Genebra - Cientistas e reguladores estão reunidos desde esta segunda-feira em Genebra para determinar em que ponto está a epidemia do vírus do zika para estabelecer as medidas para combater a doenças e suas consequências.
Até o momento as evidências da relação entre o vírus do zika e o aumento dos casos de microcefalia no Brasil e da síndrome de Guillain-Barré em nove países continuam a crescer, mas ainda não são suficientes para declarar uma causalidade direta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) quer avaliar todos os dados disponíveis e conhecer de perto todos os estudos relacionados com o vírus e suas consequências.
É por isso que convocou uma reunião de três dias, que começou hoje, em, que os especialistas analisarão especificamente o conhecimento científico que se tem da doença e de suas implicações sobre a saúde pública.
O segundo aspecto crucial será determinar quais aspectos da luta contra o fenômeno estão mais avançados, quais não, e o que é preciso para acelerá-los: controle vetorial, diagnósticos, vacinas, etc.
A OMS defende estabelecer uma plataforma onde todos os pesquisadores possam saber o resultado das pesquisas dos colegas.
Além disso, será discutido novamente o espinhoso tema do compartilhamento de amostras de sangue.
Participarão cientistas, agentes reguladores - para acelerar o processo de autorização das novidades - instituições médicas e autoridades sanitárias dos países afetados.
Em janeiro, após uma reunião do Comitê de Emergências da OMS, a entidade decretou que os casos de microcefalia e sua possível relação com o vírus do zika são uma emergência sanitária de alcance internacional.
Amanhã o Comitê de Emergências voltará a se reunir para analisar três aspectos chave: se os casos de microcefalia e sua relação com o zika continuam a ser uma emergência sanitária; se as recomendações feitas sobre viagens e comércio quando a emergência foi anunciada continuam válidas; e se há ou não uma resposta internacional coordenada e efetiva.
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1. Zika
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1/10 (Marvin Recinos / AFP)
São Paulo – Descoberto em 1947, o vírus
zika foi nomeado a partir da floresta na qual foi descoberto, a Floresta de Zika, em Uganda. No entanto, nessa época, ele não atingia o ser humano, mas, sim, os macacos na região. Até 2007, somente 14 casos de humanos com a doença haviam sido constatados na
África e na
Ásia. A maioria das pessoas infectadas não apresentavam sequer sintomas que indicassem o contagio. Mas esse cenário mudou. Em maio de 2015, a Organização de Saúde Panamericana divulgou um alerta sobre os primeiros casos de transmissão do vírus no Brasil. O zika é uma epidemia no território nacional, sendo motivo de preocupação para a Organização Mundial da Saúde e alvo de campanhas do
Ministério da Saúde, que buscam reduzir a quantidade dos mosquitos que transmitem a doença, principalmente o Aedes aegypti – que também pode transmitir a dengue e o chikungunya. Com isso, diversos pesquisadores dedicaram seus esforços para descobrir mais sobre o zika. Confira, a seguir, o que a ciência já sabe sobre esse vírus.
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2. Sintomas
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2/10 (Wikimedia Commons)
Mais de 80% das pessoas que têm o vírus zika não apresentam sintomas. Mas a doença pode causar febre intermitente, dor de cabeça, cansaço, dores no corpo, manchas vermelhas na pela e conjuntivite. No entanto, novos sintomas ainda podem aparecer conforme o número de casos aumenta. Os sintomas desaparecem após um período de dois a sete dias.
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3. Transmissão
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3/10 (Wikimedia Commons)
A transmissão do zika se dá pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e do Aedes albopictus, sendo que o primeiro é o que tem maior quantidade no Brasil. No entanto, a ciência já identificou evidências de transmissão pelo leite materno, por
saliva e pelo
sêmen. "O Zika vírus foi encontrado de forma ativa, ou seja, com capacidade de infecção, na urina e na saliva", disse em entrevista coletiva o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, no Rio de Janeiro. O Ministério da Saúde, entretanto, reconhece somente o mosquito como vetor do vírus e diz que as demais formas de transmissão ainda requerem pesquisas. Os insetos se reproduzem em água parada, limpa ou suja.
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4. MIcrocefalia
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4/10 (Ueslei Marcelino / Reuters)
A relação entre o vírus zika e o
aumento de casos de bebês que nasceram com microcefalia no Brasil ainda é alvo de estudos científicos mais aprofundados, como o que a USP conduz atualmente com 3 mil gestantes, e que deve ficar pronto no final do ano que vem. O número de recém-nascidos com a má-formação cerebral potencialmente ligada ao zika foi de 4.783 casos suspeitos de microcefalia no país desde outubro, mas 709 deles foram descartados, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Em um estudo divulgado em 29 de janeiro, pesquisadores afirmam ter encontrado o
RNA do vírus zika no líquido aminiótico – ou seja, o líquido que protege o bebê durante a gravidez – de duas mulheres grávidas cujos fetos tiveram microcefalia. Mas em um relatório divulgado em 5 de fevereiro, a OMS afirma que ainda é preciso realizar mais
pesquisas para determinar a relação da doença com a microcefalia, apesar da epidemia do vírus e do aumento de bebês com má-formação cerebral acontecerem concomitantemente no Brasil.
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5. Olhos
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5/10 (BananaStock/Thinkstock)
A Universidade Federal de São Paulo identificou que ao menos 13 crianças com microcefalia ligada ao vírus zika em Salvador e Recife apresentam
lesões oculares que podem ocasionar a cegueira. Em enormes áreas não existe tecido nervoso. É como se fosse uma tela de televisão com uma parte esburacada, preta, sem condições de enxergar mais", disse ao Estadão o oftalmologista Rubens Belfort Jr, que liderou o estudo.
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6. Repelentes
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6/10 (Wikimedia Commons)
Repelentes naturais
não ajudam a proteger contra o Aedes Aegypti. Ou seja, produtos a base de cravo, citronela ou andiroba, por exemplo, não têm comprovação científica nem sequer são registrados pela Anvisa. Há repelentes que contam com esses componentes, mas têm outro princípio ativo. A
recomendação principal da OMS é que as mulheres grávidas cubram o corpo em locais em que a taxa de transmissão do zika é alta.
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7. Resposta imune
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7/10 (USP)
Assim como acontece no caso da dengue, a resposta imune do organismo que já contraiu o zika não nos protege de variações do vírus. Com isso, a reação do organismo ao segundo contagio da doença pode potencializar os sintomas, assim como acontece no chamado síndrome do choque da dengue.
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8. Vacina
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8/10 (Wikimedia Commons)
Por conta dessa resposta imune ineficiente a diferentes tipos de zika, uma vacina contra o vírus ainda está longe de chegar ao consumidor final. Testes devem começar dentro de
18 meses ou dois anos. Na visão de cientistas da Universidade do Texas que visitaram o Brasil recentemente para fins de pesquisa, a vacina pode demorar até
10 anos para ser comercializada.
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9. Paracetamol
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9/10 (Wikimedia Commons)
Não há tratamento para o vírus em si, somente para os sintomas que ele pode apresentar. Por isso, somente acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona são recomendados para controlar a febre e as dores no corpo. Para as manchas vermelhas que podem aparecer na vítima, medicamentos anti-histamínicos podem ser prescritos por médicos.
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10. Síndrome de Guillain-Barré
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10/10 (Wikimedia Commons)
Em casos raros, há
evidências de que o vírus zika é capaz de desencadear a síndrome de Guillain-Barré. Essa doença pode causar desde fraqueza muscular até a paralisia de membros. 24 casos foram identificados em Rio Grande do Norte entre os meses de abril e junho do ano passado em 2015. Em Pernambuco, foram pelo menos 130 casos, na Bahia, 55, e no Maranhão, 14. O maior risco da síndrome de Guillain-Barré é quando a doença afeta os músculos respiratórios, o que pode causar a morte da pessoa se não foram tomadas medidas de suporte respiratório.