O ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) (Antonio Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2016 às 17h17.
Brasília - Após a divulgação de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) divulgou nesta sexta-feira, 27, nota afirmando que nunca teve o objetivo de interferir nas investigações da Operação Lava Jato e fez um pedido de desculpas aos advogados que citou como sendo próximos ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Jamais passou pela minha cabeça interferir ou envolver-me com a operação Lava-Jato, que, de minha parte, até hoje, só tem recebido manifestações de apoio", informou o ex-presidente.
Em um dos trechos de uma conversa entre Sarney e Machado, no dia 10 de março, o ex-presidente diz que vai conversar com o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Cesar Asfor Rocha como alguém que teria proximidade com Teori. Em outra gravação, no dia seguinte, o presidente do Senado, Renan Calheiros, em diálogo com Sarney e o ex-dirigente da Transpetro, sugere o advogado Eduardo Ferrão como alguém próximo ao ministro.
"Quero esclarecer que Sérgio Machado gozava de minha absoluta confiança e frequentava assiduamente minha casa. Por ele tinha apresso (sic). Vendo um amigo em momento de desespero, prontifiquei-me a orientá-lo e cheguei mesmo a sugerir nomes que poderiam aceitar participar de sua defesa. Daí minha ressalva de que não desejava contato com seu advogado", justificou Sarney.
De acordo com o ex-presidente, ele não conversou com Asfor Rocha nem com Ferrão sobre a possível influência dos dois em relação a Teori. "Nem tinha liberdade para isso", disse. "Não sabia, aliás, se qualquer dos dois tinha amizade com o Ministro Teori Savascki."
Sarney afirmou ainda que Sérgio Machado foi insistente ao lhe pedir ajuda. "Diante da insistência sobre como poderia ajuda-lo e julgando que estava falando coloquialmente em minha casa, invoquei o nome do Ministro Asfor Rocha, que talvez fosse de seu conhecimento e que atualmente exerce a advocacia", disse o ex-presidente, que pediu desculpas para os magistrados. "Peço desculpas ao Ministro César Rocha, que foi um dos maiores magistrados que passaram pelo STJ, bem como ao Doutor Eduardo Ferrão, por quem tenho grande admiração, pelo meu descuido, motivado pelo desejo de ajudar, que muito me amargura", afirmou.
Asfor Rocha também divulgou nota de esclarecimento na qual contesta que tenha sido procurado "em qualquer tempo e por qualquer pessoa" para tentar influenciar o ministro Teori. "A respeito da transcrição de gravações que teriam sido feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com alguns políticos, o advogado Cesar Asfor Rocha contesta terminantemente que tenha sido procurado, em qualquer tempo e por qualquer pessoa, para tratar dos assuntos aludidos", diz a nota enviada por sua assessoria.
O ex-ministro "nega, com igual veemência", que tenha tido conversas sobre o tema com qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal ou com qualquer outro magistrado. "Repudia, por fim, as ilações injuriosas precipitadamente extraídas da simples menção a seu nome em conversas de terceiros", completa.
No diálogo do dia 10 de março, Sarney responde a uma preocupação manifestada por Machado em relação à possibilidade de virar réu na primeira instância. O ex-presidente da Transpetro indica que, nesse caso, poderia negociar uma contribuição premiada. "Porque realmente, se me jogarem para baixo (passando a ficar sob a alçada do juiz Sérgio Moro) aí Teori ninguém consegue conversar", diz Machado. Sarney sugere o nome do ex-ministro do STJ. "(Cesar Asfor Rocha) Tem total acesso ao Teori. Muito, muito, muito, muito acesso, muito acesso. Eu preciso falar com o Cesar. A única coisa com o Cesar, com o Teori é com o Cesar."
Teori foi ministro do STJ antes de ser nomeado por Dilma para o Supremo. Asfor Rocha presidiu o STJ e, em 2009, concedeu uma liminar que barrou a Operação Castelo de Areia. A operação apurou um suposto esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e repasses para políticos envolvendo executivos da empreiteira Camargo Corrêa.