Othon Luiz Pinheiro da Silva (de boné): "esse f.d.p." (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2015 às 13h47.
São Paulo - Grampo da Polícia Federal pegou um telefonema entre o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, e um interlocutor identificado como "Sansão" em que ambos falam sobre a delação do ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini, que citou seu nome em depoimento à Polícia Federal.
Preso desde 28 de julho, na deflagração da Operação Radioatividade, desdobramento da Lava Jato, Othon Luiz foi monitorado pela PF. Seis dias antes de ser preso por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, ele caiu no grampo em conversa com "Sansão" e se referiu ao executivo da empreiteira como "esse f.d.p.".
Em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, Avancini declarou que em agosto de 2014 houve "uma reunião na empresa UTC", em São Paulo, em que "foi comentado que havia certos compromissos do pagamento de propinas ao PMDB no montante de 1% e a dirigentes da Eletronuclear". Os repasses teriam sido acertados no âmbito das obras de Angra 3.
Avancini disse que um outro executivo ligado à Camargo Corrêa, que identificou como Luis Carlos Martins, lhe havia dito sobre "um acerto futuro do pagamento de propina a funcionários da Eletronuclear, sendo citada nominalmente a pessoa de Othon Luiz Pinheiro da Silva".
Denúncia da força-tarefa do Ministério Público Federal aponta que o almirante recebeu ao menos R$ 4,5 milhões em propina de grandes empreiteiras do País. Os repasses teriam sido feitos por meio de empresas intermediárias para a Aratec Engenharia, controlada pelo almirante.
A prisão de Othon Luiz deixou a comunidade nuclear em choque. Nome de grande prestígio na área, o almirante, participou no fim dos anos 1970 (durante o governo do general Ernesto Geisel) do projeto do submarino nuclear brasileiro.
STF
Na sexta-feira, 2, o ministro Teori Zavascki do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou ao juiz federal Sérgio Moro que enviasse à Corte máxima os autos da Radioatividade. A medida foi tomada sob alegação de que político com foro privilegiado foi mencionado na investigação.
O executivo Flávio David Barra, presidente da Andrade Gutierrez Energia, citou Edison Lobão (PMDB/MA), ex-ministro de Minas e Energia do governo Dilma, como suposto beneficiário do esquema.
A própria defesa de Barra, depois de seu depoimento à Polícia Federal em que citava Lobão, entrou com um recurso no Supremo, alegando a menção a político com foro privilegiado.
Após a decisão do STF, audiências das testemunhas de acusação do Caso Eletronuclear foram suspensas pelo juiz Moro, que conduz as ações da Lava Jato.
Na manhã de 14 de outubro, seriam ouvidos dois empreiteiros-delatores da Lava Jato, Ricardo Pessoa, dono da UTC, e Dalton Avancini, peças emblemáticas da investigação.
São réus, por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, no Caso Eletronuclear, 14 investigados, entre eles o ex-presidente da Eletronuclear, sua filha Ana Cristina Toniolo, e Flávio David Barra.