A presidente Dilma discursa em uma cerimônia em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Rita Azevedo
Publicado em 12 de maio de 2016 às 07h52.
São Paulo — Há muitas formas de uma figura política entrar para a história. Pode ser por grandes escândalos, pela transformação da imagem de um país ou pela dificuldade de lidar com crises econômicas ou institucionais.
No caso de Dilma Rousseff, afastada da Presidência da República nesta quinta-feira (12), há grandes chances das lembranças de seus cinco anos e meio de governo ficarem restritas ao grupo dos políticos que não souberam administrar a casa.
A saída não é definitiva. Michel Temer, seu vice-presidente, assume interinamente o cargo por até 180 dias – prazo que o Senado tem para julgar Dilma por crimes de responsabilidade fiscal.
Se voltar, a petista pode ganhar força, mas terá que lidar com um Congresso arredio, colocar a economia nos trilhos e conquistar a aprovação popular que foi perdendo com o passar dos anos.
EXAME.com consultou especialistas para fazer um balanço dos cinco anos e meio da gestão da petista e entender quais heranças a presidente deixou (até agora) para o país.
Do sonho de potência ao pesadelo
Dilma herdou de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um país que crescia 7,5%, com baixa taxa de desemprego, inflação controlada e investidores animados.
Como consequência, a popularidade da petista acompanhou o otimismo do momento: no início de 2011, quase 50% dos brasileiros avaliavam o governo da presidente como bom ou ótimo.
“O governo Lula conseguiu conciliar os interesses do empresariado e dos trabalhadores. Pagava juros aos investidores e, ao mesmo tempo, distribuía renda. Favoreceu o andar de cima e o de baixo em um cenário de crescimento acelerado e de apoio popular”, explica Antônio Carlos Lobão, economista da PUC-Campinas.
Já no poder, Dilma teve que conviver com outro cenário. Em meio ao repique da crise e a queda nos preços das commodities, decidiu abandonar a política econômica adotada até então por Fernando Henrique Cardoso e Lula para implantar sua “nova matriz econômica”, baseada em crédito abundante, política fiscal frouxa e juros baixos.
Fora isso, tomou algumas decisões questionáveis como isentar determinados setores da economia, segurar preços administrados e abandonar o equilíbrio fiscal.
“O governo agiu como uma pessoa que acha que vai ganhar na Loteria e sai por aí gastando o que não tem”, diz Carlos Pereira, cientista político da FGV-Rio. “Se achou rico e pensou que não deveria mais se preocupar em fechar as contas”.
Do lado da política, outras falhas: a presidente teve dificuldade de lidar com coalisões e viveu dias conflituosos com o Congresso. Somado a tudo isso, foi descoberto um esquema de corrupção gigantesco em empresas estatais, que colocou em risco a maior parte dos partidos políticos, mas que, sobretudo, manchou a imagem do PT e fez com que os índices de popularidade de Dilma chegassem à pior marca da história.
Meia década depois, a situação do país é oposta àquela que Dilma viveu no início de seu mandato: queda de 3,8% no PIB, deterioração das contas públicas, taxa de desemprego de 8,5% e inflação de dois dígitos pressionando principalmente a parcela mais pobre da população (Veja abaixo como a economia do país mudou na gestão Dilma).
Pior ou melhor?
Para o economista Istvan Kasznar, da FGV Rio, todos esses erros fizeram com que Dilma devolvesse o país numa situação pior do que a que foi encontrada por Lula em 2003.
“O sucesso é extremamente relativo ao tempo. Com a inflação de hoje, as pessoas estão empobrecendo de novo”, avalia. “Isso mostra que o que foi feito nos governos do PT não deu certo. Lula e Dilma não criaram empregos de forma sólida, foi algo momentâneo em um cenário de ilusão”.
Antonio Carlos Lobão, economista da PUC-Campinas , não avalia da mesma forma. Para ele, não houve uma deterioração da economia do país até 2014. O problema real chegou no ano seguinte.
“Se levarmos em conta até 2014, Dilma estava com um país melhor, com indicadores mais otimistas e padrão de vida bem melhor do que o de antes”, diz Lobão. “O cenário, no entanto, mudou depois de 2015. Eles acabaram destruindo muitas das próprias conquistas”.
Acertos
Mesmo com os tropeços, os cinco anos e meio do mandato de Dilma Rousseff também tiveram alguns pontos positivos. O primeiro deles, lembra Marco Antônio Teixeira, cientista social da FGV-SP, é o próprio fato de Dilma ter chegado à Presidência. “Não devemos esquecer a conquista que foi para o país ter uma mulher eleita para o cargo mais alto”.
O fortalecimento das políticas de inclusão – como a ampliação das cotas em universidades públicas, a melhoria no acesso ao crédito e o desenvolvimento de programas de distribuição de renda – também são heranças da gestão Dilma, assim como os investimentos em programas habitacionais.
O último, mas não menos importante, legado da presidente é um sistema político mais transparente. “Foi o governo atual que sancionou a Lei anticorrupção, que sancionou os acordos de delação premiada, que passou a responsabilizar as empresas por atos corruptos”, lembra Carlos Pereira.
Marco Antônio Teixeira, cientista social da FGV-SP, vê nesse fato um ponto curioso: o governo que, para a opinião pública, caiu pela corrupção, é justamente o que mais estruturou os órgãos contra a corrupção.
O reflexo disso, aponta Teixeira, é uma sociedade mais ativa politicamente. “Não é uma obra do PT, mas o país de hoje é muito mais crítico do que era há dez anos, cobra muito mais seus governantes e acompanha de forma atenta o que acontece na política”, afirma.
Na balança
Navegue sobre os ícones e veja as heranças positivas e negativas de Dilma.
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Panorama
Abaixo, veja um resumo das mudanças na economia na gestão Dilma.
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