Rafael Correa: no início de junho, o presidente equatoriano já havia alertado que Quito reagiria com "maior radicalismo" caso Dilma seja afastada definitivamente (Meridith Kohut/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2016 às 18h51.
Genebra - O governo do Equador afirma que irá "avaliar" sua relação diplomática com o Brasil se o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff for adiante.
Respondendo à reportagem durante uma visita à ONU, o chanceler equatoriano Guillaume Long deixou claro que, por enquanto, não terá um embaixador em Brasília.
"Convocamos nosso embaixador de volta para Quito para consultas e esse embaixador foi enviado agora como representante do país na ONU em Nova York", disse. "Hoje, portanto, não temos um embaixador no Brasil e estamos esperando o processo (de impeachment) para ver o que vamos fazer", afirmou.
Atualmente, o Equador não rompeu relações diplomáticas com o Brasil e Long se recusa a antecipar qual será a decisão. "Mas decisões virão com o impeachment e vamos avaliar", disse. "A presidente constitucional do Brasil é Dilma ainda. Ela não saiu."
No início de junho, o presidente equatoriano Rafael Correa já havia alertado que Quito reagiria com "maior radicalismo" caso Dilma seja afastada definitivamente.
Nesta quarta-feira, 29, Long voltou a advertir sobre a crise política no Brasil e o que poderia ser o impacto na relação com Quito. "A situação é muito preocupante", disse. "Qualquer coisa que mine o resultado de uma eleição e o mandato de uma pessoa é algo que nos preocupa", afirmou.
"Sem interferir no processo no Brasil, existe a preocupação de que Dilma não está sendo acusada com base em corrupção. É uma crise sistêmica e muitas das acusações são administrativas. Não conheço exemplos na história de um impeachment com base administrativa", disse.
Questionado sobre a situação da empreiteira Odebrecht no Equador, o chanceler evitou dar uma resposta. "Isso é para uma negociação", afirmou, justificando que o assunto não lhe cabia.
Em outubro de 2008, Correa anunciou a expulsão da construtora brasileira pelo que chamou de "estafa" em obras de uma usina de energia. Dois anos depois, a empresa voltaria a atuar no País.
Em janeiro de 2016, Correa negociou com Dilma uma reaproximação ainda maior, esperando o financiamento do Brasil para obras e mesmo o avanço da Odebrecht em licitações locais. O comércio bilateral com o Brasil passou de US$ 300 milhões para US$ 783 milhões entre 2003 e 2015.
Em maio, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que governos aliados à administração de Dilma, como Cuba e Venezuela, haviam circulado cartas e alertas às entidades internacionais sobre o "golpe" ocorrido no Brasil com o afastamento da presidente.
Questionado se outros governos seguiriam sua mesma opção de repensar a relação com o Brasil, Long apontou positivamente. "Todos podem fazer isso."