não comercial; está paralisado, com os membros que não respeitam o tratado e cujos produtos brasileiros têm comércio restrito", disse ele em teleconferência da GO Associados sobre os desafios e as expectativas da política externa brasileira, a partir do ponto de vista do candidato Aécio Neves (PSDB), do qual Barbosa é um dos colaboradores.
Segundo Barbosa, o Brasil deveria convocar os parceiros comerciais no bloco econômico para uma revisão dos pontos do acordo, e não ficar "a reboque" dos países vizinhos.
"Se não for possível avançar segundo nosso interesse, e não sobre interesses ideológicos, o Brasil precisa passar a negociar com independência" fora do bloco, disse.
"Estamos fora das correntes de comércio, há uma ausência de política até em relação aos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)", completou.
Barbosa considerou que o Itamaraty está marginalizado e cobrou que o Ministério das Relações Exteriores seja revalorizado como principal formulador da política externa brasileira.
Para o ex-embaixador, o Brasil fez poucos acordos comerciais - três nos últimos 15 anos, segundo ele -, ficou preso ao multilateralismo da Rodada Doha, que fracassou, e o comércio exterior, que crescia 25% ao ano, hoje cresce 3% ao ano apenas por conta do dinamismo do setor privado.
O diplomata, que preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Coscex/Fiesp) e é colaborador de Aécio para o programa de governo tucano no setor externo, criticou o "antiamericanismo" do governo federal e considerou que a vaga pleiteada pelo Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) fica cada vez mais difícil.
Ele citou como um novo entrave ao pedido do Brasil o discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU, semana passada, pregando o diálogo com o Estado Islâmico.
"Como o país se posiciona a favor do diálogo e contrário a uma decisão que foi tomada no Conselho de Segurança da ONU e ainda quer uma vaga no órgão? É preciso restabelecer a credibilidade do Brasil e ter uma política moderada e equilibrada", disse Barbosa.
Para o colaborador de Aécio, caso eleito o tucano irá restaurar a projeção do Brasil no exterior, com a revisão das políticas do Mercosul e da estratégia comercial regional.
Segundo ele, o senador e candidato do PSDB a presidente da República finalizará o acordo com União Europeia e definirá prioridades do país para acordos com Estados Unidos e China.
"Será revista ainda a política Sul-Sul de integração de tecnologia, que deixou os países desenvolvidos em segundo plano", afirmou.