Antonio Donato: embora tenha confirmado conhecer Ronilson Bezerra Rodrigues, funcionário da Prefeitura acusado de participar do esquema, negou tê-lo indicado para cargo público (Divulgação/Ricardo Weg/PT)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2013 às 08h58.
São Paulo - O secretário de Governo Municipal de São Paulo na gestão de Fernando Haddad, Antonio Donato, negou ter recebido dinheiro de servidores públicos presos acusados de participarem de um esquema de propina na Prefeitura de São Paulo. Donato diz "não fazer o menor sentido pedir dinheiro para servidor".
Escutas telefônicas feitas pelo Ministério Público Estadual mostram conversas do auditor Luis Alexandre Magalhães, um dos 4 funcionários da Prefeitura presos acusados por participar do esquema, e liberado na madrugada desta segunda-feira, 4, com uma mulher apontada como sua amante. Na conversa, a mulher cita o nome de Donato como tendo recebido dinheiro de Magalhães.
O secretário, no entanto, afirmou que o esquema de fraude, para ele, foi "uma grande surpresa". Embora tenha confirmado conhecer Ronilson Bezerra Rodrigues, funcionário da Prefeitura acusado de participar do esquema, negou tê-lo indicado para o cargo de secretário de Jilmar Tatto, na secretaria de Transportes de São Paulo.
"Não o indiquei para o Tatto. Todos os diretores financeiros das empresas passam pelo secretário de Finanças, Marcos Cruz. Sugeri que o Rodrigues fosse aproveitado em alguma das empresas municipais."
Donato afirmou conhecer Rodrigues apenas como um "funcionário capacitado, com bagagem técnica". E completa: "O Marcos Cruz também o conhecia porque, na transição, ele foi indicado pelo Mauro Ricardo para fazer a transição. Quem indica o Rodrigues para o Tatto é o Marcos Cruz, não sou eu. A nomeação foi em fevereiro, quando não havia acusação contra ele. A única havia sido arquivada".
Perguntado sobre se conhecia os demais acusados de participar do esquema, o secretário Donato admitiu que sim, mas se valeu da mesma explicação anterior: "Conhecia como conheço vários funcionários. Conheci (o Luis Magalhães) como vereador. Ele me procurou para se colocar à disposição. Foi em 2008, durante a eleição. Mas não é uma relação que se estendeu. O Barcellos eu conheci em 2009, nessa questão: ele cuidava do IPTU e deve ter ido à Câmara para tratar disso. Já o Lallo, disse não conhecer.
Ex-corregedor
O então corregedor da gestão Gilberto Kassab (PSD), Edilson Mougenot Bonfim, afirmou, no domingo, 3, que tinha suspeitas sobre os bens acumulados por Ronilson Bezerra Rodrigues. Bonfim disse que desconfiou do "contorcionismo que Rodrigues fazia para explicar o patrimônio". Ele conduziu apuração separada da que o ex-secretário Mauro Ricardo mandou arquivar.
Desde setembro do ano passado a Prefeitura suspeitava do fiscal Rodrigues, que agora é apontado como suposto chefe do esquema que causou prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais. Naquele mês, Rodrigues foi interrogado por Bonfim.
Dois meses depois do interrogatório, a Secretaria de Finanças recebeu uma denúncia anônima sobre o esquema, citando Rodrigues. Conforme o jornal O Estado de S. Paulo mostrou anteontem, o documento era endereçado também a Kassab e à equipe de transição do prefeito Fernando Haddad (PT). Mas o então secretário de Finanças, Mauro Ricardo Machado Costa, recomendou arquivar um procedimento contra ele em dezembro, por considerar que não havia indícios do esquema e de enriquecimento fora do comum.
Além de Bonfim, o interrogatório com Rodrigues foi feito na presença de dois assessores, César Bocuhy e Rodrigo Yokouchi Santos - este último permaneceu na administração de Haddad.
A investigação que permitiu a emissão de mandados de prisão para os fiscais Carlos di Lallo Leite do Amaral, Eduardo Horle Barcelos e Luis Alexandre Cardoso Magalhães começou em março deste ano, após cruzamento de dados do patrimônio declarado dos servidores com a renda mensal deles. O ex-corregedor disse que deixou o cargo perto do Natal, antes de terminar a investigação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.