naesthesiologist injected propofol induction solution for general anaesthesia (ChaNaWiT/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 1 de maio de 2020 às 16h47.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 17h37.
Um dia depois do secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, admitir que, com o número crescente de casos de Covid-19, não haverá respiradores suficientes para todos os pacientes em estado grave, o Estado já estuda critérios para escolher quais doentes terão direito a uma vaga em UTI.
De acordo com o protocolo técnico que está em análise, e que vai tirar o peso da “escolha de Sofia” dos ombros dos médicos, serão avaliadas as condições dos pacientes e atribuídos pontos, que vão de zero (boa) a 24 (ruim). Quanto menor a nota, mais chances o doente terá de conseguir um leito.
O primeiro item analisado será o funcionamento de seis órgãos, como pulmões, rins e coração. Depois disso, os médicos vão atribuir nota ao paciente que luta pela vida de acordo com a existência, ou não, de doenças preexistentes.
Quem tiver algum problema que pode ser fatal, independentemente da Covid-19, em até um ano, ganhará quatro pontos e ficará atrás, na fila, de quem não tiver nenhum mal (zero ponto) ou de quem tenha alguma comorbidade que permita sobrevida maior do que um ano (dois pontos).
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Além disso, o documento, que já foi assinado por Renata Carnevale de Miranda, subsecretária de Regulação e Unidades Próprias, do estado, e aguarda apenas o aval do secretário Edmar Santos para ser publicado no Diário Oficial, também prevê critérios de desempate, caso haja pontuações idênticas.
O primeiro é se o paciente está em ventilação mecânica, já ligado a um respirador. O segundo é a idade do doente. Quem tiver até 60 anos ganhará uma vaga antes dos que têm entre 61 e 80 anos. Os acima dos 80 ficarão por último na disputa por um leito de UTI. De acordo com a proposta, profissionais que atuem diretamente no combate ao coronavírus terão prioridade, caso precisem de tratamento intensivo. Por fim, será analisada a ordem de solicitação da vaga.
Solução é ter mais leitos
Para o ex-chefe de cardiologia do Hospital dos Servidores Luis Maurino Abreu, que trabalha há mais de 35 anos em UTIs, o protocolo pode deixar muitos doentes desassistidos. Ele defende que é melhor criar mais leitos de UTI do que escolher quem tem chances de sobreviver, ou não.
— Com o escore, sempre teremos pacientes com potencial de recuperação que não serão contemplados. Se a situação se agravar, só terão acesso à UTI pacientes dentro de uma pontuação mais favorável. A melhor alternativa é ter mais leitos de UTI — diz.
Abreu diz ainda que que a decisão de escolher quem poderá usar ou não um respirador marcará a vida de todos os médicos que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus:
— Estamos mandando todos para a guerra, até os jovens que não estão tão preparados para enfrentar uma pandemia como essa — afirma.
O documento, desenvolvido pelos integrantes da secretaria em conjunto com outras entidades, como o Conselho Regional de Medicina do Rio e a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, diz que a escolha terá que ser feita porque haverá “uma inevitável sobrecarga dos equipamentos de saúde quando alcançado o período de ápice de infecção, havendo a imediata necessidade de se promover soluções que evitem o colapso da rede estadual”.
Segundo o texto, o grupo de trabalho levou em consideração os “Princípios de Triagem em Situações de Catástrofes” da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a resolução do Conselho Federal de Medicina que estabelece os critérios de admissão e alta em unidades de terapia intensiva, além de um protocolo publicado no “Journal of the American Medical Association’’.