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Em cenário hostil, bolsonaristas divergem sobre protesto no dia 26

Dentre apoiadores do presidente, há pautas radicalizadas, outros que buscam apenas apoiar o governo; há ainda quem não concorda com a própria manifestação

Protestos/foto de arquivo: manifestações pró-Bolsonaro estão marcadas para o dia 26 (Nacho Doce/Reuters)

Protestos/foto de arquivo: manifestações pró-Bolsonaro estão marcadas para o dia 26 (Nacho Doce/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de maio de 2019 às 14h23.

Última atualização em 21 de maio de 2019 às 15h53.

Brasília e São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro manteve nesta segunda-feira (20) discurso hostil e ao mesmo tempo errático em relação à classe política enquanto um núcleo de fiéis apoiadores usou as redes sociais para pedir adesão aos atos pró-governo marcados para o próximo domingo, dia 26. No começo da tarde desta terça (21), Bolsonaro disse que não irá às manifestações. Os ministros também estão autorizados a ir.

A pauta das manifestações, no entanto, gera divergências. Líderes ligados ao movimento evangélico e aos caminhoneiros endossam os eventos em favor do presidente, mas evitam corroborar mensagens radicalizadas de grupos que pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

Representantes do PSL na Câmara e no Senado usaram as redes para convocar manifestantes. O Clube Militar também fez uma convocação para os atos.

Em declarações ao longo do dia, Bolsonaro oscilou entre a crítica mais direta aos políticos e aos "grupos corporativistas" e um tom conciliador quando falou especificamente dos parlamentares durante o lançamento da campanha de comunicação da reforma da Previdência.

Ao discursar para empresários no fim da manhã, em evento na Federação das Indústrias do Rio (Firjan), o presidente responsabilizou os políticos pelas dificuldades que enfrenta para, segundo disse, tomar as medidas necessárias para colocar o país no "rumo certo".

Ele voltou a culpar parlamentares e "grupos corporativistas" pelos problemas de sua administração. Afirmou que o "grande problema é a classe política", mas não se excluiu do grupo. Atacou também a imprensa, que considera não ser isenta.

"(O Brasil) É um país maravilhoso que tem tudo para dar certo, mas o grande problema é a nossa classe política. É nós (sic), Witzel, é nós (sic), Crivella, sou eu, Jair Bolsonaro, é o Parlamento, em grande parte, é a Assembleia Legislativa. Nós temos que mudar isso", afirmou, se referindo ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e ao prefeito da capital fluminense, Marcelo Crivella (PRB).

"Tenho enfrentado grupos corporativistas, é uma vontade enorme de colocar o Brasil onde ele merece."

Porém, no fim da tarde, em Brasília, Bolsonaro mudou o tom e incluiu os parlamentares no "time" que está empenhado em aprovar a reforma da Previdência. Também fez um aceno à imprensa, ponderando que já deu "caneladas" em meios de comunicação, mas que a mídia é "importante para que a chama da democracia não se apague".

"Não pode um país tão maravilhoso patinar na economia. O time que formamos, junto com parlamentares, tem essa preocupação com o futuro do Brasil."

Na sexta-feira passada (17), Bolsonaro acirrou o clima com o Congresso ao compartilhar, por WhatsApp, texto que diz que o Brasil é "ingovernável" fora dos "conchavos". O gesto foi interpretado por parlamentares como mais um ataque ao Legislativo, mas serviu de combustível para a convocação dos atos.

Até o início da noite de segunda-feira, pelo menos 60 cidades já haviam programado manifestações no domingo. Há atos previstos para todas as capitais e o Distrito Federal.

Ainda que o objetivo central seja o apoio às pautas do Planalto como a Previdência, o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro e a Medida Provisória 870 — que reorganiza a estrutura do governo e está sob ameaça —, alguns grupos defendem do enfrentamento ao Centrão à criação da CPI da Lava Toga, além do impeachment de ministros do Supremo como Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

Grande parte das páginas que divulgam os atos pede que apoiadores vistam verde-amarelo. Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo nas redes dos 54 deputados do PSL identificou que pelo menos 19 fizeram convocações.

Um dos mais engajados é Coronel Tadeu (SP). "Pegue sua camisa do Bolsonaro, aquela da campanha, e compareça", diz o deputado em um vídeo.

Márcio Labre (RJ) defendeu os atos afirmando que eles ocorrem em um momento de "chantagens e traições". Carla Zambelli (SP) disse que o Congresso pode derrubar "qualquer medida positiva que venha do governo Bolsonaro". "Se o Centrão se unir com o PT como fez, o Brasil está acabado."

O deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, também foi às redes defender o protesto como "ato legítimo dos brasileiros" que apoiam Bolsonaro "diante de chantagens e traições em curso".

"Estaremos de olho para divulgar os resultados e a conduta dos parlamentares nas pautas que interessam ao Brasil", escreveu.

Críticas ao protesto

Apesar do apoio de uma parcela de parlamentares do partido do presidente, há congressistas que são contrários às manifestações do dia 26.

O presidente da sigla, Luciano Bivar, afirmou que não há sentido nos protestos. “Para que tirar o povo para uma coisa que já está dentro de casa? Já ganhamos as eleições, já passou isso aí", disse.

Na tarde desta terça-feira (21) a bancada do partido no Congresso deve se reunir para decidir se apoiará formalmente os protestos.

“Nós fomos eleitos democraticamente, institucionalmente, não há crise ética, não há crise moral, estão se resolvendo os problemas das reformas, então eu vejo sem sentido essa manifestação, mas toda manifestação é válida, é um soluço do povo para expressar o que ele está achando”, disse Bivar ao chegar ao gabinete da liderança do PSL na Câmara.

Já a deputada estadual Janaina Paschoal também não concorda com os protestos. No último fim de semana, ela publicou no Twitter duas séries de mensagens explicando as suas razões.

Janaina escreve que “o Governo se coloca em uma situação de imobilismo e chama as pessoas para tirá-lo do imobilismo".

O deputado federal Kim Kataguiri, que foi um dos principais organizadores dos protestos de rua pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, passou a ser alvo de ataques de grupos bolsonaristas nas redes sociais após a recusa de participar dos atos.

Depois de apoiar Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2018, o MBL — que tenta criar um partido — se distanciou do governo e adotou uma agenda própria, com a reforma da Previdência à frente.

A ofensiva contra o MBL parte de grupos como Direita São Paulo, Juntos pela Pátria e Movimento Brasil Conservador, além de youtubers alinhados com o Palácio do Planalto.

Em vídeo divulgado nesta segunda-feira (20), o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) disse que o grupo está sendo alvo de “fake news” e de “mau-caratismo”.

"Radicalismo"

Durante solenidade na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), usou seu discurso para afirmar que o país vive um momento em que "radicalismos se sobrepõem ao diálogo, principalmente nas redes sociais", em que "quem está no extremo tem mais espaço do que quem quer construir consenso".

Líderes evangélicos e caminhoneiros manifestaram apoio à agenda de protesto, mas sem "radicalismo". "A solução para o novo Brasil virá pela classe política. Vejo no Congresso vontade e decisão política de fazer as reformas de que o Brasil precisa. Tenta-se jogar a população contra o Congresso quando as crises não estão sendo criadas lá", afirmou o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Silas Câmara (PRB-AM).

Representante dos caminhoneiros, Wanderlei Alves, o Dedéco, foi categórico na defesa dos atos. "Vamos sair para apoiar a governabilidade. Não está certo o que eles (deputados) estão fazendo com o presidente."

Para um dos líderes da greve dos caminhoneiros em 2018 Wallace Costa Landim, o "Chorão", a categoria está com Bolsonaro, "mas temos que avaliar se isso mais ajuda do que atrapalha". "O Brasil está parado e não podemos ser um fator a mais de instabilidade", afirmou.

Desde o fim de abril, quando caminhoneiros ameaçaram iniciar uma nova paralisação após anúncio de aumento no diesel, o governo convocou uma série de lideranças para discutir medidas imediatas para o setor e desarmar possíveis protestos.

O Clube Militar, que possui cerca de 38 mil sócios, entre oficiais da ativa e da reserva, divulgou na noite desta segunda-feira em seu site uma convocação de "seu quadro social e convidados" para que participem das manifestações, "apoiando o governo federal na implementação das reformas necessárias à governabilidade". O texto tem como título "Brasil acima de tudo", parte do slogan de campanha de Bolsonaro.

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