Bolsonaro: Política externa apresentada até agora pelo presidente eleito está pautada pelo ponto de vista ideológico, diz diplomata (Reprodução/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 29 de outubro de 2018 às 22h06.
Última atualização em 30 de outubro de 2018 às 01h55.
São Paulo - Em entrevistas ao SBT, à Rede TV, à Band, à Globo e à TV Record na segunda-feira (29) após ser eleito presidente, Jair Bolsonaro (PSL) negou a ditadura militar e criticou o jornal Folha de São Paulo, mas prometeu respeitar a oposição, a liberdade de imprensa e aqueles que não votaram nele.
"Aquele que não votou em mim, pode ficar tranquilo que não será perseguido e que terá espaço no nosso governo", disse no SBT. "A oposição é bem-vinda, ela pode, em sendo responsável, evitar que você cometa um deslize".
Ele admitiu até conversar com o PT: "No que depender de mim a gente pode conversar". Na Record, pediu para que definissem para ele "o que é uma minoria".
Veja outros pontos:
No Jornal da Band, Bolsonaro disse que defende a redução da maioridade penal para 14 anos, mas que pode vir a aceitar uma idade maior:
"Se não for possível para 16, que seja para 17 [anos]. Por mim seria para 14, mas aí dificilmente seria aprovada. Pode ter certeza que reduzindo a maioridade penal, a violência no Brasil tende a diminuir",
Ele também disse que a população brasileira está começando a entender que "não houve ditadura" e relativizou a censura dos meios de comunicação na época.
Segundo ele, algumas reportagens eram censuradas para que não fossem usadas para envio de mensagens cifradas para grupos que desejavam atacar autoridades: "O período militar não foi ditadura".
O Brasil viveu sob uma ditadura militar entre 1964 e 1985, quando houve restrição ao direito de voto, suspensão de direitos políticos e restrições à liberdade de imprensa e de manifestação, entre outros aspectos comuns a governos autoritários.
Na Record, perguntado se governaria também para as minorias, Bolsonaro respondeu: "Eu queria saber, que me definissem, o que é minoria. Qual é o direito de tal minoria, nós somos iguais", disse ele, e completou: "Não podemos pegar certas minorias e achar que tem superpoderes".
Na Globo, ele foi perguntado sobre os casos de violência contra gays associados a seus apoiadores, e respondeu que "a agressão contra os semelhantes tem que ser punida na forma da lei e se for por um motivo como esse tem que ter pena agravada".
Logo depois, voltou a falar do suposto "Kit Gay", material de combate à homofobia do Ministério da Educação, desenvolvido em 2011 e que tinha como público-alvo adolescentes e professores.
Bolsonaro o definiu como "livros com crianças se acariciando e se beijando" e admitiu que sua retórica sobre o tema pode ter sido "violenta".
No Jornal Nacional, Bolsonaro também foi questionado sobre seus ataques à imprensa, como em seu discurso remoto para apoiadores na Avenida Paulista no domingo antes da eleição:
"Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de São Paulo. Nós ganharemos esta guerra. Queremos a imprensa livre, mas com responsabilidade. A Folha de São Paulo é o maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre, parabéns; imprensa vendida, meus pêsames".
No Jornal Nacional, Bolsonaro disse que só não dará apoio oficial ao jornal: "Não quero que [Folha] acabe. Por si só, esse jornal se acabou. Quase todas fake news que se voltaram contra mim partiram dela".
O apresentador William Bonner enfatizou que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia: "Eu mesmo recebi críticas do jornal e ela abriu espaço para mim. A Folha é um jornal sério, que cumpre um papel importantíssimo".
Na Record, o presidente eleito negou que pretenda controlar a mídia: "Quem vai impor limite é o leitor. O controle é o controle remoto, nada além disso. O cidadão na ponta da linha é quem vai decidir."
No JN, Bolsonaro classificou como "um momento de desabafo e em um discurso acalorado" sua manifestação, no mesmo discurso da Av. Paulista, de que "marginais vermelhos" seriam "banidos" do país.
Na Record, Bolsonaro confirmou a intenção de trazer para Brasília o juiz federal da Lava Jato, Sérgio Moro.
“Se tivesse falado isso lá atrás, soaria oportunismo da minha parte. Pretendo sim, não só para o Supremo [Tribunal Federal], mas quem sabe até para o Ministério da Justiça. Pretendo conversar com ele, saber se há interesse.".
No JN, ele disse que seria agora para a Justiça e no futuro, abrindo uma vaga, para o STF.