Vacinação contra a covid-19 em São Paulo. (Eduardo Frazão/Exame)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 13 de agosto de 2021 às 07h00.
Com mais de 50% da população brasileira vacinada com pelo menos a primeira dose contra a covid-19, o tema da volta ao trabalho presencial e o fim do home office é o assunto que está em debate no momento. Segundo especialistas em saúde pública, um retorno totalmente seguro só é garantido quando 70% da população tiver tomado as duas doses - ou a vacina de dose única.
Apesar da vacinação não ser obrigatória no Brasil, muitas empresas estão optando por autorizar o retorno somente daqueles totalmente protegidos. De acordo com a mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, 67% dos brasileiros acham que os empregadores podem exigir a vacinação contra o coronavírus dos funcionários. Os que discordam dessa medida são 12%, e os que nem concordam nem discordam somam 21%.
A pesquisa EXAME/IDEIA ouviu 1.244 pessoas entre os dias 9 e 12 de agosto. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A sondagem é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
No fim de junho, a Justiça do Trabalho confirmou, pela primeira vez, uma demissão por justa causa de uma funcionária que se recusou a se vacinar contra a covid-19. A decisão foi do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo e envolveu uma auxiliar de limpeza de um hospital. O entendimento foi de que o interesse particular não pode prevalecer sobre o coletivo. O caso é polêmico e ainda cabe recurso.
Para Maurício Moura, fundador do IDEIA, este debate não ocorre somente no Brasil. Outros países também avaliam a obrigatoriedade da imunização. Grécia e França determinaram a vacinação compulsória, mas apenas para profissionais de saúde.
Uma pesquisa feita no começo de julho pelo instituto Odoxa-Backbone, para a rádio France Info e o jornal Le Figaro, mostrou que 58% dos franceses são favoráveis à obrigatoriedade. Quando perguntados especificamente sobre profissionais de saúde, esse número sobe para 72%.
“Esse é um grande tema também em debate nos Estados Unidos. No Brasil, é alta a taxa das pessoas que acham que deveria ser obrigatório. Na parcela de quem tem curso superior e nas classes mais altas esse número passa dos 70%”, diz Moura.
Ao colocar uma lupa em como a população brasileira vê a possibilidade das empresas exigirem a imunização contra o coronavírus dos funcionários, o sentido favorável é maior nas regiões Centro-Oeste e Norte - ambas com 71%. A região Sul tem o mais alto número de pessoas que discordam da medida, com 16%, e 58% são favoráveis.
Por classe social, 70% da A e B concordam que a vacinação deveria ser imposta pelas empresas. Na classe C este número é de 66%. Já nas classes D e E cai para 61%. As mulheres concordam mais com a imunização compulsória que os homens (71% a 64%).
Quando se analisa por faixa etária, os que têm entre 25 e 34 anos são os que se mostram mais favoráveis a uma obrigatoriedade, com 72%. Entre as pessoas entre 35 e 44 anos, este número é de 68%, e quem tem mais de 45 anos é de 65%.
Não há consenso na comunidade científica sobre a imunidade coletiva contra a covid-19. Apesar disso, o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, estima que a imunidade de rebanho só será atingida quando pelo menos 70% de toda a população estiver com o esquema de vacinação completo - com duas doses ou de dose única.
Nos cálculos de Hallal, isso deve ocorrer no fim deste ano. Depois disso, a covid-19 deve se tornar uma endemia e passaremos a conviver com ela.
“O que quer dizer endêmica? Ela tem em vários locais, há ainda um alto número de casos, mas a doença não está descontrolada. Uma epidemia é quando se perde o controle totalmente. As fronteiras também são perdidas”, explica.
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