Metroviários de São Paulo votam pela suspensão da greve (Chico Ferreira/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2014 às 14h21.
São Paulo - A manhã começou mal para Thiago (nome fictício). Pouco depois do anúncio do governo estadual de que haveria demissões caso a greve dos metroviários não cessasse, o jovem de 26 anos recebeu uma ligação de seu pai. O telegrama do Metrô deu o anúncio de sua demissão.
Embora já previsse que o documento chegaria, hora ou outra, Thiago não conseguiu disfarçar o desolamento com a notícia. Afinal, há seis anos ele dá expediente no ambiente subterrâneo do Metrô, ofício que considera parte de sua vida.
O texto padronizado é sucinto: "Informamos o seu desligamento da Companhia por justa causa a partir de 9/6/2014", seguido pela base legal e orientações sobre o direito de contestar a demissão. Em seis linhas, Thiago deixou de ser funcionário da empresa.
"É um abalo muito grande. Estou sendo demitido por lutar pelas condições de trabalho para todo mundo", disse ao Estado por telefone.
Thiago acompanhou as declarações do governo durante toda a segunda-feira, 9, pela mídia, e imaginou que estaria entre os 60 anunciados, já que esteve em todos os piquetes organizados até então, parte da estratégia dos grevistas para aumentar a adesão à paralisação.
"Quem quer mudar as coisas, que estava indo nos piquetes, organizando greves, melhorando as condições, é que acabou prejudicado", lamentou. "Eu me senti um pouco perdido, sem chão".
Thiago diz que não se vê mais fora da empresa. "Depois de tanto tempo, sua vida já está moldada, sua identidade é adaptada a ser trabalhador do metrô. Sua rotina. Faz parte da sua vida", contou.
É o segundo emprego do rapaz, que só trabalhou anteriormente em uma loja de roupas, por menos de um ano.
O operador de trens, como se identifica, não tem outra opção de emprego, mas minimiza o problema ao esclarecer que não tem família para sustentar.
"Eu não sustento família, de todos os fatores, este não é o atenuante. Mas mesmo assim você fica sem saber o que fazer", disse. Thiago ainda aguarda reversão do quadro com o governo.
Ele acredita que as demissões foram parte de uma estratégia para acabar com a greve sem negociação. "Primeiro eles tinham ameaçado todos os operadores de trem. Em seguida, mandaram 60 demissões e, pouco tempo depois, informaram que todas as pessoas que não voltassem a trabalhar correriam o risco de serem demitidas. Embora nós saibamos que o governo não demitiria todo mundo próximo da Copa, ficamos com medo", relatou.
Insegurança à população.
"O Metrô quer passar a imagem de uma greve fraca, que não tem adesão. Mas quem está na cidade sabe o caos no trânsito. Há uma quantidade ínfima de usuários nas estações", disse.
Segundo Thiago, os supervisores que passaram a operar os trens não receberam treinamento adequado e a população ficou em risco. O operador afirmou que, em duas ocasiões, supervisores abriram as portas enquanto o trem estava em movimento.
"Qualquer trinca no trilho pode resultar em um problema muito grave e não há gente habilitada para operar o sistema. Eu fico revoltado que o Metrô tente jogar a população contra a gente falando besteira", contou.
Piquetes.
A principal estratégia dos grevistas ao formarem piquetes, segundo Thiago, era a de convencer os supervisores. Segundo o operador, estes funcionários estão mais facilmente sujeitos às demissões, por isso temiam aderir à greve e mantiveram o trabalho.
"Eles recebem um treinamento muito básico, mas todos se sentem inseguros para operar trem. Isso exige um tempo grande, são vários problemas. O dia a dia do operador não é simples, tem muito macete", explicou.
Ele ainda relatou que muitos acabaram se convencendo, mas as ameaças eram muito "contundentes".
Conflitos.
Segundo o operador, a Polícia Militar agiu com violência nos atos dos grevistas.
"É sempre do mesmo jeito. Eles chegam em poucos, avaliam que não podem fazer muita coisa. Ficam só conversando. Até que vem ordem de cima, chamam a Tropa de Choque para entrar na estação e tirar a gente. Vieram por todos os cantos atacando bombas e chegaram na porrada", contou. "Não há muito diálogo", disse.
Em nota , o Metrô afirmou que a greve dos metroviários "foi julgada abusiva por unanimidade na Justiça do Trabalho após amplo processo de negociação".
Já a Secretaria de Segurança Pública respondeu, por sua assessoria, que "são inverídicas as acusações" de Thiago, que "se esconde no anonimato com o objetivo de denegrir a imagem da Polícia Militar".
Segundo a corporação, "a força foi usada somente após terem falhado as tentativas de diálogo com os grevistas".