José Carlos Bumlai: a Passe Livre é uma referência ao trânsito aberto que Bumlai desfrutava no Palácio do Planalto durante o governo do petista (Valter Campanato/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2015 às 14h36.
São Paulo - O empresário e pecuarista José Carlos Bumlai blindou o amigo e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu depoimento à Polícia Federal na segunda-feira, 14.
Bumlai disse que Lula "é sim seu amigo, que mantinham encontros em finais de semana e que possuíam uma regra de que não se permitiam discutir assuntos econômicos ou políticos em tais ocasiões".
Bumlai está preso desde o dia 24 de novembro, quando foi alvo da Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato.
A Passe Livre é uma referência ao trânsito aberto que Bumlai desfrutava no Palácio do Planalto durante o governo do petista.
Lula e Bumlai são amigos desde 2002. Na época, Lula o visitou em uma de suas fazendas em Mato Grosso.
Por indicação do petista, Bumlai ganhou um assento no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, "pois sabia de seus projetos e conhecimentos atinentes a questão agrícolas e de reforma agrária".
O pecuarista tinha até um crachá com o qual acessava livremente as dependências do Planalto.
A prisão de Bumlai provocou uma onda de especulações sobre o que ele poderia revelar acerca de sua relações com o ex-presidente. Interrogado ontem, o pecuarista foi questionado pela Polícia Federal sobre sua proximidade com Lula.
O pecuarista, no entanto, blindou o ex-presidente. "Recebia diversas propostas, cartas, mensagens, das mais diversas pessoas que, por saberem da relação de amizade de ambos, pediam-lhe que fossem encaminhados ao presidente. O interrogando nunca atendeu a qualquer um destes pedidos", diz o texto da depoimento de Bumlai.
Transação
Bumlai é alvo da Passe Livre por suspeita de participar de um esquema de corrupção na contratação da Schahin Engenharia, em 2009, como operadora do navio-sonda Vitoria 10.000, da Petrobras.
De acordo com as investigações, a assinatura do contrato de operação da sonda em favor da Schahin ficou condicionada à quitação fraudulenta de um empréstimo de R$ 12 milhões concedido pelo Banco Schahin em 2004 a Bumlai e que beneficiou o PT.
Também neste trecho de seu interrogatório, Bumlai poupou o amigo. "Nunca solicitou a Luís Inácio Lula da Silva que mantivesse qualquer diretor da Petrobrás em seu cargo."
Em mais de uma oportunidade, Bumlai reiterou que Lula não se envolveu em suas demandas comerciais e nos negócios da Petrobras.
O pecuarista negou ter feito lobby pelo grupo Schahin na estatal ao citar os nomes de personagens emblemáticos da Operação Lava Jato, todos presos por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro - Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, suposto operador de propinas do PMDB, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró.
Apontou também o ex-gerente executivo da área Internacional da estatal Luiz Moreira.
"Nunca pediu a Fernando Baiano, João Vaccari Neto, Nestor Cerveró, Luiz Moreira e Luis Inácio Lula da Silva qualquer espécie de interferência interna na Petrobras que viesse a agilizar a contratação da Schahin", disse.
"Aliás, gostaria de reforçar que nunca procuraria o então presidente da República para que este interferisse nesta ou em qualquer outra questão comercial", disse o pecuarista.