Dinheiro: ex-corregedor-geral da Fazenda foi preso por suspeita de cobrar propinas de fiscais investigados e de construir patrimônio de 65 imóveis com recursos de origem ilícita (Stock.xchng/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de junho de 2019 às 10h55.
Última atualização em 13 de junho de 2019 às 10h56.
São Paulo — O ex-corregedor-geral da Secretaria Estadual da Fazenda e Planejamento de São Paulo, Marcus Vinícius Vannucchi, em depoimento ao Ministério Público, atribuiu à uma "síncope" o fato de não ter revelado às autoridades a existência de US$ 180,3 mil e mais 1.300 euros em uma sala secreta na casa em que vivia com sua ex-mulher, no município de Itatiba, a 73 quilômetros da capital paulista. O agente fiscal de Rendas disse que o compartimento é uma espécie de "sala de pânico".
Vannucchi está preso na Operação Pecúnia no Olet, deflagrada no dia 6, pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos (Gedec) do Ministério Público Estadual, e da Polícia Civil. Inicialmente, os investigadores acharam R$ 19 mil na casa de sua ex-mulher, Olinda, e R$ 2 mil em um imóvel do ex-corregedor.
Os dólares e euros foram encontrados em uma segunda busca na residência, no dia 7 de junho, após uma denúncia anônima revelar a existência do cômodo secreto à Polícia Civil e ao Ministério Público.
Em depoimento à Promotoria na segunda-feira, 10, ele afirmou "que U$S 20 mil eram de sua esposa, e o restante de seu padrasto". "Sua ex-esposa não sabia que esses valores estavam escondidos naquele local, e nem tampouco seu filho".
Vannucchi diz que "seu padrasto lhe entregou aquele dinheiro por questões de segurança". "Acredita que os recibos da compra desses valores devem estar no material apreendido ou na casa de sua ex-esposa."
"Se não estiver no material apreendido, se compromete a entregar ao Ministério Público assim que encontrá-lo. Indagado sobre os diversos envelopes localizados junto com o dinheiro, alguns com menção a valores, justificou que pode ter sido envelopes que foram utilizados para acondicionar documentos", consta no termo de depoimento.
O ex-corregedor-geral narra que o "dinheiro estava acondicionado de forma separada e não junto por questões de problema de umidade".
"No dia da Operação o declarante lembra que foi indagado sobre a existência de um cofre no local, tendo respondido negativamente. O declarante diz ter síncope vasovagal, não se recordando de ter sido indagado outras vezes. Também não sabe porque o filho e sua ex-esposa não revelaram a existência da sala secreta do imóvel.
Síncope vasovagal é uma doença que provoca desmaios, tonturas, e alterações na visão. Já o quarto do pânico é um compartimento usualmente construído para que as pessoas se escondam quando bandidos invadem suas residências.
O ex-corregedor-geral é acusado de cobrar propina do Magazine Luíza e de fiscais investigados pela Corregedoria. Em depoimento, disse que nunca fiscalizou a rede de varejo.
A Promotoria descobriu que, por meio de seus familiares, o ex-corregedor ocultava um patrimônio milionário, menos 65 imóveis adquiridos com dinheiro "sem origem lícita".
A Promotoria sustenta que o agente fiscal de Rendas separou-se da ex-mulher Olinda Alves do Amaral Vannucchi com objetivo de dissimular bens, transferidos para o nome dela.
Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, somente uma das empresas da ex-mulher comprou uma dezena de imóveis, por R$ 6,5 milhões, em um mês, no ano de 2016.
As investigações revelam que o casal retificou declarações de Imposto de Renda 41 vezes em sete anos. Se somadas a evoluções patrimoniais de Olinda e da mãe de Vannucchi, Hercília Chioda, que é professora, em um período de 7 anos, elas ganharam juntas R$ 12,5 milhões.