CARLI FILHO: mesmo dez anos após o acidente, o ex-deputado poderá recorrer em liberdade (Marcelo Elias/Gazeta do Povo/VEJA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 18h05.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2018 às 20h30.
Curitiba - O ex-deputado estadual do Paraná Luiz Fernando Ribas Carli Filho foi condenado, nesta quarta-feira, 28, a nove anos e quatro meses de prisão por duplo homicídio com dolo eventual.
Os jurados o consideraram culpado pela morte de dois jovens em maio de 2009. Carli não vai cumprir a pena imediatamente, uma vez que ainda pode recorrer à segunda instância, no caso, o Tribunal de Justiça do Paraná.
O julgamento começou na terça-feira, 27, e o próprio Carli admitiu que estava embriagado no momento em que seu carro atingiu o carro das duas vítimas. De acordo com a perícia, o carro do ex-deputado (um Passat importado da Alemanha) decolou em uma subida da Avenida Ivo Sanlorenzi, no bairro Mossunguê, em Curitiba, com a velocidade de 173 km/h e caiu sobre o veículo ocupado por Gilmar Rafael Uared, então com 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20. Os dois tiveram morte instantânea.
Após o choque, Carli foi parar na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, com várias fraturas no rosto. Pertence a uma família de políticos do sudoeste do Paraná - o seu pai, Fernando Ribas Carli, era prefeito de Guarapuava, e seu irmão, Bernardo Carli, é deputado estadual -, Carli Filho renunciou ao mandato logo após ao acidente.
A mãe de Gilmar Rafael, Christiane Yared, mobilizou a imprensa e participou de diversos movimentos pela paz no trânsito. A sua militância lhe valeu um mandato como deputada federal pelo PR do Paraná, com a maior votação do Estado.
"Após nove anos, muita dor, temos com esta condenação a certeza de esta decisão com certeza absoluta vai salvar muitas vidas. Isso é o mais importante. Esta decisão muda agora a forma de o País encarar as mortes no trânsito, muda o comportamento de um povo", disse Christiane, após a sentença.
O advogado Elias Mattas Assad, contratado pela família Yared, para atuar como assistente da acusação afirmou que a família não vai recorrer para aumentar a pena.
"Não vamos recorrer para o aumento da pena. Já tínhamos decidido isso com a família Yared antes mesmo do julgamento. Não vamos recorrer", disse o advogado.
A mãe de Carlos Murilo, a outra vítima, disse que a Justiça foi feita. "Estou muito mais aliviada. Saiu aquele peso e agora talvez vá poder dormir. E eu o perdoo. Ele pediu e perdoo. Não quero mais guardar este rancor", disse Vera Lúcia.
Carli chegou a pedir perdão às duas mães, durante o julgamento. "Eu sou culpado, mas nunca tive a intenção de matar ninguém. Eu errei, eu bebi, eu dirigi. Eu sei que nunca tive a oportunidade de pedir desculpas para a dona Christiane e para a dona Vera, quero pedir desculpas. Quero do fundo do meu coração", disse Carli no encerramento do primeiro dia do júri, na noite de terça-feira.
A defesa tentou fazer a tese do homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Mesmo admitindo a embriaguez ao volante, o advogado Alessandro Silvério alegou que não é possível determinar a velocidade que Carli trafegava e que Gilmar Yared teria cruzado a via preferencial.
Para o promotor Rodrigo Chemin, que participou da acusação, a condenação é emblemática, por se tratar de um político influente. "É um marco divisório da Justiça deste País. Uma conclusão democrática e um basta na violência no trânsito", concluiu.