Comperj: o "clube" das empreiteiras criou, segundo documentos, o "Bingo Fluminense" (Frederico Bailoni/Petrobras)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 18h16.
Brasília - Na sede da construtora Engevix, em Barueri (SP), a Polícia Federal encontrou documentos considerados pela força-tarefa da Operação Lava Jato a comprovação de que o braço financeiro do esquema de corrupção e propina na Petrobras agia em cartel, combinando e fatiando obras da estatal usando regras e normas de um torneio envolvendo equipes.
Os alvos são obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Refinaria Abreu e Lima e da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), entre 2007 e 2009.
No caso das obras da Comperj, o chamado "clube" das empreiteiras criou, segundo os documentos, o "Bingo Fluminense".
São tabelas em que pelo menos 16 empresas - todas alvos da Lava Jato - fatiaram entre elas as obras da unidade, por itens contratuais.
O esquema, já apontado pelos delatores da Lava Jato, como o mecanismo criado pelas empreiteiras para lotear as obras públicas entre elas, é base das denúncias criminais que o Ministério Público Federal entrega até o fim desta semana à Justiça contra executivos do chamado "clube".
Nas tabelas, pelo menos 11 tabelas apreendidas na sede da Engevix, formatadas como planilhas de torneio com pontuação, divisão de equipes, prêmios e datas.
Há ainda anotações escritas à mão sobre as supostas combinações e registros escritos em computador sobre o fatiamento das obras.
Nas planilhas do "clube", as obras ou contratos são registrados como "Prêmio" e as construtoras são as "equipes". Há ainda a identificação de itens que definem "prioridade" e "apoio" - um indicativo de quem era a beneficiada em quem auxiliava nas supostas fraudes.
Mapão
Em outra tabela registrada como "Mapão", as empresas registram a divisão das obras em até 14 unidades da Petrobras.
Nelas, há registros de quem foi contratada, quem entrou como "apoio", os contratos de cada por unidade da estatal.
São contratos na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), na Repar (Paraná), Replan (Replan).
Todas obras já apontadas pelos delatores da Toyo Setal, Julio Camargo e Augusto Mendonça, como alvos de cartel, corrupção e propina.
O esquema alvo da Lava Jato teria funcionado de 2004 a 2012 desviando de 1% a 3% dos contratos para financiar partidos como o PT, PMDB e PP - supostos controladores do esquema.
Nas planilhas, as empresas são sempre mencionadas por siglas: CC (Camargo Corrêa), QG (Queiroz Galvão), OA (OAS), CNO (Construtora Norberto Odebrecht), AG (Andrade Gutierrez) UT (UTC Engenharia).
Defesa
A Engevix tem negado participação no esquema e afirma que chegou a pagar valores para o doleiro Alberto Youssef por ter sido "extorquida". O criminalista Fabio Tofic Simantob chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal a retirada do processo da Justiça Federal do Paraná, alegando que o caso envolvia agentes com foro privilegiado. Um executivo do grupo está preso cautelarmente. A assessoria de comunicação da empresa diz que "por meio dos seus advogados, prestará os esclarecimentos necessários à Justiça."
As demais acusadas negam envolvimento em cartel e corrupção. Suas defesas alegam que eles foram vítimas de "extorsão" e que, nos casos em que houve pagamentos à empresas do doleiro Alberto Youssef, elas ocorreram para que não fossem prejudicados nos contratos.
A Petrobras, vítima do suposto esquema, já apura relação da Engevix e de outras empresas do cartel em investigações internas na Comperj e na Refinaria Abreu e Lima.