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Ex-diretor diz que arrecadava propinas para campanhas de Richa no Paraná

Ex-governador é apontado como principal beneficiário da arrecadação de valores em esquema criminoso que envolve mesada de empresas com contratos com governo

Beto Richa: tucano vai disputar uma vaga no Senado nas próximas eleições (Fabio Pozzembom/Agência Brasil/Agência Brasil)

Beto Richa: tucano vai disputar uma vaga no Senado nas próximas eleições (Fabio Pozzembom/Agência Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de junho de 2018 às 18h53.

São Paulo - O ex-diretor da Secretaria Estadual de Educação do Paraná Maurício Jandoi Fanini Antonio confessou em proposta de delação premiada entregue ao Ministério Público Federal que arrecadou propinas para o ex-governador Beto Richa (PSDB) - que deixou o cargo para disputar uma vaga no Senado nas próximas eleições - entre os anos de 2002 e 2015.

O tucano é apontado como principal beneficiário da arrecadação de valores em um esquema criminoso que envolve mesada de empresas com contratos com o governo, entrega de pacotes de dinheiro vivo em banheiros de órgãos públicos e estacionamentos de bancos, viagens ao exterior e custeio de imóveis da família.

Maurício Fanini foi preso em 2017 acusado de corrupção em contratos de construção e reforma de escolas da Secretaria de Educação, alvo da Operação Quadro Negro - que apontou desvio de pelo menos R$ 20 milhões no Estado.

Desde maio foi transferido para Brasília, após iniciar negociação de sua delação premiada. Ele é réu em três ações penais. A delação do ex-aliado foi revelada nesta terça-feira, 5, pela equipe da RPC (afiliada da TV Globo) no Paraná.

O acordo envolve dez anexos em que Richa, seu irmão Pepe Richa, ex-secretário de Infra Estrutura do Paraná, seu primo Luiz Abi e outros assessores do ex-governador são acusados de uma esquema de arrecadação de propinas, inclusive com pagamentos mensais, que serviram para bancar campanhas de prefeito e de governador do tucano e que também seria usado na disputa ao Senado, neste ano.

Fanini registrou num dos dez anexos elaborados por sua defesa que em janeiro de 2015, após Richa ser reeleito governador, viajou com ele e as mulheres para passar um final de semana em Caiobá, litoral do Paraná.

"Durante uma caminhada na areia da praia de Caiobá, juntamente com as esposas, o governador Beto Richa manifestou ao ora declarante, que para as eleições de 2018, ele, governador, seria candidato ao Senado, o irmão Pepe para deputado federal e o filho Marcello para deputado estadual", registra o anexo 7.

"O governador queria que ante a recriação da Fundepar, que continuasse com as arrecadações mensais dos empreiteiros para suprir a necessidade de caixa para as três campanhas."

Fanini não será o primeiro delator do caso, se a Justiça homologar o acordo. O empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora Valor, envolvida nos desvios nas obras da Secretaria de Educação, virou colaborador em 2017 no âmbito da Quadro Negro, em delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-diretor de Educação que agora tenta delação foi um dos denunciados por ele.

Arrecadação

O ex-diretor da Educação é mais do que um servidor de confiança. Amigo de Richa desde a época de faculdade de engenharia, Fanini trabalhou no governo do tucano quando foi prefeito de Curitiba e depois foi levado para seu governo no Estado.

Segundo o delator, o esquema de arrecadação de valores ilícitos para campanhas de Richa começou em 2002, quando o tucano disputou pela primeira vez o governo do Paraná e foi derrotado por Roberto Requião (MDB).

Em princípio, os valores eram levantados com empresas contratas pela Prefeitura de Curitiba. Os recebedores do dinheiro seriam dois homens de confiança do tucano: Ezequias Moreira e Luiz Abi, seu primo. Em 2004, Fanini diz ter participado diretamente da arrecadação de valores para a disputa de prefeito de Richa.

Mas foi como governador, a partir de 2012, que Fanini detalha mais os supostos acertos. Uma das reuniões teria ocorrido na Granja do Canguiri, residência oficial do governador.

O ex-diretor diz que Richa o questionou sobre arrecadação de valores para a campanha municipal em Curitiba, época que teria iniciado o esquema mensal de busca de propinas.

O delator diz que em 2014 houve uma cobrança para aumentar a arrecadação para a campanha de reeleição, o que teria ocorrido durante uma partida de tênis, com Richa.

"Pode dizer que eu vou me reeleger e depois nós temos 4 anos para ajeitar essas empresas", teria dito o ex-governador a Fanini.

Entregas

O delator afirma que dinheiro de propina era levado por emissários que deixavam no banheiro de uma sala da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude), órgão do governo. E que ele levava os valores para casa para depois entregar a Luiz Abi.

Além da construtora Valor, envolvida nas obras da Educação, a proposta de delação de Fanini fala da relação de Richa com a construtora Empo e seu dono Eron Cunha.

Richa perdeu o foro privilegiado depois de renunciar ao cargo para disputar como senador pelo Paraná. Na ocasião, processos abertos contra o ex-governador que tramitavam no Superior Tribunal de Justiça (STJ) foram enviados para a primeira instância.

Defesa

Procurador por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-governador Beto Richa ainda não foi localizado. Por meio de nota enviada à RPC, ele nega as acusações e atacada o delator Maurício Fanini e o vazamento de dados sigilosos.

LEIA A NOTA:

"A proposta de acordo de colaboração premiada de Maurício Fanini ainda se encontra sob sigilo e mais uma vez foi vazada criminosamente.

Esta forma ilícita de agir parece ser uma manobra arquitetada às vésperas do período eleitoral, na tentativa de nivelar todos os políticos por baixo.

Não faço parte desta cena deplorável, onde criminosos confessos buscam envolver pessoas inocentes em crimes que somente eles praticaram.

O que esses criminosos pretendem? Ora, a resposta é muito simples! Pretendem conseguir a redução das penas a que certamente serão condenados pelos crimes cometidos e já confessados à Justiça, mesmo que para isso tenham que envolver pessoas honestas.

No caso de Maurício Fanini, a condenação pelos crimes praticados e por ele próprio confessados chegará a 50 (CINQUENTA) anos de prisão!

Portanto, está mais do que explicado porque Fanini tenta delatar tudo e todos, sem, no entanto, apresentar quaisquer indícios de provas.

Qual a razão de dar credibilidade a um criminoso que realizou 870 depósitos em dinheiro vivo, em sua própria conta corrente, pagou cartões de crédito em dinheiro vivo e formou um patrimônio incompatível com sua renda?

É uma tentativa desesperada de delação, que pela ausência de provas, não será aceita pela Justiça. São acusações criminosas, com o objetivo de envolver pessoas inocentes, retirando o foco das fraudes por ele cometidas.

E para isso, mente descaradamente. Nem eu, nem qualquer membro da minha família, recebeu dinheiro desviado dos cofres públicos.

A compra do apartamento do meu filho Marcello foi realizada de forma regular, com recursos próprios e transferência bancária, sem a utilização de dinheiro vivo, o que foi esclarecido também pelo vendedor do apartamento, que foi ouvido duas vezes pelo Ministério Público Estadual.

Igualmente é criminosa a afirmação de que minha mulher teria solicitado 1.000 dólares para uma viagem de meu filho André ao Peru. Quem nos conhece sabe que não precisamos disso e a afirmação beira o absurdo.

Repito: é uma delação criminosa, sem provas, que busca apenas confundir as pessoas. Espero que a Justiça apure e esclareça rapidamente essa questão, para que os culpados sejam punidos de forma exemplar."

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