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Estamos longe de resolver a crise, avalia cientista político

Na prática, o País ainda está longe de superar a crise que se abateu em várias áreas, como política, econômica, social e moral


	Impeachment: "Na substância, o País ultrapassou uma etapa de sua crise, mas estamos longe da superação"
 (Adriano Machado / Reuters)

Impeachment: "Na substância, o País ultrapassou uma etapa de sua crise, mas estamos longe da superação" (Adriano Machado / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2016 às 15h29.

São Paulo - A aprovação da admissibilidade do processo de impeachment no domingo, 17, pelo plenário da Câmara dos Deputados é apenas uma fase do processo.

Na prática, o País ainda está longe de superar a crise que se abateu em várias áreas, como política, econômica, social e moral.

A avaliação é do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

"Minha sensação particular é de acordar com ressaca, depois de uma jornada complicada de pronunciamentos repetitivos que se prolongaram, um espetáculo deprimente sob vários aspectos. Isso é a forma. Na substância, o País ultrapassou uma etapa de sua crise, mas estamos longe da superação. O impeachment nunca é desejável, mas às vezes é inevitável."

No seu entender, o governo da presidente Dilma Rousseff se mostra apático e sem capacidade de reação. "O mais plausível é a sequência do processo no Senado."

Com o provável afastamento de Dilma e a entrada do hoje vice Michel Temer no comando do País, Melo avalia que, do ponto de vista econômico, poderá haver espaço para discussões mais amplas e retomada da credibilidade dos investidores.

Ele lembra que o governo petista rompeu o elo de diálogo com o Parlamento, peça fundamental na aprovação de uma agenda para o crescimento.

O professor do Insper argumenta que os votos favoráveis ao impeachment na Câmara (367) são suficientes para aprovar tal agenda, com a ressalva de que os votos desses deputados são heterogêneos, com vários tipos de interesse.

"Mas, pelo menos, pode-se retomar a agenda e Temer tem um tempo muito curto para isso."

Gestão Temer

Carlos Melo diz que, enquanto a presidente Dilma tem hoje em torno de 20% de apoio na sociedade, um eventual governo Temer parte de 20% contrários a ele, mas não pode dizer ter 80% a seu favor.

"Ninguém foi para a rua pra pedir pelo Michel Temer. Pesquisas mostram que há ceticismo com relação a ele. Além disso temos um Congresso que não é qualitativamente de ordem superior, muito provinciano e paroquial, pouco afeito às grandes questões do Estado e da nação, então teremos choque entre congresso paroquiano, uma sociedade que não está aí para defender Temer e uma pauta que tem duas características: é tão impopular quanto inevitável."

Para o especialista, o peemedebista terá um tempo muito curto para conquistar esses 80% de estoque de credibilidade possível, dar respostas rápidas para a economia e contentar o fisiologismo do Congresso.

PSDB

O cientista político levanta dúvidas se o PSDB vai, de fato, assumir um protagonismo na área econômica de um eventual governo do peemedebista Michel Temer.

Melo destacou que existe neste momento uma "antidisputa" entre as duas siglas para a ocupação do espaço.

"Na minha opinião, o PMDB está louco para que o PSDB assuma a responsabilidade pela economia e o PSDB está dizendo que o governo é do Temer, portanto, ele é quem deve assumir essa responsabilidade."

Melo disse que a pauta econômica não é positiva, ao contrário, é complicada, impopular e trará desgaste, daí o mal-estar entre as duas legendas sobre assumir tal responsabilidade.

"Se o PSDB assume esta pauta e o desgaste for inevitável, os tucanos pagarão essa conta. E, se eles assumirem essa pauta e tudo der certo, o saldo positivo fica com Michel Temer, que seria o presidente da República."

Mesmo com a avaliação, ele diz que é inevitável o PSDB embarcar na gestão Temer, mas não necessariamente assumindo áreas-chave da economia, como o Ministério da Fazenda.

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