Ministro Paulo Guedes, da Economia, defendeu agenda de privatizações e investimento privado em vídeo de reunião ministerial do dia 22 de abril (Adriano Machado/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 24 de maio de 2020 às 12h37.
Última atualização em 24 de maio de 2020 às 12h48.
Em meio a temas polêmicos e uma enxurrada de palavrões mostrados no vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, a participação do ministro Paulo Guedes, da Economia, expõe as convicções do economista liberal e a agenda que ele defende desde o início do governo de Jair Bolsonaro, como mostra reportagem de capa da nova edição de EXAME.
O material faz parte do inquérito da Polícia Federal que apura acusações do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, de que o presidente Jair Bolsonaro queria interferir politicamente na corporação, e foi liberado na sexta-feira, 22 de maio, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello.
No vídeo, Guedes defendeu a venda da participação do governo no Banco do Brasil – cujo controle majoritário pertence à União – ao dizer que o banco é um "caso pronto de privatização" e o governo "tem que vender essa porra logo."
"O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem (Novaes, presidente do Banco do Brasil), coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar 'bota o juro baixo', ele: 'Não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.' Aí, se falar assim 'bota o juro alto', ele: 'Não posso, porque senão o governo me aperta'. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização", declarou Guedes.
Em outro momento da reunião, Guedes mostra discordâncias em relação ao “Plano Pró-Brasil”, apresentado no mesmo dia 22 de abril pelo general Walter Braga Netto, ministro da Casa Civil. O programa se baseia na retomada do investimento em infraestrutura como indutor do desenvolvimento no pós-pandemia, no qual haveria forte direcionamento de recursos estatais.
Guedes diz que a iniciativa é “super bem-vinda”, mas que “não vamos nos iludir” pois a retomada só viria pelos investimentos privados, abertura comercial e outras iniciativas.
Na reunião, o ministro da Economia também defendeu o uso de recursos públicos para salvar grandes companhias – o que pode ser considerada uma contradição aos valores liberais defendidos pelo ministro.
"Nós vamos botar dinheiro, e vai dar certo e nós vamos ganhar dinheiro. Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas", disse Guedes.
Guedes citou na reunião o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social, Gustavo Montezano, cuja instituição está liderando um programa de ajuda a empresas do setores aéreo, elétrico, automotivo e do varejo, entre outros.
"Montamos um comitê de bancos, estamos lá com o Montezano agora fazendo justamente a reestruturação. Não vai ter molezinha pra empresa aérea, pra nada disso. É dinheiro que nós vamos botar usando a melhor tecnologia financeira lá de fora", disse Guedes.