Ricardo Nunes (MDB): político completa 100 dias de gestão na prefeitura de SP (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 10 de abril de 2025 às 14h25.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chega aos 100 dias de sua nova gestão apostando alto na segurança pública, que, não esconde, pretende ser uma das marcas de seu governo com o reforço na GCM e investimento pesado no Smart Sampa. No campo das obras, ao mesmo tempo que entregou promessas atrasadas do mandato anterior, o prefeito ainda deve à população a efetivação de algumas promessas feitas logo após a posse.
Entre uma entrega e outra, Nunes também encontrou tempo para investir na carreira política. Consagrado pelas urnas em 2024, quando venceu Guilherme Boulos (PSOL) com 3.393.110 votos (59,35%), o emedebista consolidou um movimento que já vinha fazendo na campanha de tentar aumentar seu protagonismo político para se consolidar como parte da direita, com ações que vão desde o discurso em uma Avenida Paulista lotada durante o ato por anistia convocado por Jair Bolsonaro (PL) — em manifestações passadas, Nunes preferia o silêncio e a discrição — até a defesa explícita de que seu partido desembarque do governo Lula (PT).
Agora, o prefeito vê seu capital político mais robusto, capaz até, segundo aliados, de almejar concorrer ao governo do estado em 2026 caso o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) decida disputar a presidência da República. Em março, ele disse que "as coisas podem mudar" quando questionado se deixaria a prefeitura para a disputa estadual.
"Quando que eu iria imaginar que o vice do Bruno Covas (então o próprio Nunes) iria perder o Bruno e virar prefeito. As coisas vão mudando, vão acontecendo", falou ele.
Com esse objetivo, Nunes passou a fortalecer a articulação regional com prefeitos da Região Metropolitana, tentando se colocar como uma espécie de representante dos interesses da Grande São Paulo, sobretudo em pautas nacionais, como a Reforma Tributária e questões previdenciárias, tendo se reunido em mais de uma ocasião com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do governo Lula.
O prefeito também dedicou mais atenção à comunicação, apostando alto nas redes sociais para divulgar sua rotina, entregas e opiniões, e escolhendo políticos como secretários em áreas estratégicas para garantir essa visibilidade maior.
E se durante a campanha eleitoral por vezes ele ficou com um pé em cada canoa, depois de assumir o cargo em 1º de janeiro a situação é diferente: Nunes se posicionou abertamente em favor da anistia para condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e disse que pedirá aos parlamentares do MDB para votarem a favor do tema.
O início do segundo mandato também significou desafios com a nova legislatura na Câmara Municipal, onde alguns vereadores que, mesmo sendo de partidos da base do prefeito, já demonstraram que nem sempre irão atender as vontades do Executivo.
Algum atrito já era esperado pela base governista, mas as dificuldades ficaram evidentes quando tentou aprovar, às pressas, a mudança do nome da GCM para Polícia Municipal, e teve problemas até com parlamentares de legendas como PL e União Brasil, que fizeram parte de sua coligação na eleição. A falta de acordo veio de vereadores como Rubinho Nunes (União), Lucas Pavanato (PL) e Adrilles Jorge (União), e irritou o prefeito, que cobrou sua liderança na Casa por uma melhor articulação. Algumas semanas depois, ele conseguiu votar o tema. Essa “pedra no sapato”, entretanto, ainda precisará ser testada ao longo do ano, porque a prefeitura mandou poucos projetos para o Legislativo até agora.
Nas entregas, o principal foco foi a segurança. A menina dos olhos do prefeito neste início de mandato tem sido o Smart Sampa, programa de monitoramento por câmeras com reconhecimento facial. Além de aumentar o número de equipamentos pela cidade, foi criado um “prisômetro” para contabilizar as prisões viabilizadas por meio da tecnologia.
Em outra frente, foi reforçado o patrulhamento da Guarda Civil Metropolitana na Avenida Paulista, principal foco de furtos de celulares na capital, e no entorno de escolas municipais, além de enveredar esforços para mudar o nome da corporação para Polícia Municipal — iniciativa barrada pela Justiça. Outra entrega de destaque foi o Mamãe Tarifa Zero, promessa de campanha de Nunes.
Outros equipamentos municipais entregues entre janeiro e abril foram, na verdade, inaugurados com atraso, pois estavam previstos no Programa de Metas da gestão anterior. Foi o caso do Centro para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que estava prometido para ser liberado para a população no fim de 2024, mas foi aberto somente na semana passada.
No período, a gestão também entregou 215 novos ônibus elétricos, uma parcela pequena da promessa feita na gestão anterior de substituir 20% da frota de ônibus a diesel da cidade por elétricos. Outro foco do primeiro trimestre foi a habitação, com quase três mil novas habitações entregues entre janeiro e esta sexta-feira.
As entregas, no entanto, ficaram longe do que Nunes previu em 2 de janeiro, quando fez uma reunião com todo o seu secretariado para definir as prioridades para os cem dias. Na ocasião, a ideia era entregar três Centros Educacionais Unificados (CEUs), mas apenas um será inaugurado nesta quinta (10), na Zona Leste. Será o primeiro equipamento do tipo entregue por Nunes, que terminou a gestão anterior sem tirar do papel os CEUs prometidos.
Já na saúde, a meta era abrir três novas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e foram entregues duas. Na mobilidade, o corredor de ônibus Imirim, na Zona Norte, também ainda não foi concluído, bem como os viadutos João Beiçola e Dante Delmanto, ambos na Zona Sul. A gestão também previa começar obras como o BRT Aricanduva, e a ligação viária Graúna Gaivotas, mas nada disso aconteceu. Já a licitação do corredor Miguel Yunes foi retomada.
Nesta quinta, Nunes disse estar satisfeito com as entregas feitas nesses 100 dias, ponderando que algumas entregas devem ser feitas nos próximos dias.
"Eu não tive tempo de inaugurar ou tem algum pequeno detalhe de ajuste, ou quando chega a publicação de um edital de licitação, um dia, dois dias, cinco dias de diferença, isso não importa muito pela complexidade que é fazer um edital, fazer as audiências públicas, arrumar o recurso, conseguir os licenciamentos, como é o BRT Aricanduva. Às vezes, depende da quantidade de recursos que tem. Mas a licitação foi concluída".
Por outro lado, os primeiros meses do novo governo tiveram brigas judiciais. Um dos temas que mais marcaram esse início de segundo mandato foi o mototáxi. Tudo começou quando a 99 começou a oferecer, em 14 de janeiro, a opção de transporte por moto em seu aplicativo. Imediatamente Nunes anunciou que o serviço estava proibido por conta de um decreto editado em 2023 que proíbe a modalidade na cidade. O prefeito criticou as empresas de aplicativo, fez campanha institucional contra o modal, enquanto as empresas enveredaram uma agressiva campanha de marketing para defender seu ponto.
De lá para cá, houve decisões judiciais contra e a favor da prefeitura, e atualmente o modal está suspenso, mas como o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) ainda precisa decidir o tema em definitivo e também deve haver discussão sobre isso na Câmara Municipal, a crise do mototáxi na cidade de São Paulo está longe de concluída.