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Entenda a polêmica em torno do alimento granulado de Doria

Prefeitura disse que houve confusão entre a legislação municipal e a publicidade de um produto, e que não há previsão de distribuição

João Doria lança programa Alimento para Todos em São Paulo (Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura/Divulgação)

João Doria lança programa Alimento para Todos em São Paulo (Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura/Divulgação)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 18 de outubro de 2017 às 10h38.

Última atualização em 18 de outubro de 2017 às 16h46.

São Paulo – O prefeito de São Paulo, João Doria, recebeu duras críticas após o lançamento da nova legislação sobre segurança alimentar da cidade no último domingo (dia 8).

Isso porque, logo em seguida, ele anunciou a distribuição de um salgadinho feito com alimentos ultraprocessados, de composição variável, que chegou a ser chamado de "ração" nas redes sociais.

Da forma como foi anunciado, o alimento parecia uma nova política municipal: o prefeito disse que começaria a distribuir o alimento ainda em outubro. No entanto, segundo a prefeitura, Doria estava apenas apresentando o produto.

No vídeo publicado no Twitter, Doria garante que a distribuição começa neste mês, mas, segundo a secretária de Direitos Humanos do município, Eloísa Arruda, as secretarias ainda estão começando a montar as diretrizes da política pública de alimentação.

Portanto, ainda não há nenhum contrato firmado entre a empresa e a prefeitura. Também não há um cronograma para a implantação das políticas, de acordo com Arruda.

Além disso, segundo a rádio CBN, a Plataforma Sinergia, organização sem fins lucrativos que produz a farinata, não conta sequer com fábrica própria para produzir em escala.

Mesmo asism, na manhã de hoje, o prefeito afirmou em coletiva de imprensa que a distribuição vai começar pelas escolas, e que o processo já foi iniciado em outubro com a autorização para que a Secretaria de Educação viabilize a entrega.

Sem substituição

A secretária Eloisa Arruda afirmou que houve confusão entre o lançamento da legislação, que "institui e estabelece diretrizes para a política municipal de erradicação da fome e de promoção da função social dos alimentos", e um dos exemplos utilizados pelo prefeito, que era o da farinata, produzida pela Plataforma Sinergia.

"As pessoas confundiram a legislação com um exemplo de boa prática. É impensável, é absurdo considerar que nós vamos substituir a alimentação in natura por suplementos. Houve uma confusão entre a lei e a apresentação do alimento, como se ele fosse a política municipal", explicou Arruda.

Ela afirmou ainda que a política deve ser delineada em várias frentes diferentes e complementares. "Nós ainda nem traçamos o plano de segurança alimentar. Estamos reunidos, montando as diretrizes, que podem ser utilizadas, que podem incluir por exemplo a ampliação de bancos de alimentos, o enfrentamento dos desertos alimentares de SP, o reaproveitamento de alimentos para processamento, entre outras medidas", explicou a secretária.

Implantação

Arruda defendeu o alimento, chamado de farinata. Segundo ela,  o produto consiste em  legumes, verduras e frutas desidratados para estender a validade, como é o caso do leite em pó e da tapioca, por exemplo.

No lançamento, Doria exibiu uma versão granulada da farinata em forma de biscoito. Nas redes sociais, o produto foi chamado de "ração".

O prefeito disse se tratar de “alimentos que estariam sendo jogados no lixo e que são reaproveitados com toda a segurança alimentar. São liofilizados e transformados em um alimento completo. Tem proteína, vitamina e sais minerais”.

O projeto “Truco”, da Agência Pública, tentou obter as informações nutricionais do produto, mas a Plataforma Sinergia só informou que a composição varia de acordo com a matéria-prima disponível. Não seria correto, portanto, garantir que o alimento é completo.

Esse tipo de suplementação, na verdade, é distribuído em grande escala só em casos de guerras ou desastres naturais, porque dura mais. Para uma alimentação balanceada, no entanto, é recomendável que os alimentos consumidos sejam os mais frescos possíveis.

Defesa

Defensor da farinata, o arcebispo de São Paulo, cardeal d. Odilo Scherer, disse, segundo o Estadão Conteúdo,  que ela "não é a pílula da fome", mas uma "possibilidade alimentar" para ajudar no combate à desnutrição, ao desperdício e a reduzir os danos causados pelo descarte de alimentos.

"Seria uma pena uma coisa que nasce para ser boa acabar abortada por manipulação política ou desinformação, prejudicando os mais pobres", disse ele, que enviou carta ao papa, em 2013, pedindo bênção ao projeto.

A Prefeitura reforçou que a elaboração da política está em debate e que não haverá distribuição generalizada do produto, que servirá de complemento nutricional. Afirmou ainda que, se for distribuído, não será entregue como granulado, mas acrescentado ao preparo de pães e bolos, por exemplo.

 

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