Homem segura a nova edição do jornal semanal satírico francês Charlie Hebdo (Pascal Guyoy/AFP/AFP)
Talita Abrantes
Publicado em 18 de janeiro de 2015 às 17h23.
São Paulo - O novo secretário da Justiça do estado de São Paulo, Aloisio Toledo Cesar, criticou neste domingo o tom das charges do jornal francês Charlie Hebdo, que foi alvo de um ataque terrorista no último dia 7 de janeiro. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.
“Humilhar provocativamente os muçulmanos equivale a instigá-los e a desafiá-los, enfim, essa torpe atitude soa quase como uma declaração de guerra”, disse o jurista em seu perfil no Facebook.
A primeira edição do jornal após o ataque que matou 12 pessoas se esgotou em poucos minutos na França na última quarta-feira. Na capa foi publicada a caricatura de um Maomé em lágrimas carregando uma placa com a mensagem "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie"), abaixo da manchete "Tudo está perdoado".
O conteúdo da edição gerou uma série de protestos nos últimos dias. No Níger, 10 pessoas foram mortas durante as manifestações contra o jornal.
Para o desembargador, o jornal francês faz “mau uso da liberdade de expressão” e nega “o precioso direito de cada homem de poder exercer livre escolha de sua religião e de seu Deus”.
Em entrevista a rede americana NBC, o chefe de redação do semanário, Gérard Biard, defendeu o conteúdo das sátiras. “Sempre que fazemos um desenho de Maomé, de profetas ou de Deus, estamos defendendo a liberdade religiosa”, afirmou.
Segundo levantamento do Institut français d'opinion publique (IFOP), 42% dos franceses são contra o teor das charges de Maomé publicadas no Charlie Hebdo.
Veja a íntegra da crítica do novo secretário da Justiça de São Paulo:
“Não posso deixar de externar a minha mais profunda indignação ao mau uso da liberdade de expressão dos cartunistas franceses, que já provocaram mortes e insistem em dar chicotadas nos muçulmanos, desafiando-os e quem sabe até dando risadas disso.
Afetados pela vaidade de demonstrar talento, com essa conduta, negam o precioso direito de cada homem de poder exercer livre escolha de sua religião e de seu Deus. Humilhar provocativamente os muçulmanos equivale a instigá-los e a desafiá-los, enfim, essa torpe atitude soa quase como uma declaração de guerra.
Será isso exercício do livre direito de expressão ou uma leviandade que envergonha a espécie homo sapiens?
Neste momento, como católico, como cristão, externo a minha mais integral solidariedade as milhões de muçulmanos que praticam resignados a sua religião e até mesmo condenam a violência daqueles que optam pela violência. Posso dizer, inconformado com o mau uso da liberdade de expressão pelos franceses referidos, que EU TAMBÉM SOU MAOMÉ.”