Policiais militares de São Paulo: de acordo com levantamento da Abraji, 75% dos 118 ataques que apurou desde junho, contra 108 profissionais de imprensa, partiram de PMs (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2014 às 09h54.
Brasília - Entidades do setor de comunicação pediram ontem, 11, ao governo a entrada da Polícia Federal nas investigações de todos os assassinatos de jornalistas.
Além disso, a maior parte dos profissionais feridos na cobertura dos protestos de rua desde junho foi atingida deliberadamente, por registrar fatos, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes foi a primeira envolvendo o ataque de um manifestante. No entanto, outros seis profissionais foram assassinados em 2013 - a mando de grupos políticos, de agiotagem e de narcotráfico.
Em encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, representantes da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) criticaram os "abusos" da Polícia Militar durante as manifestações.
De acordo com levantamento da Abraji, 75% dos 118 ataques que apurou desde junho, contra 108 profissionais de imprensa, partiram de PMs. Os números são diferentes porque há casos de profissionais agredidos mais de uma vez. ANJ e Abert têm outro levantamento - com 126 registros.
"Em 60% dos casos, as agressões foram deliberadas, depois de o profissional identificar-se como jornalista", diz o presidente da Abraji e colunista do jornal "O Estado de S.Paulo", José Roberto de Toledo. "Claramente, os locais com maior violência foram Rio de Janeiro e São Paulo, com destaque também para Brasília", explica.
"Acho assombroso esse número de agressões deliberadas. Indica uma intenção de intimidar os jornalistas e, em última análise, de impedir o trabalho deles. Portanto, é um atentado contra a liberdade de expressão e de informação."
Luto
No encontro em Brasília, as entidades enfatizaram que o "despreparo" das polícias favoreceu o clima de violência. O presidente da ANJ, Carlos Fernando Lindenberg Neto, destacou que hoje o jornalista precisa trabalhar camuflado.
Já o presidente da Abert, Daniel Slaviero, criticou a "demora" no enfrentamento do problema. "Sem isso, possivelmente não estaríamos vivendo o luto pela morte de um colega."
Cardozo deixou claro que o governo pretende repartir com os Estados a responsabilidade de planejar um pacote de medidas. E anunciou que um grupo de trabalho para discutir especificamente crimes contra jornalistas começará a se reunir na terça no Ministério da Justiça.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.