Proposta do presidente Jair Bolsonaro aumenta pontuação de 20 para 40 (Pedro França/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de junho de 2019 às 08h41.
São Paulo — Especialistas em engenharia de tráfego, segurança viária, medicina e direito do trânsito manifestam receio de que as medidas trazidas pelo projeto de lei que aumenta o limite resultem na elevação de acidentes fatais no país, caso sejam aprovadas. Em 2017, cerca de 35 mil brasileiros morreram nas ruas e estradas - a maior parte deles homens e de idade entre 20 e 39 anos.
O ponto central das críticas é o aumento do limite de pontuação da Carteira Nacional de Habilitação, que passaria de 20 para 40. "Apesar de aparentemente ser benéfico, ele só beneficia 5% da população, que são os chamados 'infratores contumazes', aqueles que mais tomam multa", diz José Aurelio Ramalho, diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária.
"Vai aumentar as infrações com certeza, as pessoas vão afrouxar sua segurança", diz o membro da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB-SP) Maurício Januzzi.
Mestre em Engenharia da transportes pela Universidade de São Paulo (USP), Horácio Augusto Figueira diz que o limite maior proporciona "relaxamento (para o motorista) em termos psicológicos". Ele ainda questiona a fonte dos estudos que justificaram a mudança, lembrando que os 20 pontos foram estabelecidos em 1997, após uma série de estudos com base em dados internacionais.
O sistema de pontos é presente em todo o mundo, com variações até mesmo regionais. Na maior parte da Austrália, por exemplo, é de 12 pontos.
A Itália, em 2003, e a Alemanha, em 2014, adotaram um modelo mais restritivo. O congresso paraguaio recebeu em abril um projeto de implementação de um sistema mais rígido, com 20 pontos de limitação.
Por outro lado, o fim do exame toxicológico foi melhor recebido pelos especialistas. O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Trânsito (Abramet) afirma que a exigência, da forma como é feita, não é eficiente. "Fomos contra desde a discussão no Legislativo", afirma. Para ele, o teste deveria ser feito no local de trabalho e na estrada, durante blitze, e não em clínicas.
O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de São Paulo (Sindicam-SP), Norival Almeida Silva, também defende a extinção dos exames. "Quem é viciado (em drogas) tem a janela de 90 dias para não usar e passar no teste."