José Carlos Bumlai: pecuarista preso pela Lava Jato afirmou que jamais manteve qualquer tipo de negócio com o ex-presidente Lula (Valter Campanato/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2015 às 18h33.
São Paulo - E-mails em poder da Polícia Federal revelam que o empresário e pecuarista José Carlos Bumlai usou seu prestígio e amizade com o ex-presidente Lula para fazer lobby e interceder em um negócio envolvendo a Embaixada do Catar e uma empresa de vendas e fusões interessada na aquisição de usina de açúcar no Brasil. As correspondências são datadas de 21 de fevereiro de 2014.
Em uma delas, Bumlai escreveu para o secretário executivo do então embaixador do Catar, Mohammed Al Hayki.
"Estive hoje tratando do assunto e o sr. Ex-presidente volta dia 27 de fevereiro para o Brasil e marcará a data conforme solicitada no e-mail da Embaixada, ou seja antes de 19 de março."
No cabeçalho da mensagem, enviada às 20h38 daquele dia, Bumlai anotou: "Assunto: Re: Qatar, Embaixador do - Audiência com o Ex-Presidente Lula."
O e-mail de Bumlai respondia a uma mensagem que ele havia recebido às 13h45 do mesmo dia. O remetente foi Thiago Del Vecchio, que se identifica como "secretário" da Embaixada. Ele pede providências do pecuarista para uma reunião com Lula nesses termos:
"Prezado sr. José. O Embaixador do Qatar, Exmo. Sr. Mohammed Al Hayki, gostaria de se encontrar com o Ex-Presidente Lula a qualquer dia do dia 10 até o dia 19 de março de 2014, no horário que melhor convir ao Ex-Presidente. O senhor poderia verificar se existe essa possibilidade? Atenciosamente, Thiago L. Del Vecchio, Secretário."
Interrogado pela Polícia Federal sobre o conteúdo das mensagens, Bumlai declarou:
"Esclarece que apenas atendeu ao pedido do secretario do Embaixador do Qatar porque havia uma explicação anterior da demanda dada por Marcelo Horcades Coutinho, sócio de Eleazar de Carvalho Filho numa empresa de vendas, fusões e aquisições de empresas."
Segundo o amigo de Lula, Marcelo Horcades lhe disse que uma empresa do Catar, a Catar Trading, tinha planos de comprar uma usina de álcool no Brasil.
"O embaixador do Qatar desejava avisar o Governo Brasileiro desta intenção, mas não estava conseguindo. O embaixador do Qatar desejava que Luiz Inácio Lula da Silva conversasse sobre o tema com a Presidente Dilma Rousseff."
Ainda de acordo com Bumlai, o empresário disse que "o ex-presidente Lula se aproximou dos países árabes e que a presidente Dilma Rousseff não tinha este interesse".
O interrogatório de Bumlai ocorreu na segunda-feira, 21. Foi o terceiro interrogatório do amigo de Lula.
O pecuarista está preso desde 24 de novembro, alvo da Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato que investiga empréstimo de R$ 12 milhões contraído por Bumlai em outubro de 2004 junto ao Banco Schahin - o real destinatário do dinheiro foi o PT, segundo confessou Bumlai.
Nas duas ocasiões anteriores em que foi ouvido pela PF, Bumlai blindou o ex-presidente Lula. Ele afirmou que jamais manteve qualquer tipo de negócio com o petista.
A PF o indagou, no terceiro interrogatório, sobre o e-mail para a Embaixada do Qatar em que cita Lula. "Este episódio foi atípico e não reflete a relação do reinterrogando com o ex-presidente Lula."
Indagado novamente se confirma que nunca tratou de assuntos comerciais ou políticos com Lula, o pecuarista respondeu que "além do caso narrado acima, não se recorda de outros episódios".
O delegado Fillipe Hille Pace, que conduziu os interrogatórios, avalia que Bumlai "faltou com a verdade" ao afirmar que nunca tratara de assuntos comerciais e políticos com Lula.
A PF mergulhou no emblemático empréstimo de R$ 12 milhões realizado por Bumlai junto ao Schahin.
O amigo de Lula disse, anteriormente, que virou "refém" do Grupo Schahin que não queria dar como quitada a dívida até que conseguisse fechar contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras para operação de navio sonda, a partir de 2009.
Questionado se confirma que "nunca conversou" com o ex-presidente sobre o problema que enfrentava com a Schahin, o pecuarista disse. "Nunca conversou sobre este tema com ele (Lula)."
A PF insistiu. Indagado se mantém sua última afirmação, "uma vez que lhe foi demandado que dissesse se tem certeza sobre o fato de que nunca tratou de seu empréstimo com Lula, disse que acredita e que tem quase certeza de que nunca tratou deste tema com o ex-presidente".