A avaliação dos petistas é de que rivalizar neste momento é dar palanque a Bolsonaro (Lula: Nelson Almeida/Getty Images - Bolsonaro: Clauber Cleber Caetano/PR/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 30 de março de 2023 às 15h19.
Última atualização em 30 de março de 2023 às 16h01.
Se de um lado apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro tentarão fazer de sua volta ao Brasil, marcada para esta quinta-feira, um grande evento, de outro, o Palácio do Planalto trabalha para não amplificar a repercussão do retorno do político do PL, que passou uma temporada de três meses nos Estados Unidos.
A estratégia traçada por alguns dos principais ministros do governo é evitar a todo custo rebater eventuais ataques de Bolsonaro. Eles têm aconselhado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer o mesmo, para não se antagonizar a um adversário que, apesar da força política, hoje não tem mandato.
A avaliação dos petistas é de que rivalizar neste momento é dar palanque a Bolsonaro. Interlocutores de Lula defendem que declarações sobre o ex-presidente devem mirar apenas as suspeitas que recaem sobre ele, como no caso das joias, isolando-o do debate político. Sem foro privilegiado, Bolsonaro terá de dar explicações à Polícia Federal sobre o ocorrido. Como revelou a colunista Bela Megale, ele vai prestar depoimento no próximo dia 5 de abril em Brasília.
O cuidado com as palavras de Lula foi redobrado após a repercussão negativa da declaração do petista contra o senador Sergio Moro (União-PR). Na semana passada, o ex-presidente colocou em dúvida a operação da Polícia Federal para desbaratar o plano de uma facção de sequestrar o ex-juiz, ao dizer que se tratava de "uma armação" do parlamentar. A afirmação foi considerada uma "derrapada" no entorno presidencial. Auxiliares ouvidos pelo O Globo afirmam que o próprio presidente reconheceu que as frases foram inapropriadas e acabaram dando visibilidade e vitimando Moro.
"Não cabe ao Palácio do Planalto ver a circulação de qualquer pessoa que se declare de oposição, muito menos de um ex-presidente que fugiu do país. Quem tem que ver é ele. Vai ter de chegar e dar explicações sobre as joias, vai ter de dar explicações sobre várias questões que estão sendo descobertas do governo dele, vai dar explicações sobre as obras paralisadas no país", disse Padilha ontem após visitar Lula no Palácio do Alvorada.
O confronto direto com o ex-titular do Planalto ficará a cargo de aliados próximos, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Nesta quinta-feira, ela gravou um vídeo com provocações ao ex-presidente, lembrando que ele precisará prestar contas à Justiça.
"Aproveite para explicar à Justiça os crimes que você é acusado de ter feito no governo e na campanha. Você pode voltar quando quiser, o que não voltará jamais é o tempo sombrio em que você infelicitou esse país", disse Gleisi em um vídeo gravado na sede do PT em Brasília.
Há expectativa no governo de que o avanço das discussões sobre o novo arcabouço fiscal, que foi apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para líderes da Câmara ontem, ajudará a dividir a atenção. Trata-se de um assunto amplo, que envolve diversos atores, interessa ao mercado e não pode ser usado como um “factoide” produzido pelo Planalto de última hora.
Com o retorno de Bolsonaro ao Brasil, o governo quer dar mais um passo na estratégia de isolar o principal adversário político de Lula. No que diz respeito ao ex-presidente, essa é a principal tarefa dos articulares de Lula na Câmara e no Senado: conversar com quem for possível — o que vale para partidos que apoiavam o ex-presidente, como PP e Republicanos —, e se aproximar da centro-direita para enfraquecer o núcleo duro do bolsonarismo.
A própria recepção de Bolsonaro no aeroporto deverá ser algo protocolar, segundo plano da Polícia Federal. Ele será recebido por agentes e deverá passar por uma saída alternativa, sem ter contato com apoiadores. Na avaliação de aliados de Lula, do ponto de vista da comunicação, a polarização com Bolsonaro não interessa mais, uma vez que o ex-presidente está suficientemente enrolado com essas investigações.
Nenhum evento especial na agenda do Lula foi preparado para tentar ofuscar Bolsonaro. De acordo com um auxiliar, Lula quer demonstrar que está preocupado em tocar o governo e não com o adversário. Nesta quinta-feira, o presidente continuará despachando no Alvorada. Às 10h, Lula será apresentado à taça da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2023, com a presença do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a ministra do Esporte, Ana Moser, e o presidente da CPF, Ednaldo Rodrigues. Também assinará o decreto que cria a Estratégia Nacional de Futebol Feminino.