EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2014 às 16h22.
Rio - Ex-conselheiro da Petrobras, o economista e empresário Claudio Luiz Haddad, defendeu nesta quinta-feira, 20, que o Conselho de Administração da estatal dispunha de informações "fundamentadas" para a aprovação da compra da refinaria de Pasadena, em 2006. Segundo ele, o ex-diretor da área Internacional, Nestor Cerveró, fez uma apresentação "consistente" do negócio e recomendou sua aprovação.
Haddad lembrou que as negociações foram assessoradas por uma instituição financeira, que também deu aval às condições de compra da refinaria. "Ele (o banco) atestou que o preço se enquadrava à prática do mercado, e que as condições eram normais. Sendo uma apresentação consistente, não havia nada que oferecesse qualquer tipo de dúvida", afirmou o ex-conselheiro.
A aprovação da compra de Pasadena foi a última participação de Haddad no colegiado da estatal, que no mês seguinte, em abril de 2006, ganhou nova formatação. "Se houve omissão, não saberia dizer", completa.
Segundo o economista, a prática nas reuniões de Conselho era que um dos diretores das áreas pertinentes ao assunto debatido fizesse uma apresentação "substanciada" aos integrantes do colegiado. "No caso, eram as diretorias de Internacional e de Refino e Abastecimento", completa. Os cargos eram ocupados por Nestor Cerveró, que viajou para Europa na última quarta-feira, e Paulo Roberto Costa, preso ontem pela Polícia Federal.
Haddad afirma ainda que na reunião a compra da refinaria de Pasadena foi defendida por Cerveró. "Recomendou-se a aprovação. Jamais o conselho aprovaria uma operação se não estivesse bem fundamentada. O conselho é última instância. Quando chega ali, a administração já explorou exaustivamente, com vários pareceres."
Aquela foi a única reunião em que a compra foi discutida com o colegiado, presidido por Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia. "Se fosse algo que o conselho tivesse dúvidas de que o benefício não era tão claro, aí o conselho teria explorado muito mais. Em muitas vezes, participei de reuniões em que não houve consenso e foi discutido em reuniões posteriores."
Não foi o caso, segundo o economista. "Apesar de ser um investimento relevante, face outros negócios da Petrobras, não era anormal a ponto de chamar atenção. Discutimos uma série de assuntos com valores bem superiores", afirma Haddad.
Em nenhum momento se questionou os altos valores do negócio, estimado em US$ 360 milhões. Também não foi feita comparação com o valor pelo qual a refinaria foi adquirida um ano antes, pela empresa belga Astra Oil, por US$ 42,5 milhões. "Naqueles anos antecedentes à decisão, o preço do petróleo subiu bastante. Isso pode perfeitamente acontecer, as condições de mercado levam a uma mudança de patamar."
O conselheiro descreve que a proposta para aquisição de uma refinaria no exterior surgiu como alternativa para reverter prejuízos "contínuos" com a operação da Petrobras. O tema foi discutido em outros encontros do conselho. "Havia excesso de óleo pesado, escassez de óleo leve e pouca margem de investimento em novas unidades de refino no País", conta.
A estratégia defendia a compra de uma unidade no exterior que permitisse a exportação de óleo pesado, seu processamento e comercialização no mesmo país ou para reenvio ao Brasil. Na reunião de fevereiro, a apresentação sobre a refinaria de Pasadena trazia "números que condiziam com as condições de mercado do momento e com as estratégias de negócio da estatal".
Haddad diz que não acompanhou o caso após deixar o conselho. E prefere não avaliar se a compra foi ou não um negócio equivocado. "Negócio é feito com base nas condições de mercado, ambiente e contexto da época. Se as condições mudam anos depois, para mal ou para bem, são coisas que acontecem. Tem sempre que ser julgado com base no contexto quando a decisão é tomada".