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Em churrasco com militares, Bolsonaro diz que Moro "ainda é ingênuo"

Presidente voltou a dizer que não tem compromisso de indicar Moro para o STF; nome de André Mendonça está cotado

Jair Bolsonaro Sergio Moro (Carolina Antunes/Getty Images)

Jair Bolsonaro Sergio Moro (Carolina Antunes/Getty Images)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 31 de agosto de 2019 às 18h31.

Última atualização em 31 de agosto de 2019 às 18h42.

Brasília — O presidente da República, Jair Bolsonaro, disse neste sábado, 31, que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ainda "é ingênuo" e que "falta malícia" ao ex-juiz federal. "O Paulo Guedes também era assim, mas ele está aprendendo".

Bolsonaro participou de um churrasco no quartel-general do Exército, em Brasília. Pouco depois de entrar, o presidente mandou os seguranças convidarem um grupo de jornalistas e motoristas da imprensa que o esperavam na porta para participar do evento.

Ele conversou por cerca de uma hora e meia com seis jornalistas.

O presidente voltou a colocar em dúvida a possibilidade de indicar Moro a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). "Não existe nenhum compromisso meu com Moro", afirmou Bolsonaro. "Tem que ver. Como o Senado avaliaria ele hoje?", questionou.

Bolsonaro também acenou para outro auxiliar cotado, o advogado-geral da União, André Mendonça. Até o fim de seu mandato, o presidente terá ao menos duas vagas na Corte para preencher.

Enquanto diz não ter compromisso em indicar Moro ao STF, Bolsonaro tem dito que pretende reservar uma das vagas a alguém "terrivelmente evangélico".

Questionado durante o almoço se este nome seria o do AGU, André Mendonça, que é reverendo da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, o presidente disse que o auxiliar é "terrivelmente supremável".

Outro nome sempre lembrado para a vaga é o do juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, que também é evangélico.

A indicação de ministros do Supremo é uma atribuição do presidente da República, que depois precisa ser aprovada pelo Senado, após uma sabatina.

Em maio, em uma entrevista à Rádio Bandeirantes, Bolsonaro chegou a afirmar que, ao convidar Moro para integrar sua equipe de ministros, comprometeu-se a indicá-lo para a primeira vaga que fosse aberta no STF. Dias depois, porém, voltou atrás e disse que não houve um acordo, mas sim que gostaria de alguém com o perfil do ex-juiz da Lava Jato na Corte. O ministro também sempre negou que houvesse qualquer compromisso.

O primeiro ministro do Supremo que deve deixar a corte é o decano Celso de Mello, que completa 75 anos - a idade de aposentadoria obrigatória - em novembro de 2020. A segunda vaga no STF deve ficar disponível com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.

O presidente também disse que, apesar de ouvir muito seus auxiliares, a escolha do novo Procurador Geral da República será feita por ele mesmo. "Vai ser uma indicação minha", afirmou.

Eleições 2020

O presidente da República disse que ainda não deu seu aval para nenhuma pré-candidatura à corrida eleitoral do no que vem. Questionado se iria apoiar a líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), para que ela dispute a prefeitura de São Paulo, ele respondeu que ainda não deu seu apoio a ninguém. "Se alguém disser que tem meu apoio, está mentindo."

Bolsonaro disse ainda que não quer que seu partido, o PSL, tenha muitos candidatos espalhados pelo País. Ele sinalizou que está interessado na disputa de apenas algumas capitais, entre elas, São Paulo.

Além disso, deixou claro que todos os candidatos do PSL terão de ter seu aval e que o presidente do partido, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE) só poderá indicar nomes, onde Bolsonaro não tiver indicações. O presidente falou ainda que ou ele manda no partido ou estará fora.

Bivar já afirmou que tem planos para no próximo ano concentrar os recursos dos fundos eleitoral e partidário na disputa a prefeituras em capitais e nos municípios mais populosos, com importância regional. O partido é o que mais vai ter dinheiro público para gastar nas eleições de 2020.

João Doria

Após a equipe econômica apresentar uma proposta orçamentária para 2020 que pode impor um apagão à máquina pública, o presidente da República, Jair Bolsonaro, disse que o arrocho nas contas pode atrapalhar uma tentativa de reeleição em 2022. Ao mesmo tempo, ele afirmou que um de seus potenciais adversários na corrida eleitoral, o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não teria chance de derrotá-lo nas urnas. "Dória está morto", disse.

Na conversa, Bolsonaro disse que o tucano tem "enchido o seu saco", e, por isso, tem respondido à altura, mas que não o vê como uma ameaça para uma eventual reeleição.

Ele ainda disse que Dória era "peixe" do PT e que começou a dizer que sua "bandeira não era vermelha" somente depois da entrada da ex-presidente Dilma Rousseff.

O presidente, no entanto, demonstrou preocupação com os efeitos que a situação dramática do Orçamento pode ter sobre suas chances de reeleição. Segundo Bolsonaro, o arrocho orçamentário pode "comprometer 2022". Ele disse, entretanto, não estar preocupado com isso. "Não pode ficar obcecado. É igual quando o rapaz está atrás da menina, se ficar obcecado ela não dá bola, é só esnobar que ela vem atrás."

A troca de farpas entre Doria e Bolsonaro se intensificou nos últimos dias, após o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgar uma lista de pessoas que se beneficiaram de taxas de juros mais baixas para empréstimos para comprar jatinhos. A linha de crédito foi lançada em 2009. Doria, que na época era empresário, está na lista dos que recorreram ao banco de fomento.

Na quinta-feira, em sua 'live' semanal no Facebook, Bolsonaro afirmou que Doria "estava mamando" no governo do PT, referindo-se à compra de aviões com financiamento do BNDES. A declaração foi rebatida pelo governador, que em evento em Berlim na sexta, negou ter qualquer relação com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Além do quadro de dificuldades para 2020, a proposta orçamentária ainda prevê uma sucessão de déficits até 2022, um indicativo de que o governo seguirá gastando mais do que arrecada e elevando sua dívida pública.

O governo anunciou na sexta-feira uma proposta de Orçamento para 2020 com apenas R$ 89,161 bilhões destinados às chamadas despesas discricionárias, que incluem investimentos e os gastos para manter a máquina pública em funcionamento. É o menor valor dos últimos dez anos. Os investimentos foram estimados em apenas R$ 19,36 bilhões, queda de quase 30% em relação à proposta de 2019.

A equipe econômica já alertou que os valores são insuficientes para garantir o pleno funcionamento do governo no ano que vem e que buscará medidas para conter o avanço das outras despesas e, assim, abrir espaço no Orçamento.

O teto de gastos limita o avanço das despesas à inflação do ano anterior, mas nem todas estão sob o controle do governo. Benefícios previdenciários e salários crescem muitas vezes num ritmo acima da inflação, o que obriga a área econômica a cortar de outras áreas para fazer caber tudo no teto.

Para tentar contornar a situação dramática das despesas discricionárias, o governo deve adotar uma série de medidas, como antecipou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado): o fim da multa adicional de 10% sobre o FGTS do trabalhador em demissão sem justa causa (dinheiro que passa pelo Orçamento e consome R$ 5,4 bilhões no teto de gastos), o congelamento das progressões de servidores civis do Executivo nas carreiras (que poderia economizar R$ 2 bilhões), a suspensão de novas contratações do Minha Casa, Minha Vida (que pouparia outros R$ 2 bilhões) e o redirecionamento de recursos do Sistema S.

Nos últimos dias, diversos ministros encaminharam ofícios à Economia alertando que os recursos previstos para no Orçamento de 2020 são insuficientes e podem comprometer compra de livros escolares, pagamentos de bolsas de estudos e entrega gratuita de medicamentos, entre outros serviços. Neste ano, o baixo nível de despesas discricionárias já ameaça agências reguladoras de um apagão a partir de setembro.

 

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