Doria e Alckmin: "padrinho" do novo prefeito de São Paulo terá que disputar espaço com Serra e Aécio dentro do PSDB (Divulgação/PSDB)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2016 às 07h41.
Brasília - Triunfo político do governador Geraldo Alckmin, a vitória de João Doria no primeiro turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo trouxe à tona a rivalidade no PSDB.
Na legenda tucana, o resultado na maior cidade do País, que fortaleceu Alckmin como possível candidato à Presidência em 2018, precipitou nos bastidores uma disputa que, a princípio, ocorreria somente no ano que vem. Em maio de 2017, o partido vai eleger uma nova direção Executiva Nacional.
O comando do partido é considerado um grande trunfo para a definição do próximo presidenciável tucano.
Além do governador paulista, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e o senador Aécio Neves (MG) postulam a indicação do partido como candidato em 2018. Logo após o resultado em São Paulo, Alckmin introduziu o tema sucessão presidencial ao defender as prévias partidárias.
Aécio, que é o atual presidente nacional do PSDB, foi na segunda-feira, 3, na mesma linha. "No nosso estatuto estão previstas as prévias. A prévia pressupõe uma questão para que exista mais de uma candidatura colocada formalmente. Se isso ocorrer, dentro do que estabelece o estatuto do partido, ela deve ser vista como uma oportunidade de um debate democrático", disse o senador em Belo Horizonte.
"Tanto eu, Geraldo (Alckmin), (José) Serra, todos nós estimulamos esse debate, e a prévia pode ser um bom caminho. Mas, neste momento, não é correto nem é justo com as nossas lideranças anteciparmos 2018."
Com o patrocínio do governador de São Paulo, Doria foi eleito com 53% dos votos válidos, na primeira vez que a eleição na capital paulista foi decidida na primeira fase. O empresário não teve apoio do grupo de Serra e somente na reta final recebeu manifestações de outros caciques tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Aníbal (SP). Serra não entrou na campanha.
À coluna Direto da Fonte, do jornal O Estado de S. Paulo, FHC classificou na segunda-feira, 3, o triunfo no primeiro turno mais como "uma vitória pessoal" de Doria, embora beneficie o partido.
Doria fez um discurso conciliador após confirmada sua eleição. Na segunda-feira, 3, o prefeito eleito disse ter estima pessoal por Serra, mas afirmou que não recebeu dele um telefonema de cumprimentos pela vitória.
O ministro, que estava em viagem oficial à Argentina e ao Paraguai, integrando a comitiva do presidente Michel Temer, evitou comentar o assunto.
"Eu não tenho interesse (em falar de eleição). Eu sou ministro do governo e estou preocupado com questões de Argentina e Paraguai", afirmou.
Questionado se pretendia ligar para Doria, Serra evitou responder diretamente e disse que " muita gente do PSDB deve ter ido para o segundo turno ou ganhado".
Para o vice governador Márcio França, presidente do PSB paulista e operador político de Alckmin no plano nacional, a vitória no primeiro turno "exportou" o governador paulista para o Brasil como o responsável pela maior vitória contra o PT. "Alckmin já é o grande vitorioso de 2016. A eleição de Doria foi a única que teve repercussão nacional", disse.
Doria concorda com a tese. "Não quero nacionalizar, mas não vou negar que a vitória no primeiro turno contribui para o PSDB nacionalmente. A capital do País é a cidade mais importante. É uma reafirmação do PSDB em território do PT. O berço do PT é aqui", disse ao jornal O Estado de S. Paulo na véspera da votação.
Na Executiva Nacional do PSDB, a ideia de antecipar a discussão sobre 2018, porém, é tratada por alguns como "intempestiva" e "inapropriada". "É evidente que o Geraldo se fortalece com a vitória em São Paulo. O Aécio também porque teve resultados bons em Minas, mas a disputa de 2018 está muito longe. Temos que pensar em outubro de 2016. Temos um enorme rio para atravessarmos", disse o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, do grupo de Serra.
Cotado para substituir Aécio no comando do PSDB em 2017, o senador Cássio Cunha Lima (PB) também considerou que o partido deve se concentrar, neste momento, nas disputas de segundo turno. "É preciso esperar que se encerre o processo eleitoral. A eleição acabou na principal cidade, mas ainda acontece em várias outras. Não tem lógica fazer uma discussão interna, quando se está num embate externo. É preciso manter a tropa alinhada", disse o senador.
O PSDB ainda disputa o segundo turno em oito capitais: Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Maceió, Manaus, Porto Alegre, Belém e Porto Velho.
Para se contrapor ao triunfalismo dos aliados de Alckmin, Aécio tentou capitalizar o bom resultado do PSDB nacional. "Essa foi a mais consagradora vitória que o PSDB teve desde 2004, quando já não estávamos no governo federal", afirmou.
Além da resistência de alguns líderes em avançar neste momento na discussão sobre a realização de prévias, integrantes da cúpula do PSDB lembram que, até o momento, não há nenhum critério ou modelo definido para a sua realização.
"Se fizermos prévias, vamos ter que estabelecer peso e valor para cada um dos Estados. Não precisamos disso. Aqui o Aécio ganhou na última eleição presidencial por 51% e no segundo turno com 70% do votos. Qual seria o peso de Santa Catarina numa prévia? O peso dos filiados ou eleitoral? Não concordo que seja o critério dos filiados porque aqui o PT nunca ganhou eleição para presidente", disse o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.