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Em live, Bolsonaro volta a defender extinção da Ancine

Presidente voltou a citar o caso do filme Bruna Surfistinha, lançado em 2011

Jair Bolsonaro: presidente disse, durante live, que filme sobre eleições não deve receber recursos (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

Jair Bolsonaro: presidente disse, durante live, que filme sobre eleições não deve receber recursos (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de julho de 2019 às 06h23.

Última atualização em 26 de julho de 2019 às 07h59.

São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (25), que quem está reclamando do valor que será liberado para o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), de até R$ 500, deveria "ficar na sua". O presidente alegou que o valor pode ajudar muita gente e citou como exemplo o pagamento de dívidas.

"Tem muita gente reclamando que é só R$ 500, mas vou deixar bem claro. As condições para o saque do FGTS são 15 atualmente e colocamos uma 16ª, que é opcional. Não precisa reclamar. Quem está reclamando é só ficar na sua, fica em casa, sem problemas. Para muita gente, R$ 500 faz falta, sai até da lista do SPC e outras", disse na transmissão semanal que realiza em sua página do Facebook.

O presidente explicou que o intuito da medida, que foi anunciada oficialmente ontem, foi "atingir os mais pobres". "Por volta de 80% das pessoas que tem conta no FGTS têm menos de R$ 500 reais. Lembro do meu tempo de tenente e capitão em que qualquer R$ 100, R$ 200 a mais que entrava de uma forma ou de outra no meu orçamento doméstico era muito bem vindo", disse.

Bolsonaro comentou também que o País registrou o melhor resultado no número de empregos dos últimos 5 anos, com o registro de 408 mil novos empregos. "É um sinal de que a economia está reagindo", afirmou.

Ele também afirmou que a reforma da Previdência, já aprovada em primeiro turno pela Câmara dos Deputados, é necessária para ajudar na recuperação da economia, mas ressaltou que ela não atingiu os mais pobres.

"Para alguns, a reforma da Previdência é uma quimioterapia. Sim, eu também gostaria que não fosse feita a reforma, mas Lula tentou lá atrás, Dilma tentou, Michel Temer tentou e não conseguiram. Realmente não é fácil, tem muita reação, mas passou na Câmara com larga margem. Isso é sinalizador para investidor de fora e de dentro que o Brasil está preocupado em fazer o dever de casa", disse. "Se não fizer nada, quebra tudo. Nossa reforma não atingiu os pobres. Fomos obrigados a fazer e, no meu entender, o Brasil vai decolar na economia no ano que vem", completou.

Ancine

O presidente Jair Bolsonaro falou que pretende extinguir a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Ele vem, desde a semana passada, citando que a  agência fomenta, com dinheiro público, obras cinematográficas que atentam contra a família, e voltou a citar o caso do filme Bruna Surfistinha, lançado em 2011. Na época, o filme recebeu cerca de R$ 4,3 milhões em renúncia fiscal, segundo a Ancine, mas obteve bilheteria de R$ 20 milhões e foi visto por mais de 2 milhões de espectadores no cinema.

"Vamos buscar a extinção da Ancine. Não tem nada que o poder público tenha que se meter a fazer filme", disse.

Bolsonaro também disse ter solicitado que a Ancine recue na autorização dada para captação de R$ 530 mil em isenção fiscal para a produção do documentário Nem Tudo se Desfaz, do diretor Josias Teófilo, que trata dos acontecimentos que levaram à eleição do presidente em 2018. O filme trata sobre o crescimento da linha conservadorista no país desde as manifestações de junho de 2013.

"Recentemente tomei conhecimento sobre a liberação para captação de R$ 530 mil via Ancine para produção de um filme sobre minha campanha nas eleições. Por coerência sugeri que voltassem atrás nessa questão. Não concordamos com o uso de dinheiro público também para estes fins", escreveu o presidente em sua conta no Twitter.

Durante a live, ele voltou a tratar do assunto e reforçou sua posição que, segundo ele, não se trata de censura. "Deixo bem claro, quem no Brasil quiser fazer filme com Bruna Surfistinha, seja quem for, fique à vontade. Isso, se nós fôssemos interferir, seria uma censura. O que nós não podemos admitir e não queremos, é esse tipo de filme, ou filme de político, como o meu, [seja feito] com dinheiro público", disse.

Umas das medidas em estudo no governo é retirar da Ancine a gestão do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Criado pela Lei nº 11.437/2006, o FSA é destinado ao desenvolvimento de toda a cadeia produtiva da atividade audiovisual no Brasil. O fundo contempla atividades associadas aos diversos segmentos, como produção, distribuição, comercialização, exibição e infraestrutura de serviços, por meio de investimentos, financiamentos, operações de apoio e de equalização de encargos financeiros.

O orçamento do FSA para este ano é de R$ 724 milhões. A eventual extinção da agência, no entanto, dependerá de aprovação pelo Congresso Nacional.

Hackers

Também em sua transmissão ao vivo semanal, o presidente afirmou que os supostos hackers presos na terça-feira (23), e acusados de terem invadido centenas de celulares de autoridades brasileiras, inclusive o dele próprio, deverão ter uma "boa punição" caso fique comprovado que cometeram os crimes.

O presidente também reafirmou não ter nenhuma preocupação com o conteúdo que pode ter sido extraído do seu celular porque, de acordo com ele, informações estratégicas sobre o país são tratadas apenas pessoalmente, mesmo com autoridades de outros países.

"Da minha parte não tenho nenhuma preocupação com a invasão nesse meu telefone porque as informações reservadas temos tratado pessoalmente aqui não só com ministros mas com autoridades de fora. ... Se alguém tem coisa particular e tornar público, a gente lamenta. Mas é um crime a invasão dos telefones e com toda certeza a Justiça brasileira dará conta de uma boa punição para esse pessoal aí", disse. 

O presidente também se referiu ao fato de que um dos hackers, Walter Delgatti Neto, contou ter entregue o conteúdo obtido pelas invasões ao site The Intercept Brasil, como o jornal O Estado de S. Paulo revelou nesta quinta. Bolsonaro se referiu ao jornalista Glenn Greenwald, principal responsável pelo site, como "Verdevaldo".

"O meu telefone estava lá no grupo dos quatro hackers, um já disse que entregou isso ao 'Verdevaldo' e obviamente o Brasil é país com leis e esse pessoal, se confirmado tudo que aconteceu aqui, tem que ser responsabilizado", disse. 

O presidente também afirmou que seria muita "infantilidade" sua e de sua equipe não achar que estava "sendo bisbilhotado por alguém de fora ou de dentro do Brasil" semanas antes de sua eleição. Ele disse ainda que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, é o responsável por mantê-lo informado sobre o caso.

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