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Estádio amazonense vai custar meio bilhão de reais

Após demolição do combalido Vivaldo Lima, o estado do Amazonas prepara-se para construir uma arena milionária em Manaus. Mas e depois?

O estádio Vivaldo Lima, recém-demolido: reformá-lo seria 200 milhões mais barato que construir uma nova arena.  (.)

O estádio Vivaldo Lima, recém-demolido: reformá-lo seria 200 milhões mais barato que construir uma nova arena. (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - A três anos de receber os jogos da Copa de 2014, o Amazonas começa a tocar uma obra que pode revelar-se custosa aos cofres públicos: a construção de uma nova arena multiuso orçada em 500 milhões de reais, que vai ocupar o lugar do recém-demolido estádio Vivaldo Lima.

A questão é como tornar sustentável a Arena Amazonas antes e depois dos jogos. Num estado cuja média de público do futebol é 2 000 torcedores por partida e que não conta com nenhum clube nas séries de destaque do Campeonato Brasileiro, o novo estádio poderá receber até 47 750 torcedores. Em junho, o Tribunal de Contas da União divulgou um relatório mostrando que o projeto da Arena Amazônia não seria economicamente viável.

Há quem discorde e afirme que o novo estádio será orgulho dos amazonenses. Principal responsável pelo projeto da Copa do Mundo de 2014 em Manaus, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas, Marcelo Lima Filho, explica à EXAME o que motivou o governo a investir 500 milhões de reais em um estádio de futebol.

EXAME - O estado do Amazonas realmente precisava de um novo estádio?
Lima Filho - Num contexto de competição entre as cidades para sediar a Copa do Mundo, oferecer à Fifa e a Manaus um espaço como a Arena da Amazônia, se mostrou um diferencial estratégico.

O antigo estádio Vivaldo Lima - já demolido - tinha deficiências estruturais e características operacionais incompatíveis com os requisitos daquela entidade e o custo de reforma equivaleria ao de uma nova arena multiuso - vide exemplo do Maracanã. Não há dúvida também de que o futuro estádio será um novo ícone na paisagem urbana de Manaus e um novo ponto turístico capaz de receber eventos de grande porte.

EXAME - Qual o orçamento previsto para a construção da Arena e de onde virão os recursos?
Lima Filho - O orçamento previsto é de R$ 499 milhões de reais, dos quais R$ 375 milhões virão do BNDES à título de empréstimo.

EXAME - Como este investimento será amortizado, levando em consideração o baixo índice de público nos jogos de futebol em Manaus?
Lima Filho - A indústria de entretenimento é cada dia mais pujante e Manaus, com o 4º PIB per capita do Brasil, embora sondada para receber espetáculos de artistas nacionais e internacionais que gostariam de ter a Amazônia como pano de fundo de suas performances, ainda não dispunha da infraestrutura apropriada.

Quanto ao futebol, que é um conteúdo da mesma forma lucrativo e relativamente mais fácil de ser produzido, o governo, a partir do próximo ano, pretende estimular, por intermédio de incentivos fiscais, o apoio das indústrias instaladas no Pólo Industrial ao esporte profissional, fortalecendo o campeonato e restituindo os torcedores amazonenses às arquibancadas.
 


EXAME - O Tribunal de Contas da União divulgou um relatório em junho mostrando que o projeto da Arena Amazônia não seria economicamente viável. O projeto é realmente frágil?
Lima Filho - A (consultoria) Deloitte elaborou estudo de viabilidade econômico-financeiro apontando alternativas viáveis para criação de receitas.

No momento estamos elaborando o projeto executivo, oportunidade em que estão sendo discutidas alternativas, como a geração de energia fotovoltaica e a redução do número de assentos após o torneio, de sorte a arredondar a conta. Até fevereiro de 2011 esta fase estará concluída.

EXAME - Qual o custo de manutenção anual estimado para a Arena?
Lima Filho - O valor estimado é de 5 milhões de reais.

EXAME - Qual a expectativa de faturamento total do novo estádio?
Lima Filho – Em função do aperfeiçoamento do projeto, com a perspectiva de redução de despesas de operação a partir da redução do número de assentos e incremento de receitas, como a venda de energia fotovoltaica, os cálculos serão refeitos.

EXAME - O governo do Amazonas estuda transferir a operação da Arena à iniciativa privada após a Copa. Já existem interessados em assumir o controle do estádio?
Lima Filho - Estudamos os modelos de negócio de operação de estádios europeus, especialmente os portugueses e holandeses, para no futuro concedê-la a ente privado. O modelo da Amsterdam Arena (na Holanda) sem dúvida nos parece bastante interessante.

EXAME - Caso seja concretizado, como seria o modelo do negócio? Quanto e como o investidor pagaria ao estado do Amazonas?
Lima Filho – Ainda há algum tempo para definir o mais adequado à nossa realidade. Outras cidades, sem as dificuldades impostas pelo clima, tiveram a fortuna de poder primeiro discutir modelagens, colocando as obras em segundo plano. Como resultado, Manaus realmente atendeu ao cronograma da Fifa.

EXAME - Muitas pessoas consideram que uma grande reforma no antigo estádio Vivaldo Lima seria uma opção economicamente mais viável. O governo fez algum estudo neste sentido?
Lima Filho - Sim. Antes da tomada de decisão foram analisadas as vantagens e desvantagens de construir versus reformar. O Vivaldão foi construído havia 40 anos, com materiais que na época eram considerados de ponta, mas cuja deterioração era evidente.

Consideramos o investimento necessário à reforma, estimado em 300 milhões de reais, menos interessante que a construção de uma arena multiuso, mais versátil e que, sobretudo, orgulhasse os amazonenses, a exemplo do Teatro Amazonas.
 


EXAME - Quanto custou a demolição do Vivaldão?
Lima Filho - A demolição custará 11 milhões de reais. Vale destacar que tomamos algumas providências importantes para garantir que a Arena da Amazônia seja uma construção ecologicamente correta: além de reduzirmos o consumo de recursos naturais, mais de 75% dos resíduos da demolição serão reaproveitados na própria obra.

Ademais, assentos, refletores, gramado e estruturas metálicas foram doados a prefeituras do interior do Amazonas, que usarão este legado em equipamentos para recreação da população.

EXAME - Como foi feito e quantas empresas participaram do processo de licitação para a Arena Amazônia?
Lima Filho - O processo de contratação da obra Arena obedeceu aos procedimentos previstos na Lei das Licitações 8.666/93. Dezoito empresas adquiriam o edital e duas grandes empreiteiras foram habilitadas à fase final do certame.

EXAME - O processo foi contestado pelo Ministério Público por problemas de restrição de concorrência. O que houve?
Lima Filho - Os critérios de qualificação jurídica, econômica, técnico-profissional e técnico-operacional seguiram o que preconiza o Tribunal de Contas da União e foram feitas exigências compatíveis com a complexidade e o porte da obra, qualidade exigida, prazos de execução, de forma a assegurar a correta execução dos trabalhos alinhados aos critérios técnicos e prazos estabelecidos pela Fifa.

Aventureiros não seriam bem-vindos.
É a imagem do Amazonas e do Brasil que estará em xeque, a exemplo do que aconteceu com a África do Sul, bastante criticada pela demora nas obras de seus estádios. Previamente à licitação, parte das recomendações do Ministério Público foram atendidas, e outra parte foi justificada satisfatoriamente. Todos ganharam com o diálogo.

EXAME - Qual foi a construtora vencedora da licitação? Quando deve começar a construção e quando a obra deve ficar pronta?
Lima Filho - A empresa vencedora foi a construtora Andrade Gutierrez, que apresentou a melhor proposta com o menor preço. A Ordem de Serviço foi assinada em 1° de julho de 2010 e o prazo para execução das obras é de 36 meses. Contudo, há disposição e possibilidade de antecipar este cronograma em pelo menos 6 meses.
 


EXAME - Quais são, hoje, as principais carências do estado do Amazonas e da cidade de Manaus? Por exemplo, qual é o índice de coleta de esgoto na cidade, a situação da habitação, da saúde e da educação?
Lima Filho - Manaus concentra uma população de quase 2 milhões de habitantes e, como é amplo conhecimento, o Estado do Amazonas tem investindo maciçamente em obras de infraestrutura urbana, saúde, educação e saneamento.

Merece destaque o premiado Programa Sócio Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIN, financiado pelo BID que requalificou a cidade nos aspectos urbanísticos e ambientais dos igarapés, bem como reassentou milhares de famílias que viviam em condição de risco. Também é escopo do Projeto a complementação da rede de coleta de esgoto na região central da cidade.

O programa já entregou 1 341 unidades habitacionais. Também merece destaque o PROAMA, no qual mais de 200 milhões de reais estão sendo investidos no fornecimento de água potável com foco principal nas zonas Leste e Norte, as mais populosas da cidade. Nenhum estado da federação investe proporção maior de seu orçamento na saúde.

Atualmente a cidade conta com 57 unidades de saúde dentre maternidades, hospitais, laboratórios, entre outros. No interior, hospitais de média e baixa complexidade foram construídos ou reformados. No que diz respeito à segurança pública, Manaus está entre as capitais mais seguras do Brasil, segundo os principais indicadores.

EXAME - As carências do estado não deveriam ser prioritárias quanto a um investimento público de 500 milhões de reais?
Lima Filho - O investimento de 500 milhões na Arena da Amazônia e a condição de cidade-sede da Copa de 2014 impulsionarão o desenvolvimento sócio-econômico, induzindo investimentos privados e antecipando investimentos públicos que provavelmente não seriam aportados em outro contexto.

Estudos preliminares realizados pela Secretaria de Estado de Planejamento prevêem um impacto econômico direto de 4,5 bilhões de reais, com geração de 67 936 empregos diretos, bem como 11,2 bilhões de reais de impacto econômico indireto, com geração de 169 433 empregos indiretos. São perspectivas bastante animadoras, já perceptíveis pela população.

Leia mais: No Amazonas, onde só 11% da população tem serviço de esgoto, o governo quer gastar 500 milhões de reais num estádio para a Copa

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