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Estudante de colégio militar custa três vezes mais

Ampliação no número de escolas militares é a ideia mais repetida pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na área de educação

O candidato à presidência do PSL, Jair Bolsonaro (Rodolfo Buhrer/Reuters)

O candidato à presidência do PSL, Jair Bolsonaro (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 26 de agosto de 2018 às 09h33.

Última atualização em 26 de agosto de 2018 às 09h34.

Cada aluno de colégio militar custa ao País três vezes mais do que quem estuda em escola pública regular. São R$ 19 mil por estudante, por ano, gastos pelo Exército nas 13 escolas existentes - que têm piscinas, laboratórios de robótica e professores com salários que passam dos R$ 10 mil. O plano de governo do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) fala que em dois anos, haveria "um colégio militar em todas as capitais de Estado". A ampliação desse modelo é a ideia mais repetida pelo presidenciável na área de educação.

O setor público investe, em média, R$ 6 mil por estudante do ensino básico anualmente. Se todos os alunos de 11 a 17 anos estivessem matriculados em instituições militares, seriam necessários R$ 320 bilhões por ano, o triplo do orçamento do Ministério da Educação (MEC).

Bolsonaro, que é capitão da reserva, tem elogiado os colégios pelo ensino de alto nível, com disciplina rígida. Ao jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que eles seriam interessantes em áreas violentas. "Existe eficiência porque existe disciplina. Hoje, qual o professor que vai tomar um celular de um aluno em aula?"

O desempenho dos alunos das escolas do Exército em avaliações nacionais é, de fato, superior ao restante das escolas. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a média é maior até do que a dos alunos de escolas particulares. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade no País, dos colégios militares é 6,5 (do 6.º ao 9.º ano do fundamental). O das escolas estaduais, 4,1.

No entanto, a renda desses estudantes é classificada como "muita alta" pelo MEC, um grupo em que se inserem apenas alunos de 3% das escolas brasileiras. A classe socioeconômica é considerada por educadores como um dos fatores mais importantes para a aprendizagem, pelas influências que o aluno recebe e pelas condições de vida.

A maioria dos estudantes dos colégios mantidos pelo Exército é filho de militar. O restante precisa fazer provas em que a concorrência chega a 270 por vaga. Na Fuvest, o curso mais disputado, Medicina, teve 135 candidatos por vaga em 2017. Em alguns lugares, como Brasília, há cursinhos preparatórios para o exame do colégio militar.

A diretora executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, afirmou que o modelo tem custo alto e é para poucos, principalmente porque faz seleção de alunos. Atualmente, todas as instituições do Exército juntas atendem 13.280 alunos do 6.º ano do ensino fundamental ao 3.º ano do médio. O Brasil tem 17 milhões de estudantes nessa faixa etária. "Não se pode perpetuar a ideia na educação de que alguns têm privilégios. O que precisa é uma solução para todos e, principalmente, para os mais pobres."

Apesar de haver problemas de aprendizagem em todo o País, as crianças de classe baixa são as que têm resultados piores. Só 21% dos alunos mais pobres estão em níveis adequados de Português aos 11 anos. O índice sobe para 56,4% entre os mais ricos.

Autonomia pedagógica

As escolas militares não têm a função de formar quadros para o Exército - só uma minoria segue a carreira e quase todos vão para boas universidades. As instituições - mantidas com verba do Ministério da Defesa - têm autonomia para montar o currículo e a estrutura pedagógica.

"A maioria dos nossos professores tem pós-graduação. Temos psicólogos, infraestrutura. Nossa meta é preparar o aluno para a universidade e para a vida", afirmou o diretor de educação preparatória e assistencial do Sistema Colégio Militar do Brasil general Flávio Marcus Lancia. Ele não quis comentar a ideia de Bolsonaro de expandir o modelo.

Para David Saad, presidente do Instituto Natura, que apoia iniciativas na área de educação, o colégio militar é uma escola de referência e "não foi feito para que todas sejam iguais a ele". "Para virar política pública é preciso funcionar para qualquer aluno e usar professores da própria rede, por exemplo."

O custo aproximado para se ter um colégio militar para cada capital - ou seja, mais 16 escolas pelo País, com cerca de mil alunos cada - seria de R$ 300 milhões. Isso sem contar o valor que seria gasto para construção das estruturas. Bolsonaro tem dito que pretende fazer "o maior colégio militar do Brasil no Campo de Marte, em São Paulo". A cidade é uma das capitais que não têm uma escola do Exército e há anos se estuda essa possibilidade na instituição.

O montante para a ampliação da rede militar representa mais do que foi usado pelo MEC em 2017 para formação de professores no País (R$ 200 milhões). "É preciso ver o que é prioritário para esse volume grande de recursos. Não se pode apostar com dinheiro público e, sim, olhar para aquilo que já deu resultado", disse Priscila.

Como exemplo, educadores defendem que o Brasil adote o modelo de tempo integral para o ensino médio, em que os adolescentes ficam até as 21 horas na escola. O Estado de Pernambuco, que já tem 50% das escolas integrais, conseguiu atingir o Ideb mais alto do País. O custo por aluno/ano é de cerca de R$ 8 mil. "Todas as pesquisas mostram melhoria relevante de aprendizagem, até em grupos vulneráveis, diminuição da evasão e uma conexão maior do jovem com a escola", disse Saad.

"Rafaela uma vez esqueceu a estrelinha do boné e teve que voltar para casa para pegar e poder entrar", lembrou a mãe. "Mas acho a disciplina adequada ao bom desenvolvimento dos alunos."

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