Brasil

Empresa que organiza amistoso da seleção manda em quase tudo

A empresa, em troca de ficar com toda a renda de bilheteria, paga um valor fixo para a CBF, de cerca de US$ 1,05 milhão


	Uniformes da Seleção Brasileira: a ISE é a empresa de fachada nas Ilhas Cayman que obteve o direito de organizar os amistosos da seleção até o fim 2022
 (REUTERS/Eric Gaillard)

Uniformes da Seleção Brasileira: a ISE é a empresa de fachada nas Ilhas Cayman que obteve o direito de organizar os amistosos da seleção até o fim 2022 (REUTERS/Eric Gaillard)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de maio de 2015 às 09h59.

Genebra - O preço dos ingressos dos jogos da seleção brasileira, mesmo no Brasil, não são determinados pela CBF. Isso é o que diz o contrato fechado entre a entidade e a ISE, a empresa de fachada nas Ilhas Cayman que obteve o direito de organizar os amistosos da seleção até o fim 2022.

A empresa, em troca de ficar com toda a renda de bilheteria, paga um valor fixo para a CBF, de cerca de US$ 1,05 milhão (R$ 3,1 milhões), além de outros US$ 2,1 milhões (R$ 6,3 milhões) pagos pela Pitch, a empresa que operacionaliza o jogo. Mas todas as decisões sobre valores e toda a renda da partida ficam para os parceiros comerciais.

No fim de semana, a Agência Estado revelou os contratos confidenciais da CBF com a ISE. Pelo acordo, entre outros vários direitos, a ISE exige que qualquer substituição entre os jogadores do time tenha o "mesmo valor de marketing" do titular.

Mas o controle vai além. "A ISE é a única parte responsável pelos ingressos das partidas e outros eventos relacionados e terá o direito exclusivo de vender ou oferecer os ingressos dessas partidas e eventos, de receber toda a renda vinda da venda de ingressos, de designar os lugares dos espectadores, de definir os preços dos ingressos e de realizar qualquer outro ato relacionado aos mesmos", indicou o contrato.

Pelo contrato, a ISE "fornecerá à CBF 100 ingressos para ‘Categoria A’, 30 ingressos ‘VIP’ e 20 ingressos para ‘V VIP’ se disponíveis". O documento também deixa claro que a ISE tem amplos direitos e pode multar a CBF por qualquer violação aos termos do acordo.

"Se acaso a CBF cancelar sua participação na partida por qualquer razão, salvo por evento de força maior, a CBF reembolsará à ISE qualquer valor que tenha recebido da Taxa de Comparecimento, assim como também pagará à ISE uma indenização por danos no valor equivalente a duas (2) vezes a Taxa de Comparecimento estipulada na cláusula 12 acima", disse o documento.

Na prática, isso significa uma multa de US$ 2 milhões (R$ 6 milhões). "Além disso, a CBF deverá compensar a ISE pelos reais danos oportunos, financeiros e outros danos incorridos pela ISE, se for determinado que os haja, caso esse cancelamento tenha ocorrido após a assinatura deste Acordo", informou outro trecho.

Qualquer outra violação também é punida. "Se a CBF violar qualquer de suas obrigações sob este presente Acordo, a CBF pagará à ISE o valor de US$ 1.000,000 (um milhão de dólares americanos) a título de indenização", alertou o artigo 17.

A ISE tem amplos direitos de revender o contrato ou fazer qualquer negócio fora, mesmo sem a autorização da CBF.

"A ISE terá, a seu exclusivo critério, o direito de sublicenciar, ceder ou transferir qualquer e todos os direitos e obrigações adquiridas sob esse Acordo, seja em relação a uma partida específica ou todas as partidas a quaisquer terceiros sem a autorização prévia por escrito da CBF".

AGENDA FECHADA - O contrato também deixa claro que a ISE tem influência para determinar a agenda dos jogadores quando eles estiverem concentrados com a seleção para amistosos. Até mesmo quem fala com a imprensa seria uma decisão da empresa. O contrato exige que a seleção esteja no local do jogo "um dia antes da partida ou do evento Oficial". Com a aprovação da CBF, o acordo prevê que os jogadores e comissão técnica precisam participar de uma série de eventos.

"Conferências de imprensa, com a participação de ao menos o treinador, um membro do quadro diretivo e quatro jogadores a serem designados pela ISE, incluindo o capitão do time," apontou o contrato.

O acordo também fala em "entrevistas pré e pós-jogo com cada jogador para a emissora anfitriã de cada partida".

BRINDE - O contrato ainda prevê a participação dos jogadores em eventuais cerimônias de abertura, "recepções de boas-vindas e outros eventos promocionais do patrocinador titular".

O acordo diz que a CBF deve garantir que seus jogadores estarão "presentes a toda atividade promocional relacionada ao jogo".

"A ISE poderá organizar uma sessão de treinamento aberta com propósitos comerciais ou não para cada partida", indica o acordo, mesmo sem a anuência da comissão técnica da seleção.

Para completar, um brinde. "A CBF irá assegurar que a ISE receba 10 (dez) camisas oficiais da seleção, totalmente autografadas por toda a seleção nacional brasileira para cada jogo", disse o documento.

Acompanhe tudo sobre:CBFEsportesFutebolSeleção Brasileira de Futebol

Mais de Brasil

Entenda 'fatiamento' de denúncia contra Bolsonaro e veja quem está em cada grupo

Rio cria canal para denúncias de trabalhadores em calor extremo

Senado aprova projeto que libera emendas bloqueadas em primeira sessão presidida por Alcolumbre

Entenda os argumentos da PGR para denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe