Kátia Abreu, Ana Amélia, Sônia Guajajara e Manuela D'Ávila em debate inédito (Montagem/Douglas Morisco/Instituto Locomotiva/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 28 de setembro de 2018 às 16h28.
Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 17h21.
São Paulo — A participação histórica das mulheres na corrida presidencial deste ano reuniu, nesta sexta-feira (28), as quatro candidatas à vice-presidência para um debate inédito.
Manuela D’Ávila (PCdoB), Kátia Abreu (PDT), Ana Amélia (PP) e Sônia Guajajara (PSOL) foram questionadas sobre suas propostas de governo, por jornalistas, também mulheres, de diferentes veículos. Em coro único, todas reforçaram que, se eleitas, não serão vice-decorativas dos presidenciáveis.
"Para quem saiu de casa aos nove anos de idade, não há submissão que me imponha qualquer regra. O que eu seguirei é o papel que a Constituição determina para a vice. O Alckmin já sabe que não sou decorativa e que a agenda das mulheres é prioridade", disse Ana Amélia, vice do candidato do PSDB.
A sabatina, realizada em São Paulo, pelo Instituto Locomotiva em parceira com o El País, apresentou as ações das candidatas para melhorar, principalmente, a situação das mulheres na sociedade brasileira. Durante o debate, as candidatas expuseram ideias próprias e embasadas sobre temas diversos.
Aborto, feminicídio, creches, equiparação salarial, participação no Congresso e machismo estrutural foram questões abordadas, assim como a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).
A candidata à vice na chapa do PT, Manuela D'Ávila, afirmou que o candidato do PSL semeia o ódio e a desigualdade entre os brasileiros.
"Além de antidemocrático, Bolsonaro não tem compromisso nenhum com as bases para a construção da igualdade. Ele defende surra corretiva para LGBT, diz que mulheres podem ser estupradas de acordo com suas características físicas", disse.
Ao ser questionada sobre quem vai apoiar em um segundo turno sem Alckmin,. Ana Amélia disse que tem convicção da ida do tucano, que segue em um dígito nas pesquisas, para a próxima etapa:
"Alckmin irá para o segundo turno. Estou nesta chapa para contribuir para a evolução democrática. Temos que ter um país mais tolerante na questão racial, de gênero, religiosa e não podemos perturbar o ambiente mais do que já está", contou.
Kátia Abreu chamou Bolsonaro de "fascistoide" e "coiso" e disse que as manifestações de mulheres contra o candidato são justas.
"O movimento é muito apropriado. Sou da roça. Então sei que quando você planta milho, nasce milho. Não nasce arroz. É apenas a consequência e a reação justa das mulheres contra esse fascistoide, reacionário que quer nos puxar para trás. E nós não vamos permitir."
As quatro candidatas foram unânimes em garantir que, se eleitas, nenhum direito das mulheres terá retrocesso. Elas também concordaram que as políticas públicas precisam ser mais efetivas na proteção feminina e que a representação na política ainda é defasada.
"Minha candidatura vem no sentido de acabar com a sub-representação da diversidade na política. Hoje temos 51 mulheres negras, mas ainda falta a presença da mulher indígena, da travesti e das lésbicas nesses espaços", disse Sônia.
Nas questões sobre como garantir a igualdade entre homens e mulheres, as candidatas foram enfáticas em apresentar propostas de melhorar creches e escolas.
"A construção da igualdade passa por um conjunto de medidas. Mas uma preocupação central deve se dar com o mundo do trabalho. As mulheres têm uma jornada de trabalho maior. Somado a isso ainda há a ausência de equipamentos que cuidem dos nossos filhos e quando o estado falta, a mulher é que cuida do filho", afirmou Manuela.
A vice pelo PDT apresentou uma proposta de punição às empresas que não respeitam a igualdade salarial. "As leis são postas, mas não têm punição. Por isso, vamos instituir a condição e a obrigatoriedade das próprias empresas de demonstrarem, por dados, que os salários estão respeitando a equidade."
Apesar da pauta sobre a necessidade de oportunidades iguais para as mulheres ter sido unânime, as candidatas apresentaram visões diferentes sobre aborto e porte de arma.
A vice de Guilherme Boulos disse que o próximo governo precisa tirar o Brasil da quinta posição do ranking de países que mais matam mulheres. "A gente defende a vida das mulheres, é obrigatório que elas parem de morrer e sejam presas por conta da ausência do Estado", disse.
Já a vice de Alckmin defendeu que o Brasil já permite o aborto em três circunstâncias, mas que a prisão deveria ser substituída. "Penas alternativas, como trabalho comunitário, é uma saída", pontuou.
Com uma reação negativa dos espectadores Ana Amélia completou "esse é uma opinião e não podemos desrespeitar quem pensa diferente".
Kátia Abreu desmentiu que defenda o porte de armas para região urbana, mas confirmou que seria apenas para a área rural.
"Com 25 anos eu fui morar na roça, viúva, com filhos para criar. Não havia telefone, nem energia. Um vizinho me orientou a comprar uma arma para proteção, eu comprei, e nunca usei", defendeu.
Na mesma questão, Manuela argumentou que a segurança do Brasil deu errado, mas não deve ser resolvido com porte de arma. "A política de segurança é um fracasso. Cada vez mais, as mulheres enterram seus filhos. Cada vez mais jovem e os inocentes também morrem nas comunidades", finalizou.