Rua 25 de março em SP: transição demográfica começou entre 1980 e 1990 (Ricardo Correa/EXAME)
Talita Abrantes
Publicado em 26 de outubro de 2016 às 13h00.
Última atualização em 26 de outubro de 2016 às 14h28.
São Paulo - Em termos populacionais, o futuro do Brasil é quase certo: seremos um país, no mínimo, mais velho. Segundo as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2060, a população brasileira será composta por 218 milhões de pessoas - um número apenas 6% maior do estimado para hoje.
Além do aumento da expectativa de vida, que chegará aos 81 anos nas próximas cinco décadas, o principal fator para essa transição é a redução da taxa de fecundidade entre mulheres na faixa etária dos 15 aos 49 anos. Segundo estudo do IBGE lançado hoje, essa mudança começou nas últimas duas décadas, entre os anos 1980 e 2000.
“A partir de meados dos anos 80, o Brasil passa a ver pela primeira vez uma redução no volume de nascimentos”, afirma Márcio Minamiguchi, demógrafo do IBGE e um dos autores do estudo Retroprojeção da População 1980 - 2000.
Isso significa que, no final daquela década, a pirâmide etária brasileira começou a estreitar.
Em 1986, o Brasil abrigava 18,5 milhões de crianças com idade entre 0 e 4 anos. No ano seguinte, esse número caiu para 18,3 milhões - retomando o patamar de 1984. Em 2000, o número de crianças nessa faixa etária era de 17,3 milhões.
O Brasil pode ter vivido seu último boom populacional nas décadas de 1980 e 1990, quando o número de habitantes do país cresceu cerca de 44%. Nas duas décadas seguintes - entre 2000 e 2020 -, o crescimento da população brasileira deve cair para 22%.
Entre os anos 2020 e 2040, o avanço populacional cai para 7,5%. Entre 2040 e 2060, a população brasileira viverá seu primeiro recuo - passará de estimados 228 milhões para 218 milhões de pessoas, uma queda de cerca de 4,3%.
A partir de 1988, a proporção entre os homens e mulheres se inverte na população brasileira. As mulheres passam, então, a ser maioria no país. Naquele ano, o Brasil tinha 71,94 milhões de mulheres e 71,91 milhões de homens.
A vantagem feminina na população passou a aumentar nas décadas seguintes. Em 2000, havia 1,1 milhão de mulheres a mais que homens.
E essa prevalência de mulheres se intensificará no futuro também. Em 2060, a espera-se que haja 5,9 milhões de mulheres a mais que homens na população, com distribuição de 51,4% da população de mulheres e 48,6% de homens.
A partir de 1980, as mulheres brasileiras passaram a ter menos filhos. O cenário econômico era de crise e do fim da Ditadura Militar no Brasil. Se a inflação e as taxas de desemprego aumentaram, a participação política e os movimentos sociais também ganharam destaque.
As taxas de fecundidade caíram vertiginosamente dos anos 1980 até os anos 2000 no Brasil, registrando uma queda de 63,59%. O índice saiu de 4,12 filhos por mulher para 2,39 filhos, em média.
Os grupo etários que passaram a ter menos filhos nesse período foram as mulheres entre 25 e 29 anos e de 30 e 34 anos, que, em 2000, tinham metade dos filhos que as progenitoras de 1980.
Entre as mulheres de 25 a 29 anos, a taxa caiu de 0,21 para 0,12 filhos por mulher entre as duas décadas. Já no grupo entre 30 e 34 anos, passou de 0,16 para 0,08.
Já as mulheres mais novas, entre 15 e 19 anos, são o único grupo que tiveram aumento da taxa de fecundidade. Em 1980 elas tinham, em média, 0,08 filhos por mulher e passaram a ter 0,09 filhos.
Segundo estudos do IBGE, a redução no número de filhos foi um processo que começou a se intensificar na década de 1980 e deve ser ainda mais intenso no futuro.
Projeções apontam que a taxa de fecundidade entre as mulheres brasileiras deve chegar a 1,5 filhos por mulher a partir de 2034, número que deve se manter estável até 2060.
Entre essas duas décadas, a expectativa de vida aumentou 7,24 anos e passou de 62,58 anos em 1980 para 69,83 anos em 2000.
O crescimento foi ainda maior entre as mulheres, que viviam 65,69 anos em 1980 e passaram a ter uma expectativa de vida de 73,92 em 2000, um crescimento de 8,23 anos.
A brasileiras já viviam mais que os homens em 1980: a diferença entre os dois gêneros era de cerca de 6 anos. No entanto, duas décadas depois, essa disparidade aumentou ainda mais e elas passaram a ter uma expectativa 7,9 anos maior do que os homens.
O cenário de projeções do IBGE aponta uma expectativa de vida de 81,20 anos entre os brasileiros até 2060, cerca de 18,6 anos a mais do que era esperado na década de 1980.