Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 21 de setembro de 2024 às 12h25.
Última atualização em 21 de setembro de 2024 às 13h43.
Após o episódio da cadeirada no debate da TV Cultura e as últimas pesquisas mostrarem uma queda no percentual de votos e o aumento da rejeição, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) parece recalcular a rota para tentar atrair mais eleitores e superar Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) na disputa em São Paulo, segundo análises de Cila Schulman, presidente do instituto de pesquisa Ideia, e de Renato Meirelles, presidente do instituto Locomotiva, no programa Eleições 2024 da EXAME.
"A reação do Pablo Marçal foi mais importante do que a cadeirada em si. Quando ele se compara com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com a facada, sendo que o primeiro caso foi atentado grave e o segundo foi uma briga entre candidatos, ele atrai uma rejeição do eleitor", diz Schulman.
Após deixar o debate da Cultura no último domingo, Marçal foi levado de ambulância ao hospital Sírio-Libanês. Um vídeo divulgado em seu Instagram mostrou o candidato deitado em uma maca, com expressão de dor e uma máscara de oxigênio.
Em boletim médico, o hospital informou que Marçal sofreu um trauma no tórax e no punho "sem maiores complicações".
Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Ideia, 68% das menções tiveram viés negativo a Marçal, enquanto 32% foram positivas. Foram coletadas 13,7 mil reações entre os dias 18 e 19 de setembro. Nesta semana, o candidato confessou que foi feito "uma cena" e que ele conseguiria ir "correndo para o hospital".
"Por mais que todos os eleitores achassem que o José Luiz Datena (PSDB) errou, na prática, a maioria entendeu que Marçal também estava merecendo. É como se fosse aquele aluno da 5ª série D que fizesse bullyng com todo mundo e levasse uma porrada de um coleguinha mais fraco", diz Meirelles.
Durante o encontro do SBT, realizado na última sexta-feira, 20, Marçal afirmou que pretende adotar uma nova postura a partir de agora. Segundo o ex-coach, a campanha "começa agora", e ele já mostrou a sua "pior versão" para a população. Agora, ele deseja provar que tem postura de governante.
Schulman avalia que a ideia de Marçal de mudar a imagem pode gerar uma reação negativa do eleitor, mas salienta que isso mostra uma leitura do candidato de que a sua postura não estava mais dando o resultado.
"Entendo o que ele está fazendo, mas a gente que trabalha com comunicação política sabe que isso é o que o eleitor não gosta, por não entender direito quem é o candidato, que muda de imagem em um espaço tão curto de tempo. A minha hipótese é que essa estratégia não vai funcionar", afirma Cila.
O CEO do Locomotiva coloca que a estratégia de Marçal no início da campanha foi atrair a atenção, mesmo que fosse de forma negativa. Mas nesse momento da corrida eleitoral, o candidato do PRTB precisa mostrar mais.
"Agora não basta mais a lógica do falem mal, mas falem de mim. É necessário que as pessoas falem bem dele, mas para isso, para além de parar de agredir os colegas, ele precisa de propostas mais eficientes que um teleférico", afirma Meirelles.
Segundo o estudo Mulheres na cidade, da W.LAB, uma parceria entre o Locomotiva, Ideia e PiniOn, a maioria da população brasileira, composta por mulheres, decide o voto de forma diferente dos homens.
Por serem mais impactadas pelas políticas públicas na vida cotidiana, o racional por trás da decisão de voto está muito mais ligado às possíveis entregas para melhorar sua vida do que, necessariamente, a uma posição política polarizada entre esquerda o direita.
Ao relacionar o levantamento com a corrida de São Paulo, Cila aponta que Marçal tem como um dos principais desafios conquistar o voto feminino. E apesar de ter uma vice mulher, a sua postura e discurso bélico afastam as eleitoras, que no geral estão preocupadas com as propostas e políticas públicas para a cidade.
"Ele já não tinha o voto das mulheres, mas passa a cair entre as eleitoras, além de aumentar a sua rejeição. Esse é um desafio, ainda mais depois da cadeirada, que ele não parece que vai superar", diz a presidente do Ideia.
Sobre Boulos, Cila aponta que as propostas relacionadas à saúde e às área sociais, aliadas à presença de Marta com um papel central na campanha, cumprem o papel de tentar trazer essas eleitoras.
"Ele consegue navegar bem melhor na questão das mulheres", diz.
Em relação a Nunes, a presidente do Ideia avalia que as entregas de obras do atual prefeito pela cidade atraem o público feminino, que vê as mudanças em seu cotidiano.
Meirelles acrescenta que pesquisas mostram que a maioria dos eleitores que ainda estão indecisos nos levantamentos espontâneos são mulheres das classes C e D, que historicamente decidem o voto perto da eleição.
"Algumas pessoas falam que essas mulheres não estão interessadas, mas isso não é bem verdade. Essas mulheres querem pensar melhor, querem olhar para as propostas e entender de fato quem tem condições de melhorar as condições no seu bairro, na sua rua e na escola dos seus filhos", explica.
O especialista aponta que esses são os votos que estão em aberto neste momento da disputa, e por isso as campanhas precisam oferecer políticas públicas que dialoguem com essas mulheres para atrair o voto.
"As campanhas precisam olhar com atenção para as mulheres da periferia, porque, no limite, são elas que decidirão o resultado das eleições", conclui.
O episódio ainda discutiu as estratégias de Boulos e Nunes, o impacto da cadeirada para Datena e os dados do estudo do Ideia e do Locomotiva "Mulheres na cidade", que fala sobre como as eleitoras pensam para decidir o voto.