Brasil

"Epicentro do coronavírus não recebeu nenhum respirador ou EPI", diz Doria

"Nenhum avental ou máscara sequer", disse o governador, que também criticou liberação da cloroquina: "Não se prescreve receita por decreto"

Hospital em São Paulo. (Rodrigo Capote/Bloomberg/Getty Images)

Hospital em São Paulo. (Rodrigo Capote/Bloomberg/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de maio de 2020 às 14h24.

Última atualização em 18 de maio de 2020 às 14h35.

O governador de São Paulo, João Doria, reclamou em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (18) da falta de atenção do governo federal para com o estado, o mais afetado pelo coronavírus no país.

"O epicentro do coronavírus não recebeu nenhum respirador do governo federal. Zero de EPI (equipamento de proteção individual), nenhum avental ou máscara sequer. E ainda faltam 1200 leitos [de UTI] para habilitar", disse Doria.

São Paulo tem 63.006 pessoas infectadas e 4.823 mortes pelo coronavírus. A taxa de ocupação dos leitos de UTI é de 69,8% em todo o estado e 89,3% na grande São Paulo.

A maior parte da coletiva de hoje, que também contou com a presença do prefeito Bruno Covas, foi dedicada aos projetos que pretendem antecipar feriados de forma a aumentar os índices de isolamento social, após o fracasso da ideia do rodízio ampliado.

Mas Doria também foi questionado sobre a cloroquina, medicamento tradicionalmente usado contra a malária e que inicialmente parecia promissor no tratamento contra a covid-19.  Os últimos estudos científicos não mostram benefícios da droga.

A resistência do ex-ministro Nelson Teich em assinar um protocolo liberando o uso da droga em casos leves da doença, como pede o presidente Jair Bolsonaro, foi o estopim para sua saída. Hoje, a pasta orienta o uso do remédio apenas em casos moderados ou graves devido ao risco de efeitos colaterais.

"A cloroquina pode ser usada com indicação do médico para caso específico. E assim mesmo ela tem riscos que precisam ser informadas ao paciente. A cloroquina não é uma bala de prata. Não pode ser usada de maneira preventiva", disse Dimas Covas, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.

A expectativa é que o atual ministro interino e ex-secretário executivo da pasta, general Eduardo Pazuello, assine o decreto pedido pelo presidente, em decisão criticada hoje por Doria.

"Não se prescreve receita por decreto. Portanto, São Paulo não vai aceitar que por decreto se estabeleça receituário médico. Em nenhuma parte do mundo se trata saúde por decreto lei ou por medida de ordem política", disse Doria.

O governador, que vem tendo embates públicos com o presidente e assumiu uma espécie de liderança informal entre os governadores, subiu o tom no final da coletiva.

"Eu espero que o governo federal não faça seletividade política dos brasileiros que podem ou não podem sobreviver. Tenho a convicção de que isso não será feito. Se for feito, quero dizer que São Paulo vai reagir", disse Doria.

"Se tivermos um ministro da Saúde que não respeite a necessidade, a prioridade de SP pelo fato de sermos o centro do coronavírus no país, com o número de mortes em mais de 4.800 pessoas, mais de 63 mil infectados, para continuar a não receber respiradores, EPI, leitos e a atenção desejada, o governo federal estará decretando a morte de brasileiros em São Paulo", disse Doria ao encerrar a coletiva.

Acompanhe tudo sobre:CloroquinaEstado de São PauloJair BolsonaroJoão Doria JúniorMinistério da SaúdeNelson Teich

Mais de Brasil

Enem 2024: prazo para pedir reaplicação de provas termina hoje

Qual é a multa por excesso de velocidade?

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi