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Estatais zumbis que sugam cofres públicos têm proteção especial, diz Salim

Ex-secretário de Desestatização, Salim Mattar revela bastidores dos entraves às privatizações; empresário se dedica agora à criação de instituto liberal

Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização: estatais que recebem aportes do Tesouro, como a Embrapa, deveriam ser privatizadas (Amanda Perobelli/Reuters)

Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização: estatais que recebem aportes do Tesouro, como a Embrapa, deveriam ser privatizadas (Amanda Perobelli/Reuters)

CA

Carla Aranha

Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 15h54.

Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 17h41.

Quatro meses depois de deixar o governo, Salim Mattar, fundador da Localiza, tem dedicado seu tempo à criação de um instituto de promoção do ideário liberal junto com Paulo Uebel, ex-secretário especial de Desburocratização. Ambos pediram demissão do Ministério da Economia no dia 11 de agosto, descontentes com o andamento das agendas que conduziam. “Estatais como a Embrapa, que dependem do Tesouro, seriam muito melhor geridas na iniciativa privada, mas não se pode nem falar nisso", diz Mattar, ex-secretário de Desestatização, em entrevista exclusiva à EXAME. "O establishment não deixa". Veja os principais trechos da entrevista a seguir.

O que o senhor tem feito desde que deixou o Ministério da Economia?

Resolvi não voltar para as minhas empresas, que conduziram um processo de sucessão muito bem-feito na minha ausência. Preferi dedicar meu tempo à disseminação das ideias liberais, das mazelas do governo brasileiro e o gigantismo do Estado. Eu e alguns amigos, entre eles Paulo Uebel, estamos em contato com todos os institutos liberais do Brasil para avaliar o impacto de cada um. Estamos analisando também como eles levantam financiamento para criar um instituto nosso.

https://exame.com/economia/brasileiros-devem-pagar-r-215-bi-este-ano-para-bancar-estatais-zumbis/

Quem mais está nessa empreitada com o senhor?

O Helio Beltrão, do grupo Ultrapar e fundador do Instituto Mises, e mais alguns amigos. A ideia inicial era criar um instituto de defesa do cidadão pagador de impostos, esse coitado que sobrevive no Brasil sendo maltratado pelo Estado.

O senhor pôde avaliar a máquina pública de perto. Hoje, como vê a agenda de privatizações?

O establishment não é favorável às privatizações. A estatal é um local de poder. O objetivo não é servir ao cidadão, mas servir-se do cidadão.

Por isso há estatais que precisam receber recursos do Tesouro para não fechar as portas e mesmo assim não entram na agenda de privatizações, e outras cujo processo de desestatização fica emperrado no Congresso, como a Eletrobras?

Sim.

E isso também explica por que o Estado brasileiro continua sustentando empresas públicas cujo principal cliente é o próprio governo, como a Amazul e Imbel, do setor de defesa, e a Dataprev?

Sim, há inúmeros exemplos. São empresas zumbis mesmo, como a EXAME falou em uma matéria recente. A média de salário em algumas estatais brasileiras passa de 30.000 reais, como na PPSA, enquanto a média no Brasil é de 2.500 reais. São quase 500.000 funcionários nessas estatais, com garantia de emprego.

O senhor comandou a pasta de privatização do governo. Dentro do Ministério da Economia, há pessoas contrárias à venda de estatais?

O establishment não é favorável. Quem é o establishment? O Judiciário, o Executivo e o Legislativo. As vozes a favor das privatizações são isoladas. Tem uma dúzia de gente no Ministério da Economia que quer privatizar.

https://exame.com/brasil/privatizacao-dos-correios-passivo-bilionario-e-revelado/

Há vozes dissonantes nas secretarias do Ministério da Economia, como a de privatizações e a do PPI? Por que, por exemplo, a Secretaria Especial de PPI diz que algumas empresas, como a Embrapa, jamais serão alvo de estudos referentes às privatizações, e a Secretaria de Desestatização fala outra coisa?

A Secretaria de PPI em alguns momentos pode estar sendo a voz do sistema, esse que não quer privatizar. O Paulo Guedes e mais algumas pessoas que ele levou para o governo querem privatizar.

Mas não é complicado ser porta-voz do sistema?

É sim. Quer ver uma coisa? A Embrapa, que depende de recursos do Tesouro, é uma empresa que nunca deveria ter existido, devia ser uma autarquia. Criar uma empresa é uma forma que os governantes encontraram para driblar as amarras da lei. Numa empresa, tudo é mais livre, inclusive os salários. A Embrapa presta um bom serviço, mas, se fosse privatizada, a iniciativa privada a transformaria em uma fonte de recursos, algo que hoje não acontece. Mas aí a bancada rural poderia não gostar.

O senhor se considera mais útil dentro ou fora do governo?

Fora. Tenho liberdade para falar o que eu quero, de criticar os acintes do Estado, algo que não poderia fazer como servidor público. Também tenho condições de me dedicar ao projeto do instituto, que deve ser criado no começo do ano que vem. Acredito que dessa forma contribuo mais com o país.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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