Eduardo Campos e Marina Silva durante evento do PSB para anunciar a chapa presidencial para a eleição de 2014, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2014 às 09h25.
Una (BA) - O fato de ser filiado a um partido de bandeira "socialista" e de até pouco tempo ter integrado a base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) não se mostrou obstáculo tão grande para a aproximação do ex-governador e pré-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) com os empresários quanto sua aliança com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, sua pré-candidata a vice.
Essa é a percepção de parte dos 320 empresários que participou do 13º Fórum de Comandatuba, na Bahia. O encontro reuniu nomes com Abílio Diniz, da BR Foods, Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e André Esteves, do BTG Pactual, e serviu como palanque da oposição.
Diante da ausência inédita de ministros de Dilma, Eduardo Campos e o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, encontraram campo livre para cortejar o PIB. Depois de um debate de cinco horas em que a dupla respondeu lado a lado, pela primeira vez, perguntas do público e de jornalistas, o tucano saiu ovacionado pela plateia. Já o ex-governador de Pernambuco, que esteve o tempo todo acompanhado de Marina, teve uma recepção bem menos calorosa.
"Aécio foi mais assertivo nas propostas. A sensação do empresariado é de que ele está mais livre para desenvolver suas plataformas de governo. Campos está um pouco inibido", disse o empresário João Doria, presidente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), entidade que organiza o fórum. "Com Marina, ele toma muito cuidado no trato de certo temas para não feri-la ou contrariá-la."
Aécio tem adotado um discurso mais ortodoxo na economia e defendido o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, algo que não havia sido feito ainda pelos candidatos do PSDB desde que o partido deixou o comando do País, em 2002.
Preferido
A opinião vocalizada por Doria foi repetida de forma reservada por vários outros empresários ouvidos pelo Estado. Com o "isolamento" de Dilma do empresariado, Aécio tornou-se o pré-candidato com mais desenvoltura no setor.
Em recentes reuniões do Lide com 200 empresários, a FGV fez enquetes sobre a preferência eleitoral dos presentes. O tucano anotou mais de 50% dos "votos". Campos foi segundo e Dilma, líder absoluta nas pesquisas nacionais, foi a terceira.
Um parlamentar pernambucano próximo a Campos diz que o desempenho dele em reuniões com empresários é "muito melhor" quando não está acompanhado de Marina. Segundo o aliado, Campos vive sempre "pisando em ovos" para não melindrar Marina e seu grupo político, a Rede Sustentabilidade.
Um empresário do ramo de alimentos exemplifica a dificuldade do ex-governador ao falar sobre o trecho do discurso dele no fórum que abordou a crise no setor do etanol. "Em vez de criticar o descaso de Dilma com o setor sucroalcooleiro e defender a redução do preço do etanol, ele ficou falando sobre a importância de existir um selo ambiental para o combustível."
Um empresário do setor financeiro reforça a crítica ao dizer que Marina "foi obrigada a levar o tema ambiental ao topo do discurso", o que pode ser um "bom verniz", mas não seduz na prática o setor produtivo.
Durante o debate de sexta-feira, a presença de Marina também inibiu, segundo aliados, o "entusiasmo" de Campos em relação à dobradinha com Aécio na oposição para garantir um 2º turno. "O Eduardo citou o Aécio uma ou duas vezes em suas falas, já o Aécio falou do Campos o tempo todo, do começo ao fim do evento", reparou o ambientalista Mário Mantovani, diretor executivo da ONG SOS Mata Atlântica. Apesar de ser ambientalista e amigo pessoal de Marina, ele reconhece: "Aécio foi melhor. Ele deixou o público mais encorajado".
Muita gente na plateia percebeu que Marina fazia "cara feia" quando o tucano exaltava a boa relação com o ex-governador. Ao fim do debate de anteontem, a ex-ministra fez questão de ressaltar as "divergências" profundas entre Campos e Aécio. Para ela, o tucano não reconhece o avanço social do governo Luiz Inácio Lula da Silva, de quem tanto ela quanto Campos foram auxiliares diretos no primeiro mandato.