Jornalistas: agressões físicas, como empurrões, socos e pontapés, representaram a maioria dos casos (34,21%) (Victor Moriyama/Getty Images)
Clara Cerioni
Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 18h09.
São Paulo — Em 2018, a violência contra jornalistas no Brasil dobrou em comparação com o ano anterior. Durante os doze meses do ano passado, foram registrados 114 denúncias envolvendo violações à liberdade de imprensa do país. Em 2017, foram 76 casos.
A estatística, que revela os perigos da profissão dos jornalistas brasileiros, é da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT). Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (20), no Relatório Anual 2018 — Violações à Liberdade de Expressão.
O documento relembra o assassinato de três radialistas: Jefferson Pureza Lopes, Jairo Sousa e Marlon Carvalho. Segundo o relatório, eles foram "vítimas da intolerância daqueles que temem a veracidade dos fatos".
Entre os radialistas executados e também os que foram intimidados, mas não foram mortos, há uma semelhança: todos os profissionais eram de cidades do interior do país e foram vítimas após a divulgação de críticas e denúncias contra autoridades públicas e políticos locais.
Segundo a pesquisa, em 2018, os casos de assassinatos tiveram um aumento de 200% em relação a 2017, quando foi registrada apenas uma morte.
O levantamento da ABERT mostra que agressões físicas, como empurrões, socos e pontapés, representaram a maioria dos casos (34,21%).
Em seguida aparecem as ameaças (16,66%) e depois os outros tipos de violações à liberdade de imprensa e de expressão no Brasil, como roubos, assédio sexual e intimidações.
Para a organização, importantes fatos de interesse público influenciaram na alta dos dados.
"O desconhecimento do real papel da imprensa – de informar a sociedade sobre fatos que impactam o seu cotidiano – e a intolerância foram responsáveis pelas agressões físicas e hostilidades contra os jornalistas que estavam em campo cumprindo sua missão", registra o presidente da ABERT, Paulo Tonet Camargo.
Pela primeira vez, desde 2007, quando a entidade lançou o primeiro relatório, uma nova categoria foi criada: os crimes virtuais contra jornalistas. Foram contabilizados 11 violações, desde divulgação de dados pessoais de jornalistas a xingamentos machistas e discriminatórios.
"Em um ano marcado por ânimos exaltados, particularmente pela disputa eleitoral, condenação e prisão do ex-presidente Lula e pela greve dos caminhoneiros, as notícias falsas e os discursos de ódio dominaram as redes sociais e grupos de mensagens", explica o documento.