Seca no Brasil: o ano de 2016, que já entrou para a história como o mais crítico para seca, pode ser vencido por 2017 (Divulgação/Sabesp/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de dezembro de 2017 às 08h37.
Brasília - Estiagens, secas, enxurradas, inundações. Fenômenos naturais que sempre marcaram diferentes regiões do País nunca expuseram cenários tão extremos como nos últimos anos.
Entre 2013 e o ano passado, os desastres naturais afetaram 55,7 milhões de pessoas - mais de 25% da população do Brasil, que vive situação de estresse hídrico. No total, as perdas são estimadas em R$ 9 bilhões por ano.
Os dados são do relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2017, feito a cada quatro anos pela Agência Nacional de Águas (ANA), ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso.
O estudo aponta que, de 2013 ao ano passado, 78% dos 1.794 municípios do Nordeste decretaram, pelo menos uma vez, situação de emergência ou estado de calamidade pública por causa da seca extrema que castiga a região desde o fim de 2012.
Outros 2.641 municípios, 47,5% das cidades do País, decretaram emergência ou calamidade por alagamentos, enxurradas e inundações.
Entre 2013 e o ano passado, 48 milhões de pessoas foram diretamente afetadas por secas e estiagens no Brasil. Outros 7,7 milhões sofreram os efeitos das cheias.
O ano de 2016, que já entrou para a história como o mais crítico para seca, pode ser vencido por 2017. "Este ano deve se confirmar como o de pior período chuvoso, o mais seco desde 1931, quando começou a série histórica", diz Joaquim Gondim, superintendente de operações e eventos críticos da ANA.
Antes restrita a áreas rurais e pequenos distritos, a escassez de água chega agora às cidades maiores no Ceará.
Em Quixeramobim, município do sertão a 203 quilômetros de Fortaleza, a população só tem água nas torneiras um dia a cada cinco em bairros da periferia.
Comerciantes contratam carros-pipa para manter a higiene dos estabelecimentos. "Cada pipa de mil litros custa uns R$ 30. Isso acaba embutido no preço das mercadorias. O comércio local está em situação desoladora. Fazia muito tempo que não via assim: tudo parado", conta o professor Ítalo Câmara, de 45 anos, que mora na cidade.
Em 2012, 540 municípios do Nordeste eram atendidos por 3 mil carros. Quatro anos depois, em 2016, esse número mais que dobrou, chegando a 6.788.
Maior reservatório do Ceará, o açude Castanhão atingiu nas últimas semanas seu volume morto - quando a água fica abaixo do nível de captação - pela primeira vez desde a inauguração, em 2002. Embora o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca confirme, o Estado nega que o açude esteja no volume morto e diz que a captação de água, pela situação atual, poderá ser feita até janeiro.
Entre 2014 e 2016, foram estudados pela ANA 204 reservatórios de água do semiárido, que atendem mais de 10 milhões de habitantes. Apenas 85 reservatórios têm capacidade para atender novas demandas e os 119 restantes operam no limite.
"Para além das questões climáticas, estamos colhendo frutos de muitas décadas de falta de gestão", diz Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, principal rio que passa pelo Nordeste. Entre as ações necessárias para resolver o problema, ele defende recuperar matas ciliares e combater erosões.
Já em Salto, no interior paulista, inundações entraram na rotina. O comerciante Luiz Carlos Ganzano, de 55 anos, é obrigado a tirar de 20 a 30 dias de férias forçadas todo ano.
Quando o nível do Rio Tietê começa a subir, ele fecha as portas de seu bar e vai para casa. Este ano, isso já aconteceu dez vezes.
"Quase sempre a rua fica coberta pela água com lama e espuma por vários dias." No auge das cheias, muitos moradores relatam só conseguir sair da própria casa de barco.
Em março, a enchente deixou 30 casas alagadas - duas caíram. No ano anterior, a água já havia coberto até áreas turísticas. A prefeitura de Salto disse que a Defesa Civil monitora pontos banhados pelo Tietê e, quando há alerta de aumento no nível do rio, informa os moradores e isola as áreas de risco.
Para especialistas da ANA, alterações drásticas no padrão de chuvas são indícios das mudanças climáticas no País. Isso se intensificou nos últimos 4 anos, mas já se desenhava havia ao menos duas décadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.