Dirigentes do Centrão indicaram ao pré-candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, que estão mais propensos a apoiar Ciro Gomes (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de julho de 2018 às 12h52.
Brasília - Sob o argumento de que o desgaste do PSDB após a Lava Jato atrapalha as alianças, dirigentes do Centrão - hoje rebatizado de blocão - indicaram ao pré-candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, que estão mais propensos a apoiar Ciro Gomes (PDT). Mesmo assim, não bateram o martelo sobre o aval a nenhum concorrente e ainda há divisões no grupo, principalmente na seara do DEM.
Embora nomes do Centrão também sejam investigados, a explicação dada a Alckmin para a falta de entusiasmo com sua campanha, na noite desta quarta-feira, 4, foi a de que o PSDB amarga índices de rejeição maiores do que os do PT.
Em jantar de três horas, presidentes dos partidos que compõem o bloco formado por DEM, PP, PRB, Solidariedade e PSC mostraram ao ex-governador de São Paulo preocupação com o seu imobilismo nas pesquisas. Até agora, Alckmin apresenta índices que variam de 4% a 6% das intenções de voto.
Deputados e senadores fizeram uma espécie de sabatina com Alckmin na sede do PRB, onde foi realizado o encontro. Perguntaram a ele, por exemplo, sobre a possibilidade de substituição de seu nome na chapa pelo do ex-prefeito João Doria, hoje pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes. Lembraram que há articulações para isso nos bastidores, dentro do seu próprio partido, com a simpatia do Palácio do Planalto e da cúpula do MDB.
Presidente do PSDB, Alckmin assegurou não haver hipótese de troca, mas não escondeu a contrariedade com esse movimento. Disse já ter apoio de quatro partidos (PTB, PSD, PPS e PV) e demonstrou confiança em seu crescimento quando se iniciar o horário eleitoral. "A campanha começa em 31 de agosto, com a propaganda na TV e no rádio. Tem gente que ainda acha que sou governador de São Paulo", afirmou ele.
Recém-saída do forno, uma pesquisa do DEM apresentada ali serviu de munição para os que já pareciam decididos a não chancelar o tucano, como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Segundo o levantamento, a rejeição de Alckmin aumentou por causa do PSDB e seu desempenho está aquém das expectativas até mesmo em São Paulo, Estado que ele administrou por quase 14 anos e maior colégio eleitoral do País.
Os interlocutores do ex-governador quiseram saber qual seria a estratégia para resolver esse problema. "Expusemos todas as nossas preocupações, sem vetos nem embargos", resumiu o presidente do DEM, ACM Neto, que também é prefeito de Salvador.
Alckmin respondeu que um amplo arco de alianças fará diferença na disputa. Disse que formou a melhor equipe e reiterou estar disposto a integrar todos na campanha e num eventual governo. Admitiu até mesmo ter um vice do Centrão em sua chapa. Até agora, foram cogitados para a vaga os ex-ministros Aldo Rebelo, pré-candidato à Presidência pelo Solidariedade; Mendonça Filho (DEM-PE), hoje deputado, e a senadora Ana Amélia (PP-RS).
Doria almoçou nesta quinta-feira, 5, com o presidente do PPS, Roberto Freire, em São Paulo. O PPS pressiona Alckmin a adotar estilo mais agressivo para alavancar a campanha. À noite, o ex-prefeito divulgou nota negando que queira tomar o lugar do padrinho político. "Aqueles que dizem o contrário só querem mal à candidatura do Geraldo e à minha", insistiu Doria.
Em Brasília, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou no fim do jantar com Alckmin. Diante dos colegas, expôs com todas as letras as dificuldades que vê para o casamento com o PSDB. Cobrou, ainda, o apoio dos tucanos a candidatos do DEM em outros Estados, como o Rio.
Maia também engrossava a lista dos postulantes ao Planalto, mas já avisou que sairá do páreo. Disputará mais um mandato de deputado e pretende comandar novamente a Câmara, a partir de 2019, com aval do Centrão.
De todos os representantes do bloco, apenas o presidente do PRB, Marcos Pereira - ex-ministro da Indústria e Comércio Exterior do governo de Michel Temer - demonstrou algum interesse na composição com Alckmin. Atualmente, o pré-candidato do PRB ao Planalto é o empresário Flávio Rocha.
O grupo marcou novo encontro para quarta-feira, com o objetivo de resolver as últimas pendências para a escolha do candidato. A ideia é anunciar quem o bloco apoiará até dia 20, mas pode haver racha.
Apesar de a cúpula do DEM dar sinais de adesão a Ciro, a maioria da bancada na Câmara prefere Alckmin. O deputado Rodrigo Garcia (SP), líder do DEM e ex-secretário de Alckmin, será vice na chapa de Doria e é um dos maiores defensores da união nacional entre os dois partidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.