Eleições 2018: mesmo com a crise política que afeta o país, a maioria dos governadores vai disputar a reeleição neste ano (Reprodução/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de agosto de 2018 às 12h01.
Mesmo sem conseguir equacionar a crise que marca as finanças nos estados, com queda de arrecadação e aumento de despesas com itens como a folha de pagamento de servidores públicos, a maioria dos governadores vai disputar a reeleição neste ano, de acordo com levantamento feito pelo Estado. Nos 26 estados e no Distrito Federal, 16 governadores vão tentar um novo mandato - o maior número desde o pleito de 2006, quando 17 apostaram na reeleição.
Em um período de três anos, as contas dos estados saíram de um resultado positivo de R$ 16 bilhões para um déficit de R$ 60 bilhões no fim de 2017. Além de gastos em alta, os governadores que saírem com vitória das urnas em outubro terão de herdar também os efeitos de uma das piores recessões da história recente do país, que custou aos estados R$ 278 bilhões entre 2015 e 2017.
Diante de números tão negativos, que poderiam afetar a preferência dos eleitores, a explicação dada por analistas é de que existe uma desvinculação dos Executivos estaduais do cotidiano da população, acostumada a culpar mais as gestões municipais e federal pelos problemas na prestação de serviços e na administração do caixa público. "Os governos estaduais são essencialmente prestadores de serviço e administradores de parte da infraestrutura do Estado", disse o cientista político Fernando Schüler, do Insper.
"Isso faz com que o índice de reeleição dos governos seja favorável", afirmou Schüler. Segundo ele, o fato de os Estados não serem responsáveis por formular políticas econômicas, questões como o desemprego acabam não sendo vinculadas aos governadores. "Mesmo com um presidente mal avaliado, o governador pode oferecer retórica positiva que o afaste da crise."
A deterioração das contas atinge a maioria das administrações, mas é mais nítida em Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte - onde desde 2015 falta dinheiro para pagar em dia os salários de quase 100 mil trabalhadores com vínculos com o Executivo local e o décimo terceiro de 2017 ainda não foi depositado para quem ganha acima de R$ 4 mil. Como alternativa, o governador Robinson Faria tem recorrido ao Fundo Financeiro do Instituto de Previdência dos Servidores Estaduais. Desde que assumiu o cargo, em 2015, ele já sacou R$ 1 bilhão desse fundo.
Filiado ao PSD, Faria é um dos atuais governadores que vai se lançar à reeleição, desta vez embalado por uma coligação de 12 partidos, entre eles, o PSDB, PRB, PTB e PR. Procurado, o governador não falou sobre a situação do Estado até a conclusão desta edição. Mas, durante a convenção que confirmou seu nome ao governo potiguar, disse que o enfrentamento da crise o impediu de entregar as obras prometidas.
O fato de os governadores não serem identificados com as crises, na avaliação de Schüler, ajuda partidos nacionalmente afetados pela recessão, como é o caso do PT. "Apesar de todas as questões do PT, seus governadores vão bem nas pesquisas, mesmo que nacionalmente o partido tenha recuado", afirmou ele. É o caso do governador da Bahia, Rui Costa (PT), que tentará mais quatro anos. "Não posso comentar a decisão dos outros 15 governadores, mas tenho a convicção de que tomei a decisão acertada. Atendi à vontade de um grande grupo político e da maioria dos baianos, que tem avaliado positivamente minha gestão", afirmou ele.
Exceção nesse panorama, segundo Schüler, é o Rio Grande do Sul, que desde 1998 nunca reelegeu um governador. "Lá o déficit fiscal é um problema crônico. Trata-se de um Estado que presta mal os serviços, onde é difícil governar e fazer reformas. Sartori tentou fazer algumas, mas não teve sucesso." Falando em continuidade e de "não fugir da raia", o governador gaúcho José Ivo Sartori (MDB) também oficializou a sua candidatura à reeleição.
"Fui chamado a concorrer à reeleição para dar continuidade aos projetos de modernização de gestão e controle da máquina pública", disse ele ao Estado. No primeiro semestre de 2018, mesmo com a ênfase ao ajuste fiscal, o rombo mais do que dobrou em relação a igual período de 2017. A previsão é que o novo governador tome posse com um buraco avaliado em R$ 4 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.