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Embaixador do Sri Lanka no Brasil é acusado de crimes de guerra

Os grupos que processam o militar esperam convencer os governos latino-americanos a extraditá-lo

Jagath Jayasuriya: tem imunidade diplomática devido ao cargo de embaixador do Sri Lanka em seis países da América Latina (foto/Wikimedia Commons)

Jagath Jayasuriya: tem imunidade diplomática devido ao cargo de embaixador do Sri Lanka em seis países da América Latina (foto/Wikimedia Commons)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de agosto de 2017 às 08h58.

Rio, 29 - Grupos de militantes pelos direitos humanos na América Latina denunciam que o embaixador do Sri Lanka no Brasil seria responsável por crimes de guerra cometidos em 2009, durante a guerra civil no país asiático. O ex-general Jagath Jayasuriya é acusado de ter comandado unidades militares que atacaram hospitais e mataram, torturaram e foram responsáveis pelo desaparecimento de milhares de pessoas.

Jayasuriya tem imunidade diplomática devido ao cargo de embaixador do Sri Lanka em seis países: Brasil, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Suriname. Os grupos que processam o militar esperam convencer os governos latino-americanos a extraditá-lo.

O advogado que coordena a iniciativa, Carlos Castreana Fernandez, informou à agência Associated Press na noite desta segunda-feira, 28, que já ajuizou ações no Brasil e na Colômbia. Nos próximos dias, o grupo também deve acionar o Poder Judiciário na Argentina, no Chile e no Peru. Já as autoridades do Suriname se negaram a aceitar o processo, disse o advogado.

"Esse é um genocídio que foi esquecido, mas vamos forçar países democráticos a fazerem alguma coisa. É só o começo da briga", afirmou.

A reportagem da AP tentou entrar em contato com o escritório do ex-comandante na Embaixada do Sri Lanka em Brasília através de ligações e e-mail, mas não obteve resposta. O paradeiro dele é desconhecido. Fernandez disse que oficiais de Justiça brasileiros informaram que Jayasuriya deixou o país neste domingo, 27. A informação não pôde ser confirmada de forma independente.

Os processos criminais, analisados pela AP, foram liderados pelo Projeto Verdade e Justiça Internacional, uma organização de direitos humanos com sede na África do Sul. As ações têm três principais objetivos: pressionar autoridades a abrir investigações sobre Jayasuriya, derrubar sua imunidade diplomática e extraditá-lo.

O advogado ouvido pela AP tem no currículo casos de repercussão internacional contra ditadores latino-americanos, como o general argentino Jorge Rafael Videla e o chileno Augusto Pinochet, que chegou a ser preso na Inglaterra em razão de processos internacionais.

O Sri Lanka, uma ilha localizada ao sul da Índia, esteve em guerra civil em vários períodos entre 1983 e 2009. A revolta contra o governo foi liderada por um grupo separatista da etnia tâmil contra o governo, que representa a maioria cingalesa.

Os processos alegam que Jayasuriya foi comandante das forças de segurança entre 2007 e 2009, um dos períodos mais sangrentos na guerra, no qual estima-se que foram mortas entre 40 e 70 mil pessoas. De acordo com o grupo, o ex-general também era responsável por um centro de tortura no Sri Lanka. As ações citam entrevistas com 14 sobreviventes da guerra que relataram episódios de tortura e violência sexual no local.

Militantes internacionais vêm perseguindo Jayasuriya há anos, mas o governo do Sri Lanka se recusa a processá-lo, assim como a outros acusados de crimes de guerra no país. Poucos anos depois do fim da guerra, ele se aposentou do Exército. Os cargos como embaixador de países latino-americanos foram conquistados mais tarde, entre 2015 e 2017.

Fonte: Associated Press

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