Presidente Dilma Rousseff, vice-presidente Michel Temer e ministro da Fazenda, Joaquim Levy durante anúncio do Programa de Investimento em Logística (Lula Marques/ Agência PP)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2015 às 14h34.
Rio de Janeiro – Os empresários decidiram apoiar o pacto pela governabilidade no Brasil proposto pelo vice-presidente, Michel Temer (PMDB), frente ao temor que a crise política alimente ainda mais a econômica.
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, alertou neste sábado sobre a gravidade da crise e pediu aos partidos para esquecerem as ambições pessoais, se unindo em torno de um pacto que possa ajudar o país a superar os atuais problemas.
"As pessoas precisam ter a grandeza de separar as ambições pessoais e ver o que é melhor para o país. Precisamos sair desse ciclo que quanto pior, melhor (para os partidos de oposição). Melhor para quem? Para o Brasil, não é", afirmou.
As duas principais entidades regionais de empresários do Brasil já tinham solicitado na quinta-feira que os partidos trabalhem de forma unida e manifestado apoio ao pacto proposto por Temer.
Para a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), chegou a hora de todos "deixarem de lado suas ambições pessoas ou partidárias e olhar para o maior interesse do Brasil, perante a pior crise no país nos últimos 20 anos.
O diretor de operações da empresa de consultoria FN Capital, Paulo Figueiredo, afirma que a decisão de Temer de propor um pacto suprapartidário "demonstrou que a crise política é pior que qualquer um imaginava e que o governo perdeu o controle sobre sua base aliada".
Para o consultor, a maior preocupação dos empresários é com a possibilidade de o Brasil perder a condição de país com grau de investimento, ou seja, seguro para os investidores, o que pode adiar a recuperação para dois anos ou mais.
Os analistas já consideram esse ano perdido e preveem que a economia registrará uma retração de 1,8%, pior resultado desde 1990, e com uma inflação de 9,25%, a mais elevada desde 2003. Além disso, o desemprego está aumentando.
O mercado financeiro, com uma queda da Bolsa de São Paulo de 4,5% acumulado na última semana e o dólar em seu maior nível em 12 anos, demonstrou que a confiança dos investidores acompanha o ritmo de tensão que prejudica a estabilidade política.
Esse retrocesso foi o reflexo de uma semana em que uma pesquisa mostrou que a popularidade da presidente Dilma Rousseff caiu para 8%, o menor nível histórico. Além disso, dois partidos anunciaram a decisão de abandonar a base aliada e o Congresso, fora de controle, colocou em votação medidas que ameaçam ainda mais as contas públicas, a chamada "pauta-bomba".
A crise também se agravou nesta semana com novas divulgações do escândalo de corrupção na Petrobras, que deixam o PT cada vez mais comprometido, e com a prisão do ex-ministro José Dirceu, principal articulador político do governo do ex-presidente Lula.
A crise econômica também alimenta a política. A queda da popularidade da presidente, segundo os analistas, reflete o descontentamento da população com o descontrole da inflação, a alta dos juros — no maior nível em nove anos — e o mau humor com as medidas do ajuste fiscal imposto pelo governo.
A aprovação do ajuste fiscal foi precisamente a principal preocupação citada pelo vice-presidente ao pedir que os partidos, empresários e organizações sociais se unam em defesa de projetos de interesse nacional.
Os empresários defendem as medidas porque admitem que o naufrágio do pacote fiscal levará as agências de classificação de risco a reduzirem a nota do Brasil de forma imediata, retirando do país o status de seguro para os investidores.
Para a Fiesp e a Firjan, o país tem que se unir para manter a atual qualificação, já que a perda pode "colocar em risco a sobrevivência de milhares e milhares de empresas, e milhões de empregos".
A deterioração econômica e político levaram alguns setores da oposição a pedir o impeachment da presidente. Outros sugerem que ela e o vice-presidente renunciem ao cargo, propondo novas eleições.
A própria Dilma teve que reagir ontem e alertar que ninguém pode tirar de seu mandato a legitimidade garantida pelas urnas, uma resposta à oposição e as estratégias de tirá-la da presidência.
"Acho que atualmente as possibilidades de o mandato de Dilma ser interrompido são de 15%, principalmente porque não há sustentação jurídica para isso. Mas muitos investidores já estão preocupados com essa possibilidade e dizem que, se isso ocorrer, o investimento estrangeiro só voltará em 2017", disse Figueiredo.