O ex-deputado federal Enéas Carneiro, que morreu em 2007 (Antônio Cruz//Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de junho de 2018 às 09h47.
Última atualização em 24 de junho de 2018 às 09h47.
São Paulo - "Meu nome é Enéas!" foi a frase que traduziu os sentimentos de preocupação, indignação e raiva nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998. Segundo o especialista em marketing político Carlos Manhanelli, o mote de Enéas Carneiro (1938-2007) teria sido o catalisador das emoções negativas durante pleitos passados. "Era algo tão forte que as pessoas começaram a adotar no seu cotidiano, quando diziam alguma coisa mais dura e completavam afirmando 'meu nome é Enéas'", lembrou. "Era quase um desabafo, um anseio."
Para Manhanelli, o efeito "meu nome é Enéas" aparece nessas eleições em diversas formas e candidaturas. "O ambiente político está contaminado por essa indignação, mas ela, sozinha, não ganha eleição. O que vai fazer diferença são os projetos, os programas de governo. Esses elementos ainda não apareceram nessa campanha. Por enquanto, está tudo na base das alfinetadas entre os pré-candidatos", disse.
Para o consultor e estrategista político Felipe Soutello, o vencedor da próxima corrida presidencial será aquele que conseguir "transpassar" esses sentimentos negativos. Na opinião dele, esses sentimentos ainda são oriundos das jornadas de junho de 2013. "Desde aquele período, a bússola da política ficou desorientada. As pessoas estão enxergando que o sistema está carcomido por dentro. Então, não é exagero nenhum dizer que todo mundo está um pouco perdido."
Por conta do ambiente conturbado, Soutello acredita que o eleitor pode buscar um antídoto para esse estado de ânimo em opções mais tradicionais. "A gente ainda está tateando o terreno eleitoral deste ano, mas penso que o eleitor vai buscar alguém que venha de uma composição política mais tradicional e tenha um discurso mais tradicional de centro."
O vazio
A frustração com a política está na origem da indignação, da raiva e do medo captados pelo levantamento do Ipespe. Essa é a opinião do psicanalista Jorge Broide. "O perigo disso é o eleitor procurar exatamente aquele candidato que prometa 'tapar o vazio que estamos sentindo'. Não tem que ser assim."
Para Broide, o destempero de alguns candidatos durante o período pré-eleitoral está na confusão que existe entre "autoridade" e "autoritarismo". "A autoridade é algo bom. Alguém que é uma autoridade em algo é alguém com muito conhecimento e capacidade. Já o autoritário é um tirano, alguém que não respeita o outro."
O psicólogo Nelson Destro Fragoso disse que é preciso saber ouvir e respeitar o sentimento da sociedade nessa eleição. "O sentimento é de 'basta'. O candidato que se associar a isso vai ter chances de vencer as eleições de outubro."As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.