Envenenamento de Lula e eliminação de Alckmin
Segundo a investigação, os acusados utilizaram o codinome JECA para se referir ao presidente Lula. O plano “Punhal verde-amarelo”, revelado pela PF, indicava que a "neutralização" de Lula abalaria toda a chapa vencedora. Para o assassinato, os suspeitos sugeriram envenenamento ou uso de químicos que causariam um colapso orgânico.
"Para execução do presidente LULA, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", aponta a investigação.
O vice-presidente Geraldo Alckmin era citado como JOCA. O texto do plano operacional indicava que, na inviabilidade do “01 eleito” (Lula), a “neutralização” do vice-presidente seria necessária para extinguir a chapa vencedora.
"Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de GERALDO ALCKMIN que a chapa vencedora estaria extinta", apontaram os investigadores.
Uma terceira pessoa, referida como JUCA, foi mencionada como alvo de neutralização para desarticular os "planos da esquerda mais radical". Contudo, os investigadores não obtiveram elementos suficientes para identificar quem seria essa pessoa.
Plano para prender e executar Moraes foi discutido no grupo "Copa 2022"
Mensagens obtidas pela PF mostram que os militares investigados chegaram a se posicionar em Brasília para tentar prender, sequestrar e executar o ministro Alexandre de Moraes.
"As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo 'Copa 2022' demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o ministro Alexandre de Moraes", afirma a PF.
Às 20h33 daquele dia, um dos integrantes enviou mensagem relatando que estava no estacionamento de um restaurante no Parque da Cidade, área central de Brasília. Ele escreveu: "Estacionamento da troca da primeira vez", em referência ao local onde seria executada a ação.
"Segundo a autoridade policial, o local inicial, onde a pessoa com o codinome ‘Gana’ estava para cumprir a ação planejada, reforça que os investigados estavam executando um plano para, possivelmente, prender o Ministro ALEXANDRE DE MORAES, no dia 15 de dezembro de 2022", diz Moraes em sua decisão.
Não ficou claro nos documentos divulgados o motivo pelo qual os investigados não executaram o plano. Mensagens revelam que uma das lideranças orientou para que o grupo se desmobilizasse e "voltasse ao local de desembarque".
Investigados usaram aplicativos e codinomes para ocultar planos
De acordo com a PF, seis pessoas participaram do planejamento e, para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, utilizaram o aplicativo Signal, que oferece criptografia avançada, e usaram codinomes associados a países.
A investigação revelou que, no dia 3 de dezembro de 2022, quatro números de telefone habilitados sequencialmente em localidades próximas foram usados para discutir os golpes e assassinatos. Segundo os investigadores:
- As linhas de telefonia móvel foram habilitadas em nome de terceiros, sem relação com os fatos investigados;
- Foi criado um grupo denominado ‘Copa 2022’ no aplicativo Signal;
- Os participantes adotaram codinomes (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana).
General detalhou armas e justificou "danos colaterais"
O documento elaborado pelo general Mário Fernandes em 9 de novembro de 2022 detalhava as armas que seriam utilizadas, incluindo munições de alto impacto, como para a metralhadora leve M249, granadas de fragmentação de 40mm e o lança-rojão AT4.
A PF destacou que o documento avaliava riscos e impactos, justificando que "danos colaterais possíveis e aceitáveis" poderiam ocorrer. Isso incluía, além das mortes das autoridades-alvo, a possibilidade de baixas na equipe de segurança e até nos próprios militares envolvidos na operação. O objetivo seria "neutralizar o centro de gravidade", expressão usada para se referir a obstáculos ao golpe de Estado.
Suspeitos queriam criar "Gabinete Institucional de Gestão da Crise"
Entre os documentos encontrados com Mário Fernandes estava a minuta para criar um "Gabinete Institucional de Gestão da Crise". Segundo a PF, o texto previa que o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, lideraria o grupo, com Braga Neto como coordenador-geral. A assessoria estratégica incluiria o próprio Mário Fernandes e o coronel Elcio, enquanto Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, ficaria responsável pelas relações institucionais.
O gabinete teria como função "estabelecer diretrizes para gerenciamento da crise institucional" após o golpe planejado.
Com essas descobertas, a PF apontou a conexão entre militares e os atos golpistas, além da possível ligação entre os investigados e o Palácio do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro.