Re Solidário: Jaqueline Soares arrecadou mais de 2.500 peças em campanhas de doação e montou um espaço aberto e coletivo para a troca das roupas (Reprodução/YouTube)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2016 às 17h59.
Há muito a moda deixou de ser vista como uma superficialidade para ser entendida como uma questão de identidade.
As roupas são capazes de expressar humores, sentimentos, personalidades e até mesmo conflitos. Para além de uma necessidade da pessoa de se manter vestida, as peças significam o indivíduo.
Mas nem todos.
Ao andar na rua, é comum diferenciar as pessoas pelo o que elas vestem. E na hierarquização das passarelas urbanas, os moradores de rua, certamente, são os últimos da fila. Isso porque, para além de toda a invisibilidade, estas pessoas são tão vulneráveis que aspectos como autoestima ou imagem são completamente negligenciados.
Mas a questão vai além do bem-estar e torna-se uma questão de direitos humanos quando, por exemplo, o inverno chega e faltam camadas de tecido para protegê-los do frio.
Pensando nestas pessoas e em como a moda pode - e deve - ter um papel político ativo, uma estudante resolveu fazer de seu trabalho de conclusão de curso da faculdade um projeto que pudesse transformar a vida de pessoas nessas condições: ela criou o Re Solidário, um guarda-roupas para os moradores de rua.
Jaqueline Soares arrecadou mais de 2.500 peças em campanhas de doação. Em uma das principais avenidas de Florianópolis (SC), ela montou um espaço aberto e coletivo para a troca das roupas.
Cada morador de rua recebia um "vale compra" fictício de R$ 50,00 e poderia gastá-lo ao escolher suas peças preferidas.
De acordo com a estudante, o objetivo da loja gratuita era provar que possuir roupas estimula a autoestima de qualquer pessoa e afastar o estigma da futilidade do curso de moda.
Para ela, a meta foi cumprida e ainda teve um sabor especial: foi um momento de repensar a sua própria história.
Isso porque a própria Jaqueline Soares já foi uma moradora de rua. Quando sua mãe engravidou de gêmeas, ela e sua irmã, as crianças foram prometidas para adoção para uma família conhecida. Na hora de entregar as garotas, contudo, sua mãe biológica desistiu e apenas uma bebê foi adotada.
Tempos depois, essa família voltou a encontrar Jaqueline, desta vez nas ruas e pedindo esmolas. Sua mãe biológica havia desaparecido. Foi então que se iniciou outro processo judicial para que a menina pudesse ser adotada.
"Esse trabalho fez com que eu reencontrasse a minha história. Se meus pais não tivessem me adotado, eu cresceria na rua", disse a estudante em entrevista ao UOL.
Foram mais de 300 pessoas beneficiadas com a loja da estudante. Todas as peças do vestuário foram lavadas, passadas e separadas por tamanhos e categorias.
"Eu não queria transformá-los em depósitos de roupas velhas. A ideia foi criar uma experiência de compra. Cada pessoa selecionou peças de acordo com sua identidade e necessidade, não levaram apenas porque era de graça."