João de Deus, médium acusado de abuso sexual (Cesar Itiberê/Fotos Públicas)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 11h07.
Última atualização em 11 de dezembro de 2018 às 11h08.
Abadiânia — A força-tarefa do Ministério Público de Goiás (MP-GO), criada para investigar os casos de abuso sexual que teriam sido cometidos por João Teixeira de Faria, o médium João de Deus, recebeu nesta segunda-feira (10), 40 contatos formais de vítimas. A Promotoria e a Polícia Civil começou a agendar os depoimentos das mulheres.
As conversas informais ouvidas até o momento pelo MP-GO indicam que a investigação terá como ponto central o abuso sexual. Mas, além disso, será avaliada também a prática de outros crimes. Nem Promotoria nem polícia informaram quais seriam os demais delitos.
As duas instituições se preparam para a possibilidade de pedir o fechamento preventivo da Casa Dom Inácio de Loyola, onde os atendimentos são realizados.
"Temos ainda de avaliar os depoimentos que forem formalizados. Dependendo do que for constatado, essa hipótese não está descartada", afirmou o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de Goiás, Luciano Meireles. A medida seria tomada para evitar a eventual prática de novos delitos.
As investigações agora serão feitas de forma simultânea pelo MP-GO e pela Polícia Civil, que também formou um grupo específico para a investigação. A polícia recebeu o contato de mais duas mulheres. Além disso, no fim de semana, foram registrados dois boletins de ocorrência contra o religioso.
Promotores afirmam ser indispensável que vítimas formalizem as denúncias. Além de depoimentos, serão usados como prova laudos psicológicos.
Meireles disse que, conforme o andamento da coleta de provas, casos semelhantes que já haviam sido arquivados poderão ser reabertos.
A equipe já identificou um caso arquivado e um processo em que João de Deus recebeu acusação semelhante, mas foi absolvido (veja abaixo). O representante do MP-GO afirma que as penas, somadas, podem chegar a mais de 150 anos.
Para tornar mais ágil o processo de denúncia, o MP-GO criou um e-mail específico para receber relatos de vítimas: denuncias@mpgo.mp.br.
Queixas feitos em outros Estados e até no exterior também serão registradas. Segundo Marcella Orçai, delegada de Goiás, isso poderá ser feito nas embaixadas.
No caso de vítimas em outros Estados, os depoimentos podem ser feitos diante da Polícia Civil ou Ministério Público das suas cidades.
"No caso do MP, os relatos depois serão enviados para Goiás", disse Meireles. Em Minas, ao menos duas pessoas já fizeram denúncia, segundo a Promotoria local.
Ao menos 30 denúncias foram levadas ao MP paulista, segundo a promotora Maria Gabriela Manssur. Como as investigações só começaram agora, não é possível dizer se há duplicidade de relatos com as denúncias feitas ao MP de Goiás.
Ela considera que o número de casos de abusos pode chegar a 200 no País, segundo relatos em grupos de vítimas. No Estado, quatro promotores vão atender as autoras das queixas.
Presidente do grupo Vítimas Unidas, criado por vítimas do ex-médico Roger Abdelmassih, Maria do Carmo dos Santos diz que as autoras de denuncias ainda estão sendo ameaçadas. "Muito mais vai aparecer."
Segundo ela, vítimas e apoiadores se organizam para garantir que João de Deus seja punido, diferentemente do que ocorreu em outras acusações esparsas.
Em paralelo, ativistas lançaram a hashtag #OprahWeNeedYou (Oprah, precisamos de você) para cobrar um posicionamento da apresentadora Oprah Winfrey, que retratou o médium em programas da TV americana . "Cadê o movimento 'Mexeu com uma, mexeu com todas'?"
A Federação Espírita Brasileira divulgou nota, dizendo que "o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida".
O líder espiritual João de Deus passou a segunda-feira em São Paulo para se encontrar com seu advogado, Alberto Zacharias Toron.
Segundo o defensor, um ofício foi encaminhado para o Ministério Público e outros seriam enviados para a Delegacia de Polícia e o Fórum de Abadiânia (GO), informando que João de Deus está à disposição para esclarecimentos.
"Ele volta para Abadiânia para exercer o trabalho dele, ajudando as pessoas como vem fazendo nos últimos 40 anos", afirmou o criminalista.
Conforme o site de O Globo noticiou nesta segunda à noite, no documento protocolado na Justiça de Abadiânia, a defesa diz ter recebido "com indignação" as acusações.
Assinado por Toron, o ofício registra que João de Deus "rechaça" o que classifica de "qualquer prática imprópria dos seus procedimentos", como havia dito em respostas enviadas à TV Globo.
A reportagem não conseguiu contato com a assessoria de imprensa do médium. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.